Por Ana Paula Barcellos
Aconteceu o que eu jamais imaginei: pela primeira vez na vida, estou comprando mais roupa em lojas (inclusive de SHOPPING) que em brechós. Logo eu, que garimpo desde 1996, quando nem se falava nisso. A razão? A falta de bom senso e os valores proibitivos, que estão cada vez mais se aproximando dos preços das lojas que vendem roupas novas.
Vamos combinar uma coisa: brechó é brechó, não é butique. A ideia de comprar roupas usadas sempre foi associada a peças acessíveis, com histórias e, claro, preços mais em conta. Mas parece que alguém esqueceu de avisar isso para alguns donos de brechós, que resolveram entrar numa espécie de delírio coletivo e cobrar preços de roupa nova por peças que já rodaram bastante – ou que ficaram esquecidas em armários e depósitos por anos.

Vamos fazer um paralelo simples: você compra um carro zero-quilômetro, sai da concessionária e, no mesmo instante, ele já perde uma boa parte do valor. Com roupas, é parecido. A menos que seja uma peça única, de grife, com certificado de autenticidade e uma história incrível, não tem como justificar preços abusivos. Um vestido de malha, curto, mesmo que seja da FARM, não pode custar R$ 80 em um brechó. Calça jeans remendada por R$ 40 só porque é da Les Lis Blanc? Não, não e não.
O que aconteceu foi o seguinte: comprar em brechós virou tendência. E, com isso, alguns estabelecimentos começaram a se achar no direito de inflacionar os preços como se estivessem vendendo peças exclusivas. Só que não é bem assim. A menos que você esteja diante de um casaco de couro impecável, em perfeito estado, não há motivo para pagar uma fortuna em algo que já foi usado, lavado e guardado – muitas vezes sem muito cuidado.
Preços absurdos afastam compradores dos brechós
E aqui entra um ponto importante: o verdadeiro conceito de moda circular. A ideia é justamente prolongar a vida útil das peças, reduzir o desperdício e promover um consumo mais consciente. Mas, quando brechós cobram preços absurdos, eles estão indo na contramão dessa filosofia. Em vez de incentivar as pessoas a comprarem usados, eles afastam quem quer aderir à moda sustentável. E aí, qual é o sentido?

E cobrar caro por sapatos de brechó, então? É o fim do fim. Quem nunca passou raiva por ir a um casamento usando um sapato que passou o ano todo no armário? Agora imagine pagar caro por esse sapato!
Aliás, um conselho que pode salvar seus pés: evite comprar sapatos em brechós. Mesmo que pareçam novos ou estejam em bom estado, sapatos usados já têm o formato do pé de outra pessoa. E, acredite, isso pode causar desconforto, dores e até problemas de postura. Além disso, sapatos guardados por muito tempo podem ressecar, perder a flexibilidade e até rachar com o uso. Ou seja, não vale o risco.
E é isso: antes de pagar um valor absurdo em uma peça de brechó, pense duas vezes. Será que ela realmente vale o preço? Será que não é melhor investir em algo novo ou procurar outro lugar com preços mais justos? A moda circular é uma ideia incrível, mas só funciona quando todos fazem a sua parte – inclusive os brechós, que precisam lembrar que, no fim do dia, estão vendendo peças usadas, e não relíquias de museu.

Pra não ser injusta, faz tempo que não vou a alguns brechós daqui, por isso prometo ampliar meus garimpos nas próximas semanas e trazer a versão atualizada da lista de brechós que ainda valem a pena nessa cidade – espero que saia uma lista!
E você, já se deparou com preços absurdos em brechós? Conte nos comentários – ou melhor, no café da manhã, porque essa coluna é só o começo da conversa.
Foto principal: wayhomestudio/Freepik
Ana Paula Barcellos

Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram Me siga no Instagram @experienciasdecabide e @yopaulab
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