Por Edmilson Palermo Soares
Se tem uma lei que o brasileiro não quebra de jeito nenhum é a Lei do Gerson.
Em se tratando de adquirir um rótulo famoso, mesmo correndo o risco de ser um vinho falso ou com defeitos, pagar um preço bem abaixo do mercado, parece não ser um problema para ostentação nas redes sociais.
Facebook e Instagram ou mesmo pelo Whatsapp você recebe constantemente uma lista de rótulos (principalmente argentinos) com preços interessantíssimos, muitas vezes custando menos da metade do valor praticado em lojas físicas. “É de um conhecido que traz direto da Argentina, aqui você paga um preço justo”, a pessoa comenta. E normalmente só vende de caixa fechada.
O que muitos podem achar se tratar de um bom negócio e “coisa de muambeiro pequeno” é, na verdade, um crime de gente grande, o de descaminho (art. 334 do Código Penal), que consiste na importação de produtos sem o pagamento dos devidos impostos. É, inclusive, diferente do contrabando (artigo 334-A do Código Penal), quando são trazidos ao Brasil itens proibidos, como drogas.
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Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), as organizações criminosas argentinas e brasileiras cometem diversos outros crimes para trazerem esses vinhos ilegalmente para o nosso país. Entre eles, roubo, latrocínio e associação criminosa, com uso de laranjas e olheiros (muitas vezes menores de idade).
Ainda de acordo com a PRF, os lucros altíssimos, de cerca de 300% em cima do valor de compra, têm atraído cada vez mais pessoas para essa atividade. A instituição afirma que o número de apreensões de cargas subiu cerca de 30 vezes só no Paraná, uma das principais rotas desse tipo de crime.
Além do “contatinho do zap”, restaurantes e lojas de conveniência, além de lojas em marketplaces, são alguns dos locais que mais vendem essa mercadoria de origem ilícita no país. Como nem todos praticam grandes descontos no valor final, você pode estar comprando vinho ilegal.
Muita gente conhece bem essa realidade e sabe diferenciar uma garrafa de importação legal de um ilegal, mas continua comprando dessas lojas obscuras, pensando apenas na economia. Alguns até compram, mas não recebem, e não contam para ninguém com receio de virar chacota.
Entre outras coisas, existe a possibilidade dessa bebida ter oxidado após ficar dias em galpões de fazendas e/ou até no meio de plantações, esperando o transporte final. Podem ainda ter sido exposta a incidência de luz e calor durante a distribuição pelas receptoras em todo o país.
Outro risco é você estar comprando um vinho falsificado. Rótulos e cápsulas de vinhos de entrada são trocados pelos de vinícolas famosas, amadas pelos brasileiros; ou, ainda, garrafas de qualidade são abertas sem qualquer preocupação sanitária e misturadas com bebidas de menor valor.
Registros da Polícia Federal, que não discriminam o que é descaminho ou falsificação, apontam que só entre janeiro e junho de 2023 foram apreendidas 27,5 mil garrafas no país, contra 49,6 mil em 2018, o maior número da série, ou frente às 43,8 mil de 2022.
Há ainda registros de intoxicação inclusive por metanol, que pode causar falência dos órgãos e hemorragias internas.
Se houver algum problema, a quem você irá recorrer? E o seu dinheiro, sabe pra onde está indo ou a quem está financiando?
Reconhecer um vinho falsificado ou adulterado pode ser desafiador, mas existem algumas dicas que podem ajudar na identificação de produtos não autênticos.
Aqui estão dicas valiosas para identificar se o vinho é falso ou adulterado:
- Examine a qualidade do rótulo. Rótulos falsificados podem apresentar erros de impressão, bordas irregulares ou tinta borrada;
- Verifique se há informações inconsistentes, como a safra, nome do produtor ou informações de certificação.
- Compare a garrafa com outras do mesmo produtor. Garrafas de vinhos de qualidade geralmente têm um design distinto e podem incluir marcas específicas de fabricação;
- Rolhas de boa qualidade são feitas de cortiça natural, e muitas vezes têm a marca do produtor. Rolhas sintéticas ou de baixa qualidade podem ser um sinal de adulteração;
- Uma rolha que está muito seca ou não está bem aderida à garrafa pode indicar que o vinho foi armazenado inadequadamente;
- No primeiro gole, preste atenção a aromas anormais, como cheiros de vinagre ou produtos químicos. Um gosto desequilibrado ou muito doce pode indicar adulteração.
- Sempre compre de fornecedores e lojas respeitáveis. Evite comprar vinhos a preços muito baixos ou em locais que não são especializados;
- A Mistral em conjunto com a Catena Zapata instituiu um selo holográfico de difícil replicação visando combater o descaminho e a falsificação de seus vinhos, que são os mais encontrados nas apreensões. Sem este selo, é ilegal.
E não se esqueça. A maioria destes vinhos são vinhos de guarda, e as safras mais recentes ainda não estão prontas para serem consumidas, pois os vinhos ainda não evoluíram para mostrar todo o seu potencial.
Tears!!!
foto: www.gov.br
Edmilson Palermo Soares
Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral.
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