Por Edmilson Palermo Soares
Quando pensamos na Austrália, as primeiras coisas que vem a cabeça são cangurus e desertos.
Mas será que lá tem produção de vinhos?
Sim… e tem vinhos muito bons.
A história da vinicultura na Austrália começa no século XIX, quando os primeiros colonos britânicos trouxeram videiras para a Nova Gales do Sul. A produção de vinhos no país enfrentou desafios iniciais, como o clima e o solo pouco favoráveis. No entanto, os viticultores desenvolveram técnicas de cultivo adaptadas às condições locais.
A chegada de colonos livres de várias partes da Europa nos anos 50, principalmente italianos, transformou a produção viticultura da Austrália, aumentando a qualidade dos vinhos locais.
O clima parecido com o mediterrâneo em diversas partes do país fez com que as videiras crescessem e se desenvolvessem de maneira propícia para a produção de vinhos.
A Austrália não sofreu com a filoxera (inseto tipo pulgão, mas falaremos em um artigo sobre essa praga) em algumas regiões, o que fez com que o país se tornasse rico em vinhas velhas.
Lá se testou as tampas metálicas como uma alternativa à cortiça, devido ao alto custo e problemas de contaminação de rolhas. Atualmente, 99% das garrafas vendidas na Austrália são fechadas com screw caps.
Austrália: quinto maior produtor mundial
O país é o quinto país no ranking de produção mundial, segundo a Organização Internacional do Vinhos (OIV), tendo ultrapassado a Argentina em 2017. Poucos rótulos chegam no Brasil, pois a maioria é exportada para Estados Unidos e Reino Unido.
Eles têm a má fama de produção industrial de vinho barato em vinhedos irrigados que ocupam imensas planícies, que é verdade, mas tem muito mais que isso a ser oferecido para o mercado.
Os produtores voltaram as atenções para regiões mais frias, como Margaret River, Tasmânia e Vitória, que viu o renascimento da sua atividade vinícola.
A principal uva é a Shiraz, nome pelo qual a Syrah é conhecida no país. São vinhos tintos potentes, produzidos em zonas de clima quente.
Entre as tintas temos também a Cabernet Sauvignon, normalmente num estilo “Novo Mundo“, seja em monovarietal, em corte com a Merlot, ou um corte Syrah/Cabernet (criação australiana).
Entre as brancas, a Chardonnay se adaptou tanto ao clima tropical, quanto ao temperado, e é a mais cultivada no país. Sauvignon Blanc, Semillion e Riesling possuem focos de relevância em regiões de clima mais fresco.
O sistema de classificação de vinhos do país se chama Geographical Indications (GI), que como o nome sugere somente especifica a origem do vinho, mas não regula outros aspectos de produção (como estilos, variedades de uva, formas de cultivo ou de vinificação). As GIs são categorizadas nos seguintes níveis: extra-estadual, estado, zona, região, sub-região.
Barossa Valley é a GI mais famosa, e concentra os vinhedos e vinícolas mais antigos do pais. É uma região plana e baixa, e de clima predominantemente continental.
A ilha da Tasmânia é o estado mais meridional da Austrália. O clima é significativamente mais frio que o restante do país, sendo propício para variedades de clima frio, como Pinot Noir, Chardonnay, Riesling, Sauvignon Blanc. Pinot Noir e Chardonnay têm o destaque devido também à produção de espumantes.
A Syrah, conhecida e batizada como Shiraz na Austrália, possui a potência e a profundidade da Cabernet Sauvignon, sem aqueles quase indomáveis taninos, os aromas explosivos e sutis complexidades da Pinot Noir. Uma casta que produz grandes vinhos nos quatro cantos do mundo. Na Austrália, ela é plantada em todas as regiões do país.
O estilo do Shiraz australiano é sempre mais profundo e encorpado se comparado com seus “irmãos” franceses. Para os apreciadores de vinhos potentes e cheios de vida, é uma grande pedida.
Vamos lá, experimente os vinhos australianos. Sugiro que conheça os vinhos da vinícola Lone Kangaroo. Aqui, na minha loja, temos o Cabernet Sauvignon e o Chardonnay que merecem ser provados.
Um brinde!
Edmilson Palermo Soares
Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral. Me siga nas redes sociais: no Instagram @contaverna, Facebook Confraria da Taverna e Linkedin
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