Por Ana Paula Barcellos
Faz tempo que não escrevo sobre desfiles e as temporadas de alta costura, mas essa Paris Fashion Week fez eu me animar! Nessa mais recente edição, o designer Willy Chavarria, por quem já babei por aqui, apresentou sua tão aguardada coleção intitulada “Tarântula”. Com uma proposta com um pezinho “ousado” que combina o urbano ao sofisticado, Chavarria (que sim, é um dos meus designers favoritos atualmente) trouxe para a passarela uma experiência sensorial que transcendeu a simples exibição de roupas no desfile, prova irrefutável do talento de Willy e também uma celebração da diversidade e da complexidade da moda contemporânea.

As influências do trabalho de Chavarria são multifacetadas, mas, em “Tarântula”, claramente se manifestou uma fusão entre elementos da cultura pop e referências artísticas com um toque de tradição e ancestralidade, por assim dizer. O tema da aranha, que invoca tanto a beleza quanto o medo e o insólito, foi explorado em uma paleta de cores escuras, texturas e formas que se assemelhavam a teias intrincadas, simbolizando a interconexão dentro da sociedade. As peças apresentadas desafiavam as normas de gênero, fazendo um jogo entre as expectativas de gênero e a expressão das individualidades, priorizando silhuetas amplas e confortáveis, que celebravam a autenticidade de cada modelo que performava na passarela.




Muito além das roupas, Tarântula fala sobre uma teia de narrativas


A trilha sonora do desfile, intensificou a atmosfera de tensão e expectativa. Com um fundo sonoro que incluía vozes e batidas pulsantes (o cantor colombiano J. Balvin foi responsável pelo vocal), cada passo dado pelos modelos parecia contar uma história cujo enredo principal inclui uma batalha amistosa entre o sagrado e o profano, como se eles estivesse se movendo na teia de uma narrativa maior. O ritmo, por sua vez, refletia o dinamismo e a energia da cidade de Paris, capturando a essência do momento efêmero que um desfile de Moda representa.
A atmosfera da runway também mereceu destaque especial. O ambiente foi cuidadosamente pensado para evocar uma sensação quase primitiva, que aguçava os instintos, com iluminação dramática que jogava sombras projetadas, criando um espaço ao mesmo tempo sedutor e ameaçador. As imagens de natureza bruta e urbana se misturavam, criando um cenário que refletia o conceito central da coleção. As e os modelos trouxeram um ar de determinação e força, de quem desafia as convenções enquanto convida o público a dialogar com outras visões sobre beleza e identidade.

Em “Tarântula”, Willy Chavarria ofereceu uma declaração audaciosa, ainda que em partes velada, sobre o mundo contemporâneo, onde cada um de nós pode ser tanto predador quanto presa. A coleção parece se conectar bastante com a luta por autenticidade e aceitação. E, exatamente por tudo isso,”Tarântula” confirma Willy Chavarria como um dos designers mais relevantes e interessantes da atualidade, capaz de criar narrativas complexas através dos tecidos, das modelagens e também das sombras.
Ana Paula Barcellos

Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram Me siga no Instagram @experienciasdecabide e @yopaulab
Leia todas as colunas Em Alta
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.