Por Ana Paula Barcellos
Assim como existem cidades dentro de cada cidade, existe várias Londrinas dentro da grande Londrina. A Londrina Norte não é a mesma que a Londrina do Sul, a da Leste não é jamais a mesma da Oeste.
Revezo meus dias entre a Zona Leste de Londrina e o Centro da cidade. Centro que eu conheço muito bem, quase como a palma da mão porque cresci no centro, morei em várias de suas partes – o centro histórico sempre foi meu quintal. Também já corri muito trecho pé vermelho, vantagem de quem teve por perto familiares corretores de imóveis vendendo lotes, terrenos, chácaras por aqui.
Cada vez que ia com minha tia ver novos lotes, a promessa era a mesma: você vê que aqui, agora, não tem nadinha, né? Agora imagina cheio de casas, com escolas, comércio… Isso aqui vai estar cheio daqui uns 15 anos. Todas as vezes a promessa se cumpriu. Hoje passo por muitos trechos com lotes vendidos por ela e outros corretores e está, mesmo, cheio.
Voltando pras muitas Londrinas: se você passa de uma para outra, ou outras, durante um único dia, percebe logo as diferenças. Eu por exemplo, começo meu dia no Jardim Ideal, na Zona Leste, passo pela Vila Casoni e chego no centro histórico – mais exatamente na antiga Vila Conceição. E assim que saio de uma Londrina para chegar em outra, sou recebida por elas: as ruas, a conservação das vias, o trânsito, o mato, tudo é diferente.
No Ideal, assim como no Santa Terezinha, Amaral, Castelo e adjacências, não dá pra tomar água da torneira, por exemplo. Dizem que dá, geral toma, mas não dá não. Já me acostumei, inclusive, a abrir a torneira e esperar o a água escorrer pela torneira um tempo, deixar de ser turva, para utilizar para outras coisas. Vire e mexe falta água, inclusive. Vira e mexe, quando ela volta, é marrom ao invés de branca antes de voltar a ser transparente.
As cidades prejudicadas
Quando chego no Centro, sou recebida por uma água de torneira fresca, realmente insípida e inodora, transparente. Tomo de cara três copos, como quem tira o atraso de tomar água fácil assim e boa. A água daquela Londrina é uma das melhores!
Semana passada, quando teve a pancada de chuva que nem de longe foi das mais fortes e, ainda assim, saiu alagando tudo e cortando a luz de algumas das Londrinas, me vi sem internet, deitada na cama, no escuro, pensando. Porque, uma semana antes, teve corte de água programado em praticamente todos as Londrinas, menos na Centro e em uma determinada parte da Londrina Oeste. A água cortou ruim e voltou terrível. E a luz dessa parte da Londrina do Leste demorou mais de duas horas pra voltar, enquanto em trechos das outras Londrinas a luz voltou muito, muito antes.
Nesse momento, me lembrei também da avalanches de casas térreas para vender nos trechos que passo para subir, a maioria por conta da insegurança – tem trechos com três placas de “vende-se” para cada seis casas, mais ou menos. Em contrapartida, descobri que é quase impossível alugar uma casa na Londrina Centro, de tanta procura que tem. Você vê uma em site de imobiliária e quando entra em contato com o corretor, já foi reservada. Aí então me lembrei da dificuldade de tirar lixo reciclável na rua do bairro, da facilidade que é na do Centro… na Londrina do Centro recolhem lixo orgânico e rejeito todo dia!
E então, por último, me lembrei que estamos em ano eleitoral. Nessa hora, a luz voltou. Hora de pesquisar sobre infraestrutura da cidade como pauta política e perfis de pré-candidatos…
Ana Paula Barcellos
É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal. Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab
Foto principal: site da Codel
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