Por Rogério Rigoni
Nelson Gonçalves nasceu em 21 de junho de 1919. Cantor e compositor brasileiro. O cara foi o segundo maior vendedor de discos da história do Brasil, com 79 milhões de cópias vendidas até março de 1998, ficando atrás do CHATO do Roberto Carlos, que vendeu 120 milhões. Foi também o artista que mais tempo ficou em uma mesma gravadora. Foram 59 anos com a RCA Victor/BMG Brasil.
Até aí, essas são as informações básicas sobre esse grande cantor, que por sinal era gago.
Agora vamos para o lado B da história. Nelson já era famoso e tinha uma das melhores vozes do Brasil, se não a melhor. Na época, ele morava em Copacabana, no Rio de Janeiro, e tinha acabado de voltar de Belo Horizonte onde foi fazer um espetáculo. O cara chegou em casa cansado, desanimado, meio de saco cheio de tudo, inclusive seu casamento não ia nada bem.
Nelson resolveu então sair para um “rolê” em Copacabana, na praça do Lido. Parou em um restaurante chamado Grego e lá encontrou um cara. Este, percebendo o desânimo do Nelson, perguntou: “Que cara é essa?” Nelson comentou que estava desanimado e tals… Foi nessa que o cara o convidou para ir ao banheiro, ele até estranhou o convite comentando: “Ué meu camarada, mudou de mão?” Mas não era nada disso, o cara tirou a carteira fez 2 carreiras de pó e falou: “Cheira ai!” Nelson relutou, mas instigado pelo amigo foi lá e “mandou a lagarta napa adentro”. Continuaram no bar bebendo e cheirando. Nessa “Função” Nelson foi dormir às 9 da manhã. Ele acordou bem disposto e falante, aquele desconforto mental tinha sumido.
No dia seguinte, ele encontrou o “amigo de prato” e lá foram eles “retocar o nariz” mais uma vez. Nelson ficou nessa “função” durante 15 dias. Até que um belo dia ele não encontrou o cara e foi bater lá na casa do sujeito, perguntando se ele tinha aquele “pozinho mágico”. O cara disse que tinha acabado, mas que conhecia um “Trafica” que tinha o que ele precisava.
Foi aí que a vida do grande Nelson Gonçalves foi para a merda. O cara estava tão viciado, que não fazia mais shows e não gravava discos, o negócio dele era pirar o cabeção. E assim o dinheiro foi acabando junto com os apartamentos, casas, carrões e o casamento. Foi tudo “nariz abaixo”. Ele chegou a cantar na casa de um maluco por 5 gramas de pó. Isso mesmo! Seu pagamento foi em cocaína. Aliás, ele fez outros shows a troco de pó.
E no meio dessa doideira toda, ele conheceu uma outra mulher, que mais tarde seria sua esposa. Nelson foi totalmente sincero com ela, falando do seu vício incontrolável em cocaína, que queria largar do vício, mas não conseguia. Falou de suas loucuras e também dos “perregos” que ela passaria casando com ele. Ela concordou, mas pediu para eles irem embora para São Paulo, e assim foi. Durante um tempo ele se manteve sóbrio, quando de repente começaram a aparecer a galera do “Nariguet”. Não deu outra: Nelson embarcou com força na “farinha”. Ele virou uma espécie de gangster. O cara andava armado e muito louco, sua mulher ajoelhava e rezava enquanto ele dava coronhadas no peito, pescoço e na cabeça dela e também nos filhos. Em uma ocasião, ele colocou os dois de pé na parede e ia matá-los. Por Deus, isso não aconteceu.
Eles acabaram indo morar em casa de aluguel, que vivia atrasado e nem comida tinha. A vizinha que morava em frente e por caridade, levava comida para eles. A família dormia em cima de jornais e se cobriam com jornais também.
Até que um dia ele resolveu que não aguentava mais, se internou em uma clínica, mas não deu certo e acabou voltando para o vício.
Nelson então tomou a atitude mais dura da vida dele. Ele se trancou em um quarto onde comida e água eram passados por debaixo da porta. Ele pediu que não abrissem a porta por nada. E assim, passou vendo bichos, se jogando contra a parede, gritando e se contorcendo de dor. Ele foi se recuperando, até que felizmente a abstinência foi melhorando e puderam abrir a porta do quarto para ele dar uma volta, mesmo não estando fisicamente bom.
A visão mais linda que ele teve foi quando, já muito melhor, tomando remédios e tal, ele conseguiu sair na calçada de casa. Lá ele pode ver o padeiro entregando pão e leite nas casas, uma senhora varrendo a calçada… Foi nessa visão que ele teve certeza que conseguiria se manter sóbrio e seguir sua tão vitoriosa e mágica carreira.
E foi isso que aconteceu, ele voltou a fazer shows, gravar discos, vender milhões e principalmente ter de volta o que a cocaína lhe tirou, o amor próprio.
Cara, e tudo isso na década de 50, 60 onde não se falava em drogas tão abertamente como hoje. Meu respeito total a Nelson Gonçalves, um cantor que aprendi a escutar e gostar através do meu pai, que foi um fã incondicional. Inclusive, muitas dessas histórias foi meu pai quem me contou e que hoje, com a internet, pude ir mais a fundo nessa história triste, mas de uma superação de se tirar o chapéu infinitas vezes.
E para que não sabe, está disponível no YouTube Nelson Gonçalves – O Filme. Assistam que é muito massa!
Uma coisa legal do Nelson, é que ele fazia questão de contar sobre seu vício, isso o ajudava a se manter sóbrio e também servia de alerta para quem estava embarcando nessa barca furada.
Olha, vou te contar! Eu cheguei no fundo do poço, mas o Nelsão…
Nelson Gonçalves nos deixou em 18/04/1998. Sóbrio! Assim como eu estou hoje.
Valeu demais, Nelson Gonçalves! Você para mim foi e é o cara mais Rock and Roll do Brasil!
(É pai, lembra quando eu pedia para você cantar: “Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele, tá doendo em mim?” Então, pai… onde quer que você esteja, essa matéria é para você,Orlando Rigoni!).
Valeu, Nelson Gonçalves!
BORA PRO ROCK!
Rogerio Rigoni
Foi comerciante a vida toda, se rebelou e assumiu seu lado de escultor. A música que sempre foi sua paixão! Rock and roll na vida e na arte!
Foto: Reprodução
1 comentário
Gosto demais do Nelsão… já embalou muitos dos meus amores… História dele é pura superação, até hoje ouço sua inconfundível voz. Ahh só não gostei por chamar de “chato” o meu Amigo Roberto Carlos❤️ ele ocupa algumas vagas do meu coração de fã. ❤️ Parabéns, sobrinho Rogério Rigoni, sucesso sucesso e $uce$$o sempre. Bençãos Divinas. Beijos