É possível sair da situação de rua e recuperar a dignidade 

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Por Suzi Bonfim

No início desta semana, a conversa com um rapaz de apenas 20 anos no portão de casa, renovou minha esperança de que é possível restabelecer a dignidade de quem acaba vivendo nas ruas.  Vitor, como ele se apresentou, estava no bairro vendendo sacos de lixo para ajudar a casa de apoio Comunidade Cristã Terras de Sião onde ele está em tratamento da dependência de cocaína. 

O rapaz me chamou a atenção pela educação, postura e o olhar firme ao falar comigo. Fiz algumas perguntas que ele respondeu sem titubear. Há três anos se envolveu com as drogas em Paranavaí (166 km de Londrina) onde mora com a mãe e mais dois irmãos. O pai faleceu há alguns anos. Em função do vício acabou morando nas ruas. Quando se deu conta do que estava acontecendo buscou tratamento na comunidade em Londrina. 

Com disciplina, oração, trabalho e assistência médica viabilizados pela entidade, Vitor disse que está limpo e vai voltar para casa da mãe no final do mês e está ansioso para reatar com a namorada. Fiquei emocionada ao ver o brilho nos olhos do garoto e disse que ele está no caminho certo ao deixar o mundo das drogas, ajudar a mãe e os dois irmãos menores e retomar as rédeas da vida que ele tem pela frente. 

A  comunidade Terras de Sião, com sede em Sorocaba, SP, desde maio de 2014, tem uma unidade em Londrina onde atende cerca de 15 pessoas. No site da  entidade, a informação é  de que a ong não cobra nenhum tipo de mensalidade pelo auxílio que fornece e se mantém totalmente através de doações (roupas, alimentos, e recursos financeiros). A venda de saquinhos de lixo também ajuda nas despesas.

Ou seja, é a sociedade fazendo o que o poder público não consegue sozinho. No artigo sobre as pessoas em situação de rua, exemplos de como alguns países e o próprio Brasil têm alternativas positivas para resolver o problema, a viabilização de uma casa, um lugar para morar para essas pessoas dão resultado.

Mas, pessoas em situação de rua enfrentam uma série de problemas complexos, que vão além da falta de moradia, como as questões relacionadas à saúde, segurança e dignidade. As doenças mentais e os problemas de família também levam muitos para as ruas, sem ter pra onde ir.

A rua, uma terra de ninguém, expõe as pessoas a condições insalubres, má nutrição, doenças infecciosas, e falta de acesso a serviços médicos. Elas  estão mais vulneráveis a crimes, violência física, abuso, e exploração. Não têm acesso à educação, serviços de saúde mental e programas de reabilitação, 

Como se isso não bastasse, a sociedade muitas vezes estigmatiza essas pessoas, vendo-as como responsáveis por sua própria condição, o que dificulta sua reintegração.

Combater a situação de rua exige uma abordagem multifacetada, que combine políticas públicas eficazes, apoio comunitário, e ações diretas para atender às necessidades imediatas dessas pessoas.

O Vitor, o rapaz que se recuperou, tem para onde voltar. E quem não tem, precisa de apoio. Aos futuros gestores da cidade, algumas sugestões que podem ser viabilizadas pelo Poder Público. 

  1. Políticas de Habitação: Implementação de programas de habitação acessível e apoio à moradia de transição, como “Housing First”, que oferece moradia estável como primeiro passo para a reintegração.
  2. Apoio à saúde: Serviços de saúde móvel que atendem às necessidades específicas das pessoas em situação de rua, incluindo saúde mental e tratamento de dependência.
  3. Centros de acolhimento e Abrigos: Expansão e melhoria de centros de acolhimento que oferecem não apenas abrigo, mas também alimentação, roupas e serviços de apoio.
  4. Programas de Reintegração Social: Programas que oferecem treinamento profissional, suporte para encontrar emprego, e assistência na reaquisição de documentos.
  5. Educação e sensibilização: Campanhas para combater o estigma e sensibilizar a sociedade sobre as causas da situação de rua, promovendo uma cultura de empatia e solidariedade.
  6. Acesso a benefícios sociais: Facilitação do acesso a programas de assistência social, como auxílio emergencial, seguro-desemprego, e programas de renda mínima.
  7. Parcerias Público-Privadas: Colaboração entre governos, ONGs e empresas para criar oportunidades de trabalho e habitação para essas pessoas.
  8. Intervenções precoces: Identificar e intervir em grupos de risco, como pessoas que estão prestes a ser despejadas, para evitar que entrem em situação de rua.
  9. Redução de danos: Programas de redução de danos para aqueles que sofrem de dependência química, fornecendo apoio sem exigir abstinência imediata.
  10. Iniciativas comunitárias: Envolver a comunidade local em esforços de apoio, como programas de voluntariado, doações e iniciativas de apoio psicológico e social.

Suzi Bonfim

Jornalista, formada na UEL, por quase 30 anos morou em Cuiabá -MT. De volta a Londrina-PR, vive a fase R de reencontros e renovação, respirando novos ares. Escreve sobre o que acredita por um mundo melhor. Instagram @suzi.bonfim

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(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE

foto capa:  freepik 

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