Por Edmilson Palermo Soares
Vamos conhecer mais uma região vinícola de Portugal: a da Bairrada, que está localizada na região da Beira Litoral, entre os rios Vouga e Mondego, com influência marítima.
É uma região plana que se desenvolve numa faixa litoral marítima, de marcada influência atlântica, com chuvas abundantes e temperaturas médias suaves. Foi uma das primeiras regiões nacionais a adaptar e a explorar os vinhos espumantes, estilo que continua a ser escolhido na região.
Os solos dividem-se entre os terrenos argilo-calcários e as faixas arenosas, consagrando estilos diversos de acordo com a predominância de cada elemento. As propriedades encontram-se divididas em milhares de pequenas parcelas.
O clima fresco e úmido favorece a elaboração de espumantes, proporcionando uvas de acidez elevada e baixa graduação alcoólica.
Na região convivem duas filosofias concorrentes:
- Os vinhos de estilo clássico, baseados na maioria na casta Baga;
- Os novos vinhos da Bairrada, utilizando uma multiplicidade de castas de origem nacional e internacional (Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e Syrah).
A casta branca predominante é a Fernão Pires (denominada Maria Gomes na região). Logo seguida de Arinto, Bical, Cercial e Rabo de Ovelha.
Nos tintos, domina a casta Baga, acompanhada por Alfrocheiro, Tinta Pinheira e Touriga Nacional.
A Baga é a variedade tinta dominante e o maior diferencial é o seu potencial de envelhecimento, que pode atingir os 30 ou 40 anos facilmente. Ela é utilizada na elaboração de vinhos tranquilos e espumantes.
A viticultura na Bairrada existe desde pelo menos o século X, quando a região conquistou independência dos mouros.
O Rei Dom Afonso Henriques autorizou o cultivo de vinhas instituindo um imposto de um quarto da produção que deveriam ser pagos a coroa.
Em 1760, o Marques de Pombal mandou arrancar os vinhedos da região para proteger os vinhos do Porto.

No reinado de D. Maria (1734/1816), voltaram a serem plantadas após o decreto de D. Maria I revogando o anterior. Os vinhos eram exportados em grande quantidade para o Brasil, onde eram muito apreciados. Também eram muito exportados para a América do Norte, França e Inglaterra.
Em 1867, o enólogo António Augusto de Aguiar estudou os sistemas de produção de vinhos e definiu as fronteiras da região. Em 1887, vinte anos mais tarde, fundou a Escola Prática de Viticultura da Bairrada, destinada a promover os vinhos da região e melhorar as técnicas de cultivo e produção de vinho. O primeiro resultado prático da escola foi a criação de vinho espumante, em 1890.
A região foi delimitada em 1951 como Zona da Beira Litoral) e demarcada oficialmente em 1979, como Denominação de Origem Controlada (DOC Bairrada) para vinhos tintos e brancos, possuindo também uma Indicação Geográfica: IG Beira Atlântico.
Os espumantes foram incluídos na DOC em 1991.
Vinho da Bairrada e suas especificações
Em 2012 foi publicada a Portaria n.º 380/2012, que atualiza a lista de castas permitidas para elaboração dos vinhos DOC Bairrada. Foi incluída recentemente uma autorização para o cultivo das castas internacionais Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Petit Verdot e Pinot Noir e das portuguesas Touriga Nacional, Castelão, Rufete, Camarate, Tinta Barroca, Tinto Cão e Touriga Franca.
Vinhos elaborados com castas que não estejam relacionadas no Decreto-Lei, não podem receber o selo de DOC Bairrada e são rotulados com o selo Vinho Regional Beira Atlântico.
As vinhas utilizadas para a elaboração dos vinhos da Bairrada devem ter no mínimo quatro anos de enxertia. A irrigação na região só pode ser efetuada em condições extremas. Para isso, o produtor precisa de uma autorização prévia da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) e reconhecidas pelo Intitulo da Vinha e do Vinho.
O DOC Bairrada é fixado em 55 hl para o vinho tinto e 70 hl para o branco, rosado e espumante. Passado desse montante, o vinho engarrafado é rotulado como Vinho de Mesa.
O vinho base para espumantes naturais devem ser elaborados através das castas:
- Recomendadas: Arinto, Baga, Bical, Cercial, Maria-Gomes e Rabo-de-Ovelha;
- Autorizadas: Água-Santa, Alfrocheiro-Preto, Bastardo, Castelão, Cercialinho, Chardonnay, Jean, Moreto, Preto-Mortágua, Tinta-Pinheira ou Trincadeira.
Vinhos tintos da Bairrada costumam ser bem estruturados, ricos em taninos, encorpados com aromas intensos e complexos.
Vinhos brancos jovens são frutados e leves e quando envelhecidos apresentam notas resinosas e se mostram mais encorpados e com estrutura mais complexa.
Vinhos espumantes da Bairrada têm ganhado destaque, caracterizando-se por sua frescura, elevada acidez, notas frutadas e florais quando jovem, adquirindo aromas tostados e complexos quando envelhecidos. Costumam apresentar uma cremosidade e mineralidade bem-marcada.
Os espumantes são produzidos pelo método clássico e dependendo da quantidade de açúcar residual, são classificados como Brut, Seco ou Semi-seco, sendo a maioria Brut.

Vinhos rosés apresentam aromas frutados, frescos, moderada acidez e quando são elaborados com a variedade Baga apresentam bastante tipicidade.
O grande responsável pelo fortalecimento internacional da região é o enólogo Luís Pato e sua filha, Filipa Pato. Conhecido como o Mr. Baga, Pato tem um trabalho minucioso sobre as uvas, tudo para conseguir um vinho autêntico com o mínimo de interferência externa.
A região tem investido no desenvolvimento do enoturismo, com rotas que incluem vinícolas, adegas, restaurantes e atrações turísticas, além de valorizar o famoso “Leitão da Bairrada”.
Que tal uma experiência com vinhos da Bairrada?
Saúde!
Edmilson Palermo Soares


Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral. Me siga nas redes sociais: no Instagram @contaverna, Facebook Confraria da Taverna e Linkedin
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