Por Márcia Huçulak
Doenças com leptospirose, tétano, hepatite A, ataques de bichos peçonhentos, diarreia, sarna, piolho e agravamento das síndromes respiratórias. E a Saúde Mental de uma certa maneira afeta a todos envolvidos na tragédia. Não há como ficar imune a perdas de vidas, familiares, amigos e perdas materiais adquiridas com esforço e renúncia de uma vida toda.
O Rio Grande Sul caminha para completar um mês debaixo d´água. Nos dias em que a água retrocedeu, emergiu a inevitável preocupação com uma possível escalada de doenças pós-enchente, com muitas pessoas voltando a suas casas e negócios pisando na água.
Entre as mais imediatas está a leptospirose.
Vejam a situação que a enchente gera. A água do rio sobe e se mistura com a rede de esgoto (contaminada e cheia de ratos). Além disso, os ratos e outros bichos fazem xixi nessa água, que ocupa ruas e casas há semanas. Muito presente na urina dos ratos e outros bichos, a bactéria Leptospira ganha um enorme espaço para infectar muita gente (em condições favoráveis, ela permanece ativa por semanas ou até meses )– o que ocorre por meio de lesões, contato prolongado da pele com a água contaminada ou pelas mucosas.
O estado registrou até 22/05 duas mortes e 29 casos, com expectativa de chegar a 1.000 infeccionados neste período de enchente.
A doença infecciosa e febril pode levar à morte, o que ocorre em 40% entre dos episódios mais graves.
Os casos graves necessitam de hospitalização, mas, sim, a leptospirose pode ser tratada.
Ela é uma doença que emerge depois das cheias, e apenas uma entre várias outras que o sistema de saúde de qualquer lugar precisa tratar.
Mas qual a situação da rede de atendimento no Rio Grande do Sul depois das chuvas para suprir essa demanda?
Complicada, muito complicada. Três mil estabelecimentos de saúde atingidos, dos quais 18 estão inoperantes, 75 com atendimento parcial e R$ 3 bilhões de prejuízo (estimados até agora) na rede de saúde. Mas o impacto maior ainda está por vir, as doenças mentais, depressão, síndrome do pânico, crises de ansiedade. Não há sistema de saúde que consiga dar conta de tamanha demanda que permanecerá junto com as demais condições de saúde a serem cuidadas.
Em abril, organizei uma audiência pública para debater os impactos das mudanças climáticas na Saúde.
Vários especialistas levaram informações preciosas e úteis sobre o tema, com exemplos muito claros e sugestões de ações que precisam ser implementadas.
As chuvas de maio no Rio Grande do Sul vieram traduzir de maneira clara, ampla e didática que o impacto pode ser trágico, e o preço social, econômico e humano a ser pago, astronômico.
Será necessário um amplo debate com a sociedade, que por um lado pressiona o poder público para avançar em áreas para realizar empreendimentos e projetos, mas por outro lado acusa esse mesmo poder público de não tomar as medidas necessárias para evitar ou minimizar catástrofes com a que aconteceu no Rio Grande do Sul e tantos outros locais recentemente.
Mudanças climáticas estão aí. Ou a sociedade entende que não há mais tempo para agir ou poderemos ser os próximos a sofrer as consequências.
Só falta desenhar.
Foto: Governo do Rio Grande do Sul
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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