Por Ana Paula Barcellos
“Como você encontrou seu estilo?” Essa é uma pergunta que já ouvi bastante. Atualmente, escuto algo sobre meu estilo quando estou vestida de “mim mesma”, de Ana Paula. Isso porque, como já comentei, ando num limbo de estilo. Tenho me produzido muito menos do que gostaria e não tem sido fácil encontrar peças que eu goste. Criei o projeto do “guarda-roupa perfeito” mas ele ainda está longe de ser concluído justamente por essa dificuldade.
E me peguei pensando recentemente sobre isso, sobre estilo próprio e descoberta do próprio estilo – ou ainda o encontro com o próprio estilo – depois de uma conversa com uma vendedora de cosméticos. Elogiou minha roupa e meus brincos (no dia eu estava mais eu) e disse que eu tenho um estilo legal. E aí começamos um papo sobre como a gente encontrou o próprio estilo e como a gente vê as gerações de agora nesse processo.
Ela contou que demorou bastante até saber o que realmente gostava de usar, que tipo de roupas gostava. Que foi uma busca meio longa e muitas vezes frustrante, que só ficou satisfeita com o próprio estilo na casa dos 30. E arregalou o olho quando disse que comigo aconteceu por volta dos 15 anos (já falei um pouco sobre isso aqui e aqui).
Embora faça sentido saber mais de si própria já mais velha, há outro fator que pode influenciar nisso: estímulo e incentivo. Acho que esse foi exatamente o meu caso e é o caso dessa geração que a gente vê agora. Eu tive muito acesso a tudo o que era relacionado com roupas, acessórios. Tive o exemplo da minha mãe e tive acesso a essas coisas pra mim também desde nova.
Claro que meus pais não faziam todas as minhas vontades, mas o fato de me colocar como participante no processo de escolher minhas roupas, querer saber que estilo eu preferia, que cores, que tecidos… Tudo isso me ajudou a ter desde cedo uma percepção e a desenvolver meu próprio gosto e estilo. Aí dá pra falar mesmo em desenvolvimento de estilo. Porque pude testar, experimentar, gostar e desgostar até saber o que funcionava – e muita coisa ainda funciona – pra mim.
Estilo adolescente
Vejo acontecendo parecido agora. Com tanto acesso a smartphones e tablets conectados à internet, podendo descortinar um milhão de mundos e possibilidades virtuais (muitas vezes até um excesso de mundos e com conectividade em excesso), a gente vê as crianças se estilizando cada vez mais jovens. E claro, a oferta de roupas infanto-juvenis aumentou muito nos últimos 30 anos, o modelo de consumo foi se modificando…
E a forma de criar e educar crianças e adolescentes também foi mudando. A gente conhece mais sobre Disciplina Positiva e aprendeu que é preciso sim ouvir as crianças desde pequenas, que é preciso exercitar o diálogo, a independência delas e tratá-las como pessoas inteiras, não como pequenos humanos de segunda categoria que não podem decidir sobre nada. E esse processo precisa seguir na fase da adolescência!
A primeira vez que Oli (minha cria de 11 anos que faz 12 em outubro) conseguiu expressar que roupa queria vestir, tinha 1 ano e 8 meses, mais ou menos. Estava separando a blusinha para vestir e falei: “Vamos colocar a blusa com nuvem?”. A reposta veio rápido: “Não, bichinho”. Olhei em volta e tinha uma pilha de roupas dobradas, a primeira era uma blusa com uma “torre” de bichinhos. “Essa?”, perguntei. Oli abriu um sorrisão e consentiu.
Embora tenha conseguido proporcionar muita roupa bonita e legal, até estilosa, para minha criança, eu não tinha a mesma condição financeira que meus pais, não pude fazer exatamente o mesmo. Ainda assim, tentava sempre comprar peças dos personagens favoritos e não forçar quando ela não queria vestir – o que era particularmente difícil quando eu tinha gastado o único dinheiro disponível para comprar aquela peça. Ainda assim eu respirava fundo e a gente ia conversando até encontrar um meio termo entre o gosto e a possibilidade real.
Mesmo quando não podia comprar as roupas escolhidas, ia perguntando o que Oli gostaria de vestir se a gente pudesse comprar. Víamos fotos na internet e eu ia guardando aquelas informações pra quando pintava um dinheirinho. E assim foi indo, conforme Oli foi crescendo eu fui tentando seguir esse caminho.
Hoje, com 11 pra 12 e jeito de quem está virando adolescente, Oli diz que já encontrou seu estilo. Usa um corte de cabelo estiloso (de inspiração anos 80, bem pós punk, repaginado), meias longas interessantes, camisas de botão, bermudas alinhadas; adora calça cargo e wide leg e tem alguns acessórios tão legais que até eu tenho vontade de usar – os tênis incríveis e customizados infelizmente não me servem.
Já ganhou o título de “mais estilosa” da escola, principalmente por causa do cabelo. Os professores millenial são os que mais elogiam! Às vezes me pergunta o que acontece se decidir mudar o estilo de repente, um dia assim, mudar de gosto. Explico que tudo bem, que não é só sobre roupas, e que se descobrir é um processo contínuo. E a gente tem a vida toda pra isso!
Foto principal: Freepik
Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram Me siga no Instagram @experienciasdecabide e @yopaulab
Leia todas as colunas Em Alta
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.