Por Ana Paula Barcellos
Tudo o que eu questionei na coluna que escrevi sobre a Victoria’s Secrets, todos os medos em relação às intenções da marca, têm se confirmado. Me chamaram de exagerada, de “radical” por não acreditar que marcas como essa podem mesmo mudar… E eu nem disse que não pode, só falei que acho muito improvável. E parece que é mesmo: a grife anunciou recentemente o retorno de algumas de suas angels mais icônicas – entre elas, Giselle Bundchen.
Victoria’s Secrets e a estética 2000
Esse era um dos meus maiores medos: que junto com a volta da estética 2000, quisessem revisitar também os padrões de beleza da época, nocivos até o talo. Foi o surto da barriga chapada pra exibir na calça de cintura baixa com cropped, das dietas doidas e prejudiciais; foi um momento de MUITA pressão para as mulheres.
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Essa preocupação continua existindo, mas as coisas vinham melhorando bastante: aumentou a diversidade de corpos e cores de pele nos desfiles, nas propagandas de cosméticos, apareceu o movimento body positive (que visa conscientizar mulheres sobre a beleza de cada corpo) avançou-se bastante na luta contra a gordofobia… e agora parece que a gente está em um momento muito chave: ou luta para continuar progredindo nesse sentido, ou vai acabar caindo numa cilada e dando muitos passos para trás.
Corpos não são descartáveis. Não são como blusas e vestidos que você enjoa e se desfaz, troca por outro. Ou não deveria ser assim: no começo dos anos 2000, o Brasil dividia com os Estados Unidos (maior impulsionador do padrão Y2K e sede da Victoria’s Secret, terra mãe de Britney Spears e das divas pop que influenciaram o padrão estético dessa época) o topo do ranking de procedimentos estéticos. No ano passado, o Brasil passou a perna nos gringos: Nós somos os que mais modificam o corpo para estar no padrão (os dados são da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica).
No começo dos 2000, a busca maior era por lipoaspiração e definição do abdômen (abdominoplastia) e aumento dos seios; em 2010, por aumento dos seios e das nádegas; em 2023, a busca maior é por procedimentos que modifiquem o rosto.
Volta para o retorno das Angels da Victoria’s Secrets: não importa se a marca vai colocar diversidade na passarela junto com as modelos icônicas, a mensagem continua sendo a mesma: todo tipo de corpo é legal, mas é mais legal ainda se você tiver ESSE corpo. O desfile, inclusive, tem um nome simbólico: THE ICON. Quem são os ícones? Gisele Bundchen, Naomi Campbell, Adriana Lima e Candice Swanepoel – todas magras e ultra padrão –, podem apostar!
Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram @yo.anap e @experienciasdecabide
Foto principal: Gisele Bundchen para a nova coleção da Victoria’s Secrets/ Instagram
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