Por Edmilson Palermo Soares
Há alguns bons vinhos que não tem o DOC (Denominação de Origem Controlada). Mas por que será que alguns produtores não engarrafam seus vinhos com esta certificação?
Responder a esta pergunta nos leva a algumas possibilidades:
- Uma forma de protesto;
- Uma forma de ter maior liberdade na criação.
A história da regulamentação da DOC Chianti pode ajudar a mostrar a diferença de pontos de vista que, muitas vezes, surgem nas denominações de origem.
Como já falamos em nosso artigo sobre o Chianti foi delimitada e até certo ponto regulada em 1716. Porém, somente em 1967, o governo italiano criou seu sistema oficial de proteção das denominações de origem. E Chianti estava entre as primeiras a ser regulamentada.
Na época, boa parte dos produtores acreditava que a oficialização da DOC traria benesses para a região que passava por uma longa e dura crise. Alguns não acreditavam que somente isso pudesse alterar o cenário, já que o vinho Chianti tinha ganhado uma reputação ruim ao redor do mundo, devido à baixa qualidade.
Produtores optam por uvas não permitidas no DOC
Devido a isso, alguns produtores passaram a fazer vinhos com uvas francesas, não permitidas pelas regras de Chianti (uvas permitidas somente Sangiovese, Canaiolo, Malvasia e Trebbiano). Vinhos assim não podiam ter o selo da DOC, sendo rebaixados para a categoria “vino di tavola”.
Em 1971, Piero Antinori criou um blend com Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, denominando-o de Tignanello.
Devido a estas situações, principalmente pelas secas da época, foi se verificando que era possível fazer bons vinhos na região, mesmo não estando dentro das regras da DOC. Mais tarde, as regras se adaptaram e incluíram estas uvas com as outras para a produção do Chianti em regiões delimitadas.
Uma das razões seria o enfrentamento do aquecimento global, outra certamente é o desafio “competitivo” com produtores de regiões onde há regras bem menos rígidas, especialmente no Novo Mundo, com suas denominações de origem bastante ecléticas.
Se decidir rotular o vinho como IGP (Indicacione Geográfica Protecta), é possível especificar que vem da Região. A mesma coisa acontece se o vinho for DOP (Denominacione de Origem Protecta).
No Vino di Távola não são permitidos fazer referência à região ou as uvas utilizadas. Isso permite mais liberdade para incluir outras uvas, definir os próprios níveis de rendimento e determinar a composição química do vinho, podendo criar novos produtos para competir no mercado com os Vinhos do Novo Mundo.
Diante de normas rígidas, alguns produtores podem decidir por “desclassificar” seus vinhos voluntariamente.
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Um exemplo disso é do produtor Angelo Gaja, conhecido como rei de Barbaresco. Apesar de ter sido um dos nomes que mais contribuiu para o desenvolvimento dos vinhos da região e do nome Barbaresco, alguns de seus principais rótulos, como Sorì Tildin, Costa Rusi e Sorì San Lorenzo, ficaram anos a fio sem ser DOC, pois, além da Nebbiolo, recebiam uma pequena parcela de Barbera, proibido pelas regras locais.
Só recentemente é que os vinhos voltaram a ser feitos 100% com Nebbiolo e assim puderam ostentar o nome da DOCG (Denominazione di origine controllata e garantita) no rótulo.
Em algumas regiões, há regulamentos que limitam a produção de uvas por hectare, o rendimento máximo. Então, se o produtor fizer vinhos acima da quantidade permitida, o excesso precisa ser vendido à granel ou sob um rótulo mais “genérico”.
Durante muitos anos, isso foi bastante comum na Borgonha, onde vinhedos de classificação mais alta, às vezes, eram “rebaixados” devido ao rendimento.
Algumas das principais controvérsias entre produtores e conselhos reguladores das DOCs residem em disputas sobre uso de variedades proibidas ou de processos de vinificação não regulamentados (ou, às vezes, regrados demais). Por isso, produtores ditos “naturais”, por exemplo, dificilmente tendem a ter seus vinhos aceitos pelas denominações.
Muitas denominações mais rígidas estão, aos poucos, tentando flexibilizar algumas regras, evoluir.
O mercado dita as regras.
Fotos: Freepik
Edmilson Palermo Soares
Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral.
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