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Alguém o(a) representa de verdade na Câmara?

Por Ana Paula Barcellos

Me senti muito incomodada, nessa semana que passou, ao me dar conta de que não, nesse momento, ninguém me representa realmente na Câmara Municipal de Londrina. Existem vereadores e vereadoras com algumas pautas legítimas, até importantes, mas naquilo que é essencial, que realmente é importante para a população de forma geral, não tem.

Vou além e ouso dizer que, na atual gestão, a gente tem visto um dos maiores show de horrores naquela Casa – que deveria ser, também e inclusive, a casa do Povo, mas está muito longe disso. Projetos inconstitucionais, sem relevância alguma para o bem estar dos cidadãos e cidadãs e alguns até mesmo inúteis. Sim, inúteis, a gente tem que ter coragem de chamar as coisas pelo nome e fazendo uso do adjetivo correto. Vai me dizer que, com tantos assuntos urgentes e importantes, criar e aprovar o dia do CAC é alguma prioridade? Façam-nos o favor, nos poupem e se poupem de mais essa vergonha.

Paciência tem limites, né? A minha, que já andava por um fio, se esgotou no último dia 21 com a votação do PL que tem como objetivo, atenção senhoras e senhores, proibir a presença de crianças e adolescentes na Parada LGBTQIA+ de Londrina. O argumento: o evento, uma celebração legítima dos direitos das pessoas LGBTQIA+, tem consumo de bebida alcoólica, drogas e não proporcionaria um ambiente saudável para menores de idade.

Foto: Acervo pessoal/Poliana Santos

Olha, se é assim, eu aposto que o casamento da sua prima Adelaide de Araraquara ou o churrasco do seu tio Edinho é muito mais impróprio para as crianças e adolescentes. É de uma hipocrisia sem tamanho e mostra total desconhecimento por parte dos legisladores e legisladoras do que é o evento. Duvido que algum deles tenha se dado ao trabalho de ir ao Buracão no dia da festa para ver como funciona. Senhoras e senhoras, eu não apenas conheço o evento desde a primeira edição (eu vi a Parada nascer, dos bastidores), eu já participei como membro da equipe de limpeza, eu já limpei a sujeira da Parada, eu posso falar com propriedade.

Minha irmã, Nádia, que levou a filha na edição de 2023, me disse que não havia simplesmente nada de inapropriado no momento que estavam lá, juntas. Que havia outras famílias, outros pais, mães e cuidadores com crianças e que estava bem divertido. E me lembrou ainda de um casamento que organizei para uma família da alta sociedade pé vermelho na época em que trabalhava com organização de eventos. Se eu contasse aqui o que presenciei e os apuros que passei para conter convidadas e convidados afoitos nas mais imagináveis e inadequadas situações, provavelmente diriam que estou inventando. Minha gente, teve furto, drogas e até quase sexo no salão e muito mais. Aquele sim era um evento muito inapropriado para menores de 18. Mais uma vez, é festa familiar que chama, né?

É um absurdo que Londrina esteja alagando, com incontáveis problemas estruturais (inclusive de abastecimento de água e tratamento de esgoto em bairros diversos), que não tenha um plano decente pensado para amenizar o calor absurdo que faz nessa cidade (Telhado verde, pintura branca, remanejo no plantio de árvores na área urbana? Não, mas com topiaria os nossos e nossas legisladores já se preocuparam, sabia?). Só agora, quase no meio do ano eleitoral, a Prefeitura começa a se mexer um pouco para resolver o caos do atendimento no PAI e da falta de profissionais da saúde. Alguma intervenção de impacto por parte da Câmara? Até onde sabemos, nenhuma.

Uma visitinha pelos bairros para dar uma olhada nas condições em que vivem os moradores das periferias, alguém de lá se anima o suficiente para propor mudanças significativas? Ainda está faltando.

Câmara cheia de oportunismo

A Câmara de Londrina perde tempo com direitos inconstituicionais e sem relevância enquanto a cidade sofre com inúmeros problemas. Cheia de oportunistas, ninguém ali me representa. E a você?
Foto: Imprensa CML

Mas oportunismo sobra. Atacar não apenas os diretos da população LGBTQIA+, mas também o direito constitucional de todos os pais, mães e cuidadores, de decidir o que é melhor para suas filhas e filhos, de ir e vir com suas crianças e adolescentes de acordo com o que acreditam ser melhor, tem de monte. Usar crianças e adolescentes como arma política no jogo da Câmara é sujo, é sórdido! Não precisa ser pai ou mãe pra entender isso, basta ter decência e humanidade.

Pois não teve UMA pessoa eleita por nós lá dentro para parar esse absurdo. Não teve uma única com coragem suficiente para votar não e dizer que não adianta encher a boca pra dizer que defende criança e adolescente e compactuar com o absurdo que é passar 9 horas com uma criança ardendo de febre no PAI; não adianta espumar pela boca e usar falas raivosas (inclusive falta decoro prumas gentes que ocupam cadeira na Câmara, né?) pra querer, inconstitucionalmente, desautorizar legalmente pais e mães ao invés de propor melhorias no sistema municipal de ensino ou verificar o programa de inclusão ineficiente nas creches e EMs; não adianta cuspir fogo pro lado errado ao invés de buscar solucionar o problema de falta de vagas que impede muitas mães de trabalhar e prover o sustento de suas crianças.

O que realmente interessa para quem joga esse jogo com o dinheiro dos nossos impostos e ainda quer usar nossas filhas e filhos? Indignação é pouco pro que eu sinto, o que eu sinto ainda não tem nome.

E você, consegue dizer o nome de alguém que o(a) representa de verdade na Câmara Municipal de Londrina?

Ana Paula Barcellos

É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal.

Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab

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(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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