Phubbing: a distração digital que compromete as relações interpessoais e a saúde mental

Close-up image of young girl hand with modern smartphone device, female hands typing text message via cellphone in a cafe bar.

Por Alessandra Diehl, Aline Coraça Trevelin, André Almeida e Rogério Bosso (*)

O termo phubbing é um neologismo em inglês entre as palavras phone (telefone) e snubbing” (esnobar). Em outras palavras, quer dizer o ato de ignorar uma pessoa em um contexto social para se concentrar excessivamente no celular. O termo foi criado em 2012 como parte de uma campanha do Macquarie Dictionary, na Austrália. A campanha foi desenvolvida pela agência de publicidade McCann Melbourne, que convidou lexicógrafos, autores e poetas para criar o neologismo.

Como os smartphones são usados para manter relacionamentos sociais e se comunicar com os outros, esse fenômeno ironicamente, mas frequentemente observado, é que as pessoas têm dificuldade em prestar atenção ao seu companheiro (a) ou parceria de conversa enquanto usam um smartphone. O phubbing não deve ser considerado um problema simples; em vez disso, é uma forma nova e perigosa de adição em tecnologia que afeta os domínios psicológicos e sociais dos seres humanos.

O Phubbing - o ato de ignorar o contexto social para se concentrar no celular - afeta as relações de amizade, amorosos e geram altos índices de insatisfação e depressão.

A dimensão do phubbing em números

Por exemplo, uma média de 36 casos de phubbing foram observados em um restaurante durante o almoço; isso foi equivalente a passar 570 dias sozinho enquanto estavam com outras pessoas; 97% dos indivíduos percebem o sabor de suas refeições como pior enquanto praticam phubbing; e 87% dos adolescentes preferem se comunicar por mensagens em vez de comunicação face a face.

Quais as principais consequências do phubbing?

Estudos recentes indicam que esse comportamento tem consequências graves para a qualidade das interações sociais e o bem-estar psicológico. O phubbing está associado a um aumento da solidão e a uma diminuição da satisfação nas amizades, o que, por sua vez, impacta negativamente o bem-estar psicológico dos indivíduos afetados.

Outras pesquisas também mostram que a prática de phubbing pode enfraquecer os laços sociais, levando a sentimentos de rejeição e exclusão social, especialmente em contextos familiares e de relacionamentos românticos.

O medo de perder algo – conhecido pela sigla FoMO (medo de não conseguir acompanhar as atualizações e eventos)-, compelindo a pessoa a manter-se conectada às redes sociais está positivamente correlacionado com o phubbing, tornando mais provável que pessoas com maior FoMO se envolvam nesse tipo de comportamento. O phubbing também está relacionado com sintomas de depressão severa, uma redução na autoestima e no senso de pertencimento, o que agrava ainda mais o impacto na saúde mental dos indivíduos ignorados.

Pesquisas adicionais apontam que o phubbing não afeta apenas relações de amizade, mas também relacionamentos amorosos, onde pode causar conflitos conjugais e sentimentos de alienação emocional. Parceiros que se sentem ignorados pelo uso do celular relatam níveis mais altos de insatisfação e depressão, evidenciando a gravidade do impacto desse comportamento nas relações íntimas.

O que fazer para evitar o phubbing?

Esses resultados negativos em áreas emocionais e relacionais nos mostram que existe uma necessidade urgente de prevenir o phubbing por meio de intervenções e educação apropriadas e também fornecer orientação aos jovens, principalmente, sobre o uso adequado dos smartphones. Além disso, como o phubbing envolve adicção em smartphones e a multitarefa com mídia, que são características típicas da geração digital, é altamente provável que prejudique o desenvolvimento das habilidades interpessoais.

Psicólogos e terapeutas ocupacionais desempenham um papel essencial na gestão do phubbing, ajudando indivíduos a se conscientizarem dos hábitos de uso do celular e seu impacto nas relações. A terapia ocupacional promove interações sociais saudáveis por meio de estratégias como “zonas livres de celular”, desenvolvimento de habilidades sociais e equilíbrio entre tecnologia e vida real, além de auxiliar na organização da rotina para fortalecer conexões e melhorar a participação em atividades presenciais.

A perspectiva ocupacional vê o phubbing como uma interrupção nas ocupações sociais, que são fundamentais para o bem-estar. Intervenções terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), podem ser eficazes na redução desse comportamento, ajudando os indivíduos a modificar seus hábitos relacionados ao uso excessivo de tecnologia. Além disso, intervenções como treinamento de habilidades sociais, regulação emocional e técnicas de mindfulness podem ser eficazes na redução do phubbing, ajudando as pessoas a estarem mais presentes em suas interações.

Essas intervenções também podem ajudar em ambientes familiares, onde terapias focadas no fortalecimento da comunicação e construção de vínculos afetivos são recomendadas para minimizar os efeitos negativos da distração digital. O uso excessivo de smartphones está relacionado ao aumento de sintomas de ansiedade, estresse e depressão, sugerindo que o manejo desse uso é fundamental para a saúde mental.

Essas abordagens incentivam os indivíduos a estarem presentes no momento (no aqui e no agora), reduzindo o uso de dispositivos durante interações interpessoais e melhorando a qualidade das relações. O phubbing é uma prática que pode parecer inofensiva, mas seus impactos na saúde mental e nas relações sociais são significativos. No entanto, com intervenções apropriadas, é possível restaurar o equilíbrio nas interações humanas, melhorando a qualidade de vida e o bem-estar emocional das pessoas.

(*) Alessandra Diehl, psiquiatra, membro do conselho consultivo da ABEAD; Aline Coraça Trevelin, terapeuta ocupacional, secretária da atual diretoria da ABEAD; André Almeida, mestrando da UNICAMP e associado ABEAD; Rogério Bosso, psicólogo, associado da ABEAD.

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