Por André Luiz Lima
Hoje, quem se apresenta para a arte dos encontros é Paris, a cidade luz. Conectar-se com esses encontros e ver as rotas que nos levaram até ali, o que nos reserva essa doce lembrança ou onde nos leva para uma nova rota.
Vou direto ao ponto de uma determinada rota e inesperado convite.
Estava na Suíça, trabalhando em um projeto de documentário que seria produzido na Itália, e eu precisava fazer praticamente tudo para ver pronto o que havia programado.
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Confesso que estava exausto, mas no meio de um cenário que me ajudava a sonhar e seguir.
A natureza exuberante com um toque especial de Deus, onde parece que até as folhas caem ordenadamente, os cisnes atravessam na faixa, os trens chegam exatamente nos minutos exatos, e se você se concentrar, pode ouvir o bater das asas das gaivotas.
Embora eu seja de um lugar onde tudo é junto e misturado, essa rota do momento me ajudou a realizar algo que eu precisava aprender e ir até o final.
Vamos ao inesperado e deliciosamente mágico. Afinal, eu estava no local de inspiração onde Hermann Hesse escreveu seus textos, estando presente nos meus comentários e, com certeza, hoje estará bem pulsante.
Uma amiga, em uma manhã de inverno com neve lá fora, bateu na minha porta com uns biscoitinhos, pediu um café, e fomos para a cozinha esperar a cafeteira italiana fazer o barulho com aroma gostoso de café, indicando que estava pronto.
Essa pausa era para que eu parasse e pudesse ver outras coisas, sair de um mundo que eu achava que não tinha saída, voltar para o centro e acreditar, como no filme Comer, Rezar, Amar. E, como os anjos existem, nessa pausa ela me fez a pergunta: “André, eu preciso viajar de férias e vejo que você está meio estressado. Vou te levar a Paris para você relaxar. Você aceita?”
Acho que ouvir isso nesse momento era tão estranho que eu não consegui responder de imediato, risos.
Mas, como dizia minha avó, “peça, meu filho, peça, pois um dia os anjos dizem amém e acontece.”
Aceitei, e fiz uma condição para mim: vou viver como um sonho, vou me imaginar realizando um sonho do jeito que um dia foi sonhado quando criança. E lá fui eu, e se preparem, porque vou até o final assim.
Primeiro, fomos de trem até Genebra, onde pude abraçar um amigo que não via há muito tempo. Na estação, logo no início da manhã, tomei um cappuccino com um croissant antes de pegarmos o trem TGV rumo a Paris.
O dia estava lindo, a paisagem vista da janela com detalhes que iam passando como uma projeção de um destino certo.
Chegamos à exuberante estação Gare de Lyon. Ao se aproximar, o trem vai chegando lentamente, dando tempo de aproveitar cada instante. Ai, que sensação boa.
Dia lindo em Paris, frio, céu azul no movimento diário de uma cidade grande. Estávamos felizes e prontos para a aventura.
Pegamos um táxi, e fui vendo a paisagem já conhecida por mim: o rio Sena, o Museu do Louvre, o túnel e, finalmente, a Torre Eiffel.
Chegamos ao hotel, deixamos as malas e já fomos bater perna. A mãe da minha amiga era suíça, mas havia morado muito tempo em Paris, e assim me apresentaria a cidade de um jeito bem parisiense. Confesso que me surpreendeu positivamente.
Vou dividir aqui apenas alguns momentos em lugares significativos que me tocaram profundamente.
Momentos em Paris
Quando estivemos na Torre Eiffel, pude sentar em um lugar afastado, um banco de madeira já surrado em um jardim comum, com chão de terra e algumas folhas de inverno espalhadas pelo chão. Fiquei ali vendo essa cena e senti paz, como se estivesse no agora, longe da agitação, mas dentro do sonho. Afinal, você escolhe o que deseja ver, não é mesmo? Naquele momento, percebi que a simplicidade dos instantes pode ser tão grandiosa quanto a própria torre.
Quando compramos champanhe, baguete, queijos e presunto, e jantamos no quarto do hotel, nevava lá fora e eu precisava descansar em meio a risadas, revendo o dia. Ali, compreendi que a verdadeira sofisticação está na capacidade de celebrar os momentos simples, transformando-os em algo inesquecível.

Quando saí do Louvre, enquanto caminhava em uma rua lateral, vi uma capela de São Miguel Arcanjo e lá parei para descansar e agradecer tão lindo momento. Agradecer a vida, minha amiga e minha avó pelo conselho de “acredite, meu filho”. A espiritualidade daquele instante me lembrou que, em meio à grandiosidade da arte e da história, a gratidão sempre encontra seu espaço.
Quando passei em frente a uma livraria, na vitrine estava o livro O Pequeno Príncipe, que me acompanha desde criança, e lá estava eu, de planeta em planeta, aprendendo a entender o sentido das coisas. Nesse instante, recordei a importância da infância e de nunca perder a curiosidade e a capacidade de ver com o coração.

Quando entrei na Notre Dame, e estava tendo uma celebração com cânticos, incensos em meio à arte dos vitrais coloridos enquanto soavam sinos, realmente me senti privilegiado. A harmonia entre som, aroma e luz me fez refletir sobre a beleza da sincronia e como os pequenos detalhes se unem para criar momentos de pura magia.
Quero dizer que tudo está disponível o tempo todo, mas às vezes, no cotidiano, não paramos para olhar ao redor, para o que está disponível. Às vezes, não olhamos do lado e nem para o céu, sendo que está ali o tempo todo.

Quando minha amiga me levou ao café de Flore, já era um destino pensado, por eu ser artista e marcar presença em um local frequentado por importantes intelectuais e artistas ao longo de sua história, como Joris-Karl Huysmans, Remy de Gourmont, Charles Maurras, Georges Bataille, Robert Desnos, Léon-Paul Fargue, Raymond Queneau, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Pablo Picasso e Zhou Enlai, Arthur Koestler, Ernest Hemingway, Jane Fonda, Brigitte Bardot, Alain Delon, Yves Saint Laurent, Givenchy, Paco Rabanne e muitos outros que ajudaram a fazer história a partir da coragem de viver seus sonhos. Sentado ali, senti a inspiração fluindo, como se todas aquelas grandes mentes ainda estivessem presentes, sussurrando segredos de suas jornadas criativas.
E, por último, quando fui caminhar sozinho no Sena, observava a paisagem ao meu redor, a corrente rumo ao norte. Eu, em meio a uma reflexão do porquê estar ali, deveria determinar meu próprio destino. E assim fiquei, e volto agora nesse encontro comigo mesmo para me fazer lembrar e ver que rumo seguir. A água fluindo me ensinou que a vida é movimento constante, e cabe a nós escolhermos como navegar por ela.
Acho que esse encontro é para todos que estão lendo e necessitam alinhar seu destino ou ver o melhor rumo tomar e fazer a vida valer a pena.
Estive em vários outros lugares, mas um deles ainda ressoa em mim de forma especial: a Igreja Madeleine. O cenário grego e imponente da igreja me fez refletir sobre a grandiosidade e a beleza que existem dentro de cada um de nós. Sentado ali, em meio àquela arquitetura magnífica, percebi que, assim como a igreja, nossas histórias e sentimentos merecem ser valorizados e ouvidos. E, ao voltar para dentro de mim mesmo, encontrei a força para seguir meu caminho com mais clareza e propósito.
Voltamos para a estação em uma manhã ainda de dia lindo, cheio de lindas lembranças e um roteiro para continuar nessa arte dos encontros.
Como está sua rota?
Ah, o texto do Hermann Hesse:
“Viva seus sonhos
Viva-os bem
Dedique-lhes altares
Celebre seus mistérios
Não é a perfeição, mas já é um caminho
Não há nenhum sonho perdurável
Um substitui o outro e não devemos nos esforçar a nos prender a nenhum
Ninguém sabe o polo para o qual será atraído.
Seu destino o chama
E um dia lhe pertence por completo como você sonha
se continuar sendo fiel.”
Fotos: acervo pessoal

André Luiz Lima
Londrinense, ator, diretor, professor, palestrante e produtor cultural. Siga os Instagrans de André, @allconnecting e @aondevaiandre
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Respostas de 4
Agradável matéria para iniciar o meu dia!! Grata!!
Sempre presente nos meus encontros! Grato!
Amei a sua descrição tão rica e profunda! A maneira cómo você percebe os lugares que vai conhecendo e como processa as vivencias! Adorei o detalhe da capela de São Miguel porque certamente não está na lista dos livros de turismo. Obrigada por esse tour visual que pude fazer lendo a sua descrição!
Obrigado por esse tour visual que onde de alguma forma nos encontramos NA ARTE DOS ENCONTROS.