Por Suzi Bonfim
Segunda-feira (19) é o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua. A data se refere ao episódio que ficou conhecido como o “Massacre da Sé”, entre os dias 19 e 22 de agosto de 2004, quando 15 pessoas que utilizavam o espaço da Praça da Sé, em São Paulo, como moradia improvisada, foram brutalmente atacadas na calada da noite. Sete pessoas foram mortas e oito ficaram feridas gravemente.
Esta é uma realidade que se espalha e cresce nas cidades brasileiras e em várias partes do mundo, em países pobres e ricos, sem distinção. Entre as causas estão o desemprego, o uso de drogas, alcoolismo, doenças mentais, conflitos familiares, até inflação alta e migração.
Além da data para chamar a atenção da sociedade, em Londrina, as pessoas em situação de rua são apontadas como um dos grandes problemas da cidade e, certamente, o assunto está na pauta dos candidatos nas eleições municipais.
Quem dera fosse simples tirar as pessoas que dormem nas calçadas e estão nas esquinas nas ruas da cidade que é conhecida pela “caridade do seu povo”, ou seja, elas conseguem adquirir o mínimo necessário pedindo esmolas. Todo dia tem gente nova nos pontos em que essas pessoas se concentram no centro de Londrina.
Um problema socioeconômico que ainda não tem medidas eficazes por parte do poder público e é amenizado por meio da atuação do cidadão comum em organizações não governamentais.
Em uma série de reportagens recentes da Rede Globo, sobre Vidas nas Ruas em países da Europa, Estados Unidos e América Latina, a mesma dor se manifesta em outras línguas e tem dificuldades bem parecidas com o que se vê por aqui.
Revi a série e pontuei exemplos do que cada país está fazendo para contornar a situação.
Em Roma, na Itália, onde existem cerca de 30 mil moradores em situação de rua, 38% estrangeiros, o Papa Francisco implantou no Vaticano, em 2013, um espaço com máquinas de lavar roupa, chuveiros e barbeiros. O governo italiano oferece cursos de capacitação para recolocação no mercado de trabalho.
Na Argentina, a crise amplia o número de pessoas nas ruas e o governo também viabiliza capacitação profissional e apoio psicológico.
Em Portugal, há um programa com apoio da ONU que paga passagens de volta para o país de origem dos imigrantes. Neste caso, muitos são brasileiros.
Na Inglaterra, ongs selecionam pessoas que dão abrigo temporário para jovens vulneráveis. Também existe um programa de habitação popular, mas a grande demanda faz com que as pessoas sejam instaladas em alojamentos provisórios em hotéis.
Nos Estados Unidos, a estimativa é de mais de 600 mil pessoas em situação de rua e uma das ações concretas está no estado do Texas. Com o apoio da iniciativa privada, centenas de pequenas casas foram construídas em uma comunidade onde as cozinhas são compartilhadas. As famílias pagam um aluguel de cerca de US$ 400 (R$ 2.164) por mês, bem menos que o valor do apartamento de um quarto na cidade, US$ 1,8 mil (R$ 9.738) mensais.
Casa primeiro para quem está em situação de rua
A casa e o endereço são considerados como um fator estabilizador para quem vive nas ruas. É sinônimo de segurança e privacidade. Direito que milhares deixaram de ter no Brasil em uma década. O último levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2022, mostra que em 10 anos a quantidade de pessoas em situação de rua aumentou 211%. O número assusta quando comparado com o crescimento geral da população: 2,4% no mesmo período.
Segundo o CadÚnico, no último mês de maio, mais de 290 mil pessoas estavam em situação de rua; 13% são mulheres – uma a cada cinco é mãe.
Perder o teto é perder o acesso a direitos básicos garantidos pela Constituição. Assim, considerando a ideia de que a moradia para quem está em situação de rua é o primeiro passo para solução do problema, já existem ações com bons resultados, neste sentido no Brasil.
O exemplo vem de uma ong em Copacabana, no Rio de Janeiro, que viabiliza moradia pra quem precisa.
O Governo Federal também criou o Guia Brasileiro de Moradia Primeiro, para dar luz à este processo difícil, mas imprescindível para garantir mais dignidades à milhares de pessoas que estão nas ruas. Não é fácil, mas é possível.
Pra você, que é candidato nestas eleições, está aí uma boa causa para discutir, cobrar, propor e encontrar saídas. A cidade agradece!
foto: freepik
Suzi Bonfim

Jornalista, formada na UEL, por quase 30 anos morou em Cuiabá -MT. De volta a Londrina-PR, vive a fase R de reencontros e renovação, respirando novos ares. Escreve sobre o que acredita por um mundo melhor. Instagram @suzi.bonfim
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