Como seriam as roupas que vestiríamos se mais mulheres as fizessem?

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Por Ana Paula Barcellos

Como seriam as roupas que nós, mulheres, vestimos se elas fossem feitas por outras mulheres e realmente pensadas para nós? Essa pergunta é muito pertinente e urgente, fiquei feliz ao ver o questionamento trazido da Vogue gringa para o site da Vogue Brasil essa semana. Uns dias antes, um debate parecido acontecia no Instagram: Por que as roupas pensadas para mulheres ainda tem tão poucos bolsos ou apenas bolsos falsos, para enfeite? Por que a roupa pensada para nós ainda é tão pouco utilitária?

Ao fazer uma busca rápida no Google Imagens por “roupas confortáveis para mulheres”, este é o tipo de look mais aparece. Foto: Coisas de Diva

Já tem bastante tempo que a mulher conseguiu sair de casa para conquistar seu espaço da porta pra fora, depois de ficar tanto tempo relegada aos cuidados do lar. Algumas das maiores multinacionais são comandadas por mulheres, já conquistamos os principais cargos de instituições governamentais mundo afora, ocupamos todos os espaços. Por que nossas roupas ainda não refletem isso?

As roupas disponíveis nas lojas, nos sites, nas redes sociais… As roupas que aparecem por aqui! São bonitas, mas nem sempre práticas, nem sempre muito confortáveis. As roupas pensadas para mulheres ainda são quase que exclusivamente vistas como adorno para o corpo. Mulher não é bibelô!

A reportagem da Vogue nos lembra que, se de um lado temos mais mulheres ocupando espaços de poder e trabalho, do outro há mais homens ocupando os principais cargos de designers nas grandes labels. Isso significa que há mais homens projetando e criando roupas para mulheres do que mulheres pensando roupas para si próprias e outras mulheres. O resultado? “Há uma escassez de roupas que mulheres reais possam vestir”, aponta Lisa Armonstrong, chefe de moda do jornal estadunidense The Telegraph, citada pela revista.

O sutiã de amamentação ornamentado, da coleção 2022 de Simone Rocha. Foto: Divulgação Simone Rocha

Buscando equilibrar essa balança, temos designers independentes apresentando suas visões em peças que dificilmente veríamos nos desfiles das grandes maisons: camisas e ternos bem cortados, mas também mais acessíveis e sem tantos ornamentos (babados, brilhos, tecidos vibrantes demais), peças com mais bolsos, bolsas grandes e inclusive sutiãs de amamentação (como desfilado por Simone Rocha, em sua coleção de verão para 2022).

É preciso pensar como mulher para fazer roupas para mulheres

É necessário levar em conta as experiências vividas pelas próprias mulheres para desenhar roupas que funcionem para mulheres. E é preciso, como lembra Felita Harris, consultora de marca da Raisefashion, também mencionada pela Vogue, levar em consideração outros valores e subjetividades na hora de criar designs: raça, classe e sexualidade, por exemplo, não podem ser ignorados! É preciso fazer recorte na hora de projetar e costurar também!

Se mais mulheres pensassem e fizessem roupas para mulheres, elas com certeza seriam muito diferentes do que vemos nas páginas de moda
Na busca por “Look confortável para o trabalho”, esse é o campeão. Note as sapatilhas! Foto: Lorna por @simphonyofsilk no Instagram

De acordo com outras profissionais ouvidas pela revista, ter mulheres nesses cargos tão importantes de criação de moda é urgente e causam outros impactos positivos: mulheres costumam pensar a longo prazo, buscar mais saídas sustentáveis para as criações e apresentam uma visão mais “holística”, do todo, na hora de pensar uma coleção. As mulheres pensam mais sobre a falta de diversidade de corpos nesse universo exclusivamente branco e magro e refletem profundamente sobre a necessidade de fazer trocas realmente relevantes nesse sentido.

Claro, para que essas mudanças aconteçam, é preciso não apenas aumentar o número de designers mulheres e diretoras criativas, mas fazer crescer também o número de mulheres ocupando os principais cargos das grandes empresas do ramo (mais CEOs, por exemplo) e mais fotógrafas de moda também. O olhar do mundo da moda ainda é o olhar dos homens!

E a resposta para a pergunta que abre essa coluna, de acordo com as profissionais citadas, é unânime: teríamos muito mais opções de modelos de camisas (que contemplem corpos diferentes, bustos diferentes), teríamos uma variedade muito maior de silhuetas e modelos, com certeza mais tamanhos e modelagens perfeitas pensadas para todos os tipos de corpos; não haveria mais o “tamanho único” e as peças seriam pensadas de acordo com sua funcionalidade: haveria mais designs considerando praticidade e conforto. Veríamos menos saltos altíssimos e desconfortáveis, haveria um equilíbrio maior entre conforto e estilo nas peças em geral e teríamos roupas com tecidos mais macios e ajustes ergonômicos.

Petersson,da Good Eggs, incluiu uma observação que me surpreendeu: muitas de nós inchamos no decorrer do dia, e isso precisa ser levado em consideração na hora de projetar uma roupa! Eu sou uma mulher que incha bastante, uma peça em alfaiataria pode ter o caimento significativamente alterado por isso e não me favorecer mais ou não ser tão confortável depois de uma jornada de 8 horas. Mas isso simplesmente nunca me ocorreu, provavelmente porque somos condicionadas desde sempre a caber nas roupas ao invés de ter roupas pensadas para nossas necessidades diárias.

Foto principal: Freepik

Ana Paula Barcellos

Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram Me siga no Instagram @experienciasdecabide @yopaulab

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