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A moda como forma de resistir em tempos difíceis

Tão sentindo essa pegada pessoal, mais engajada e reflexiva das últimas colunas? Comentaram comigo sobre isso esses dias. Penso que é um reflexo dos tempos que estamos vivendo e da necessidade de tratar temas urgentes. Também me perguntaram sobre a relevância de uma coluna de moda em um momento político tão difícil como esse. E, sem muitas delongas, respondi que vejo a moda como vejo outras formas de fazer arte: importantíssima, sobretudo em tempos difíceis.

A moda, assim como a arte, está longe de ser supérflua. Pode-se, com certeza, acabar visibilizando aspectos que podem ser vistos como não tão relevantes. Mas a moda é, sobretudo, um espelho de tecido do momento histórico em que vivemos, de nossos costumes, de nossa forma de ver o mundo. Se nossa roupa pode até passar uma mensagem, a moda e sua indústria falam ainda mais alto por nós, como sociedade.

E o que dizer da moda como forma de resistir em tempos sombrios? Pesquise pelos desfiles nos períodos de guerra, vai aparecer muita coisa impressionante que vai além das passarelas. E nem é preciso voltar tanto no tempo: olhemos para a ditadura pela qual o Brasil passou e para o trabalho incrível e corajoso de estilistas como Zuzu Angel, que transformou suas roupas em grito contra a repressão militar e num pedido de socorro e justiça para seu filho – primeira vítima fatal conhecida desse período. A moda, aí, foi alçada ao status de arma política.

Ao falar em ditadura, eu me lembro de outra que foi nossa contemporânea, a ditadura argentina. Minha mãe veio para Londrina no fim da década de 70, fugindo do horror hermano. Usando outro nome para se corresponder com minha tia, encheu folhas e mais folhas de croquis e rabiscos de vestidos, forma que elas encontraram de falar de coisas bonitas e mais amenas sim, mas também de trocar impressões culturais dos dois países. Algumas dessas cartas eu tive a chance de ver, quando criança, me lembro que foi muito impressionante ver que elas conseguiam falar sobre vestidos e blusas num momento como aquele. Mas é isso, a moda é também forma de resistir e seguir, ajudando a manter a esperança por dias melhores em que roupas, inclusive, sejam mais constantes nas manchetes do que o horror.

  • Na semana que vem a gente volta com perfis de gente que faz e fez moda em Londrina. Conhece alguém? Escreve pra gente, vamos contar essas histórias.

Ana Paula Barcellos

Formada em História pela UEL, trabalhou 10 anos como escritora para blogs e sites sobre cultura e lazer. Atualmente, trabalha com marketing digital e pesquisa de tendências e, junto com Angela Diana, é proprietária da Rosita, marca de acessórios. 

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