Por Márcia Huçulak
Na semana passada, um homem de 77 anos morreu em Santos (SP) após levar uma voadora (chute com os dois pés no peito) desferido por um homem de 39 anos em um episódio de trânsito.
No Rio de Janeiro, o marido de 53 anos de uma mulher rica de 88 responde processo por mantê-la em cárcere privado e maus tratos ao longo de dez anos.
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Um filho e uma nora tentam explicar à Justiça gaúcha por que abandonaram um homem de 76 anos na rua, ato flagrado por câmeras. Os filhos não se entenderam sobre quem cuidaria do pai e um deles resolveu simplesmente largá-lo em algum canto.
Em Goiás, um abrigo com 38 internos é suspeito de dopar idosos, recurso usado como alternativa a aumentar o número de cuidadores (dois) no lugar. A gestora foi afastada.
São casos de polícia que se repetem com frequência preocupante, cada um com suas nuances, envolvendo personagens das diferentes classes sociais e econômicas.
Não quer dizer que sejam a regra no universo da população idosa. São, sim, a parte mais visível da violência contra idosos, que é crescente em todo o Brasil.
No ano passado, houve no país aumento de 50 mil casos de agressão em relação ao ano anterior. Entre 2020 e 2023 foram mais de 403 mil registros – ou mais de 1.100 por dia! (Os dados são do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, compilados pelas universidades Federal Fluminense e do Estado do RJ).
No Paraná, apenas o Disque Idoso registrou 1.400 denúncias até abril deste ano.
Violência contra a pessoa idosa é subnotificada
Por si só, os números já são graves, mas sabemos que representam uma fração do que ocorre na realidade, já que a falta de notificação tende a ser muito maior. É comum que o abusador seja filho, neto, cônjuge, genro ou nora. É comum, portanto, que haja vergonha, medo ou desesperança em fazer uma denúncia, sem falar que em casos mais agudos o idoso depende de ajuda para expor sua situação.
Violência física é inaceitável. No caso da impetrada contra idosos se reveste de uma covardia abjeta. Infelizmente, ela não é a única forma de afrontar a dignidade de quem deveria receber da família, da sociedade e dos governos a melhor das atenções nessa fase da vida.
Violências psicológica, patrimonial, sexual, abandono, além da discriminação, também fazem parte de um cardápio indigesto que precisa ser mais bem enfrentado, com mudanças nas políticas públicas que se revelam a cada dia mais urgentes.
Muitas dessas violências são mais sutis do que um tapa ou empurrão, o que não quer dizer que sejam menos nocivas. Aplicadas no dia a dia, corroem a dignidade, a segurança e a autonomia que deveriam ser reforçadas nessa fase da vida.
Os direitos dos Idosos foram estabelecidos no Brasil em 2003, com o Estatuto da Pessoa Idosa (lei 10.741), trazendo garantias e condições para preservação da saúde e aperfeiçoamento (intelectual, social e espiritual), com liberdade e dignidade.
Quase 20 anos depois, o Censo de 2022 mostrou que a população acima dos 60 anos cresceu de maneira significativa – aumento de 56% desde 2010, somando 32 milhões de brasileiros e brasileiras, 1,9 milhão no Paraná.
Ou seja, ao se projetar o futuro teremos muito mais gente a demandar os direitos previstos no estatuto – ao mesmo tempo em que há necessidade de se pensar em muitos novos tópicos para essa lei.
Precisamos agir já, é urgente que governos e a sociedade se mobilizem para estruturar políticas públicas e promover programas para acrescentar qualidade de vida aos anos que ganhamos.
Temos avançado, há muitos bons exemplos de ações, programas e projetos nas áreas privada e pública. Mas não são suficientes para atender sequer em quantidade, sem dizer da qualidade, as necessidades de melhorar os cuidados dessa população que ganhou anos de vida e mudou a pirâmide etária no país.
É necessário ganhar escala.
O crescimento da violência e o preconceito que vemos cotidianamente contra uma população tão especial estão aí a exigir de todos nós o empenho e o respeito que as pessoas idosas fizeram por merecer ao longo da vida.
Estamos no Junho Violeta, que inclui o 15 de junho (sábado passado) como Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, estabelecido pela ONU (Organização das Nações Unidas). O tema desse ano é “O Respeito ultrapassa gerações”.
Que falar sobre esse tema nos inspire a refletir e agir, e rápido!
Foto: Canva
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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