Com a música do Chico na cabeça e a convicção que a gente não vive, vai levando…
Mirella Fontana
O LONDRINENSE
Eu não sei se é falta de vergonha na cara, conformismo barato, a estranha mania de fazer piada com tudo, alienação ou estamos anestesiados. A impressão que tenho é que nada mais nos abala, nada mais nos deixa indignados, a gente simplesmente vai levando, assistindo de camarote e esquecendo hoje, o que aconteceu ontem.
Mesmo com toda lama…
Lama é o que não falta por aqui. Assistimos neste final de semana mais uma medida populista ser aprovada pela queridíssima Câmara de Vereadores e lá se vão mais R$ 25 milhões para as empresas de ônibus. Mais R$ 25 milhões? Sim, não se esqueça que em dezembro foram gentilmente repassados R$ 21 milhões! Mas, claro, tudo isso é para que o usuário de transporte coletivo seja beneficiado, afinal, que diferença tem eles passarem 25 centavos pra você e 25 milhões pra eles!?
Com toda Brahma
Se foi Brahma, Skol, Heineken, Stella ou Amstel, tanto faz, mas em dezembro a gente esqueceu da pandemia, foi pro boteco, abraçou e beijou. Mas, estávamos cansados, carentes e com aquela sensação de que “a gente merece” e o resultado tá aí…nova onda de Covid.
Mesmo com o nada feito
O problema é que a gente não faz nada, vê tudo, mas fazer que é bom, nada. E esquece numa rapidez constrangedora! Não fazemos nada a não ser reclamar no Facebook e se reclamar demais é suspenso, toma gancho. A gente senta, assiste e não pensa, simplesmente engole, porque pensar cansa e já andamos cansados demais, né? É gasolina, IPTU, conta de luz, supermercado…tudo um absurdo! E daí? Trabalhamos mais, trabalhamos em dobro, o que importa é que a economia gire, nem que você rale seis meses só pra pagar impostos.
Com um nó no peito
A gente vive com nó no peito, no coração e no bolso, mas vive, não tão bem quanto gostaríamos. Escolhe que conta vai deixar de pagar no mês, cancela plano de saúde e comemora que chegou a sexta, que o ano maldito acabou, que o time ganhou. Briga com a família por política, vira a cara pro vizinho, chama de comunista os que são contra o presidente, de bolsominion os que são a favor, e ficando cada dia mais sozinho, dentro da bolha que reúne apenas os que seguem a mesma linha de pensamento.
Não tem mais jeito
E encerro essas linhas, um tanto pessimistas pra uma segunda-feira, sabendo que:
“Não tem mais jeito;
A gente não tem cura;
Mesmo com o todavia;
Com todo dia;
Com todo ia;
Todo não ia;
A gente vai levando;
A gente vai levando;
A gente vai levando…”
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