Homem usando saia não tem nada de revolucionário, entenda!

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Por Ana Paula Barcellos

O título dessa coluna é uma provocação como os títulos de matéria que, buscando serem chamativas, viraram meme. Mas a frase é real: Homem usando saia não tem nada de revolucionário, não entendo como ainda tem gente insistindo nisso!

Mark Bryan, engenheiro que ficou famoso por usar saia envelope e saltos altos diariamente. Foto: Reprodução Instagram

E de cara adianto: que usem o que quiserem. Mas não foi sempre assim? Esse é o ponto da questão: não houve período na História da humanidade em que os homens tenham sido oprimidos por conta da vestimenta escolhida. Durante muito tempo eles usaram túnicas e outros tipos de saia, livremente.

Brad Pitt no lançamento do filme Trem-Bala, em Berlim. Foto: Getty Images

O corpo que é constantemente vigiado e estigmatizado, há milênios é o corpo da mulher, o corpo feminino. Esse sim, foi obrigado a se cobrir de tecido, com muitas e muitas camadas, camadas anti-higiênicas e deformadoras (o espartilho, para citar um exemplo), véus, tudo pra cobrir o corpo que os homens definiram que seria o pecaminoso, o “corpo errado”.

Por muito tempo, nos teatros, mulheres foram proibidas de atuar. E quem fazia o papel das personagens mulheres? Os homens, claro! Vestidos como mulheres, pintados como mulheres. Homens parodiando mulheres em filmes? Temos muito! E no carnaval nunca foi escandaloso um homem trajando vestido e salto, “embonecado”, como eles diziam.

Homens vestidos de mulher no Carnaval. Foto: Pinterest
Homem de saia no carnaval no começo do Século XX era carne de vaca. Foto: Pinterest

O estilo genderless, que antes a gente chamava de unissex, não veio libertar homens, facilitar ainda mais as coisas pra eles; veio liberar mulheres e outros grupos de pessoas (como as que se identificam como não-binárias, por exemplo) da pressão social de performar gênero, performar feminilidade. Desse conceito estabelecido por eles, claro, de que pra ser mulher, ser vista como mulher, você precisa estar usando roupas consideradas “femininas”, e aí a saia foi transformada no símbolo máximo dessa feminilidade, que deveria vir embutida em toda mulher na hora de cruzar as pernas…

Revolucionário foi Chanel estilizar e costurar peças que não marcassem tanto o corpo, que trouxessem conforto junto com a elegância. Que transformavam andar a cavalo numa experiência realmente libertadora para uma mulher, poder finalmente se sentar de pernas abertas! O resto é mais do mesmo, do que sempre foi.

Chanel usando suas revolucionárias pantalonas, nos anos 1920. Foto: Reprodução

Num post no Instagram da jornalista Hildegard Angel sobre homens contemporâneos que usam saia, eu fiz essa ressalva – que ela acrescentou depois ao texto. Ela concordou e brincou dizendo que, com o aquecimento global, vai chegar um momento em que a saia vai ser a única peça possível. Verdade, mais uns graus e estaremos todas/todes/todos usando túnica novamente.

Ana Paula Barcellos

Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate.

Foto: Reprodução do Instagram

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