Por Ana Paula Barcellos
Escrevi na coluna passada sobre o absurdo que é ainda rotularem peças de roupas como masculinas e femininas. Falei também sobre a segregação que ainda rola, nesse sentido, na maioria das lojas, principalmente as lojas de departamentos e escrevi numa outra coluna sobre a dificuldade que é comprar roupas novas quando você não segue essa cartilha binária. Pois, na semana que passou, me vi novamente às voltas com esse tema.
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Porque a gente pensa fora da caixinha, mas ainda não consegue fugir tanto do sistema, não é mesmo? Grande parte das mulheres ainda compra suas roupas na seção “feminina”. E as roupas que tem lá, são mesmo para todas elas? Quantos corpos de mulher são realmente contemplados por essa seção?
A Luisa, 32 anos, uma amiga do trabalho, combinou comigo de adiantar algumas tarefas porque precisava, assim como a Bruna, 36 anos, noiva dela e também nossa colega de trabalho, escolher roupa para um casamento. E precisava de tempo suficiente para experimentar as peças sabendo que partia numa tarefa que muitas vezes resulta inglória e que demandaria bastante tampo.
Fiquei pensando em como seria essa experiência para elas, que iam comprar roupas novas depois de muito tempo comprando apenas em brechós. E, claro, pedi para escrever sobre a saga – chamo de saga porque pra mim tem sido assim.
Fiquei curiosa me perguntando se elas também passariam pelos perrengues que enfrentei com a Olívia, se teriam dificuldades com o atendimento das vendedoras, se encontrariam fácil o estilo de roupa que gostam. Pois elas voltaram com o relato da experiência e, melhor ainda, com fotos.
A Luisa saiu com a missão de comprar calça social, tênis, uma camiseta estilosa estampada e um blazer; já a Bruna, queria uma calça de sarja preta para usar com camisa social também preta (que ela vai usar com bota marrom, suspensório e chapéu).
Roupas femininas difíceis
No primeiro áudio, Luisa começa dizendo que foi bastante complicado, tanto para ela quanto para Bruna. A expectativa era encontrar roupas na seção feminina. A realidade: quase impossível. Depois de andar bastante pelo shopping Boulevard, Bruna conseguiu encontrar uma calça de sarja preta mais próxima do que ela tinha imaginado na seção de roupas masculina da C&A e a camisa numa loja voltada para clientes homens mesmo (Ela diz que ficou com vergonha de entrar, mas que foi muito bem tratada).
Não tinha nada como Bruna queria na seção feminina. Ela buscava uma calça de sarja reta slim, com bom caimento e uma camisa social de modelo clássico, mas conta que as calças que encontrou não eram bonitas e mandou uma que doeu em mim: a modelagem das roupas pensadas para mulheres não caem bem no seu corpo – quando dá certo na manga, fica ruim no busto e na barriga, e vice-versa. Em relação aos modelos, só encontrou camisa social branca com tecido ruim (diz que algumas eram daquelas que amassam muito, “igual camisa de bêbado”). Ou então mais delicadas, e com detalhes como gola jabo e afins, do estilo que ela não gosta.
Na loja masculina, também teve problema com modelagem, mas, depois de buscar bastante, encontrou uma camisa que “parece ter sido feita sob medida”, como disse. Essa, claro, saiu bem mais cara que as outras, mas valeu a pena.
Para Luisa, foi mais difícil ainda. Ela contou que está acima do peso e isso complicou mais a busca, teve que procurar bastante. Demorou mais para conseguir encontrar a roupa que considerava ideal porque teve mais esse complicador: a maioria das lojas ainda não tem suas peças principais com uma boa variedade de tamanhos e modelos. Ainda assim, ela conseguiu encontrar o blazer e a calça na seção feminina, só a camiseta foi comprada na masculina – ela também chegou a procurar camisa, mas não conseguiu uma que ficasse bem nela.
É fato: se você não se veste com um estilo mais delicado, não veste tamanho PP a M, não gosta de roupas tão ajustadas ou está acima do peso, vai ter dificuldades para encontrar roupas, principalmente roupas novas. E independentemente de quem passa por essa experiência, o ponto principal parece o mesmo: é difícil não conseguir encontrar o tipo de roupa que você quer, o estilo que você gosta, na seção que dizem que foi criada para você.
Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram @yo.anap e @experienciasdecabide
Foto principal: Pinterest
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