Meu marido é um filhinho da mamãe

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Por Telma Elorza

“Estou casada há pouco mais de dois anos e não suporto mais meu marido ‘filhinho da mamãe’. Ele sempre faz tudo que ela quer e chega a me deixar de lado para atender as maluquices dela. Achava até engraçadinho quando namorávamos e pensava que um cara que valorizava tanto a mãe deveria ser um bom marido e pai. Mas se mostrou um terror na minha vida. A gota d’água foi ele ter cancelado a viagem que planejamos e economizamos desde o casamento (seria nossa lua de mel atrasada) porque ela inventou de fazer uma festa de aniversário adiantada. Eu reclamo e brigo com ele, mas não adianta nada. Estou farta de tanta intromissão em nossos planos, mas não sei como resolver a situação”.

Ai, amiga, que situação terrível. Mas vou ser bem sincera com você: como chegou a casar com um homem assim? Os filhinhos da mamãe dificilmente conseguem manter um relacionamento sério, que evolua para um casamento, porque a maioria das mulheres percebe, no namoro, o tamanho do problema que vai ser. Só posso achar explicar sua situação me dizendo que você ficou totalmente cega de paixão e que, só agora, depois que seus níveis de dopamina, ocitocina e vasopressina (os hormônios da paixão) voltaram ao normal, você começou a perceber os defeitos do amado. Aguentou foi muito.

É muito complicado quando a sogra (dele ou dela) se intromete no casamento dos filhos. É isso que faz a má fama das sogras. Eu tento ser uma sogra legal e evitar totalmente de dar pitaco no relacionamento do meu filho único, justamente para não atrapalhar o casal. Até para as agendas em comum, eu consulto minha nora para ver se não vou atrapalhar nenhum plano deles. Morro de medo de ser uma sogra intrometida. Infelizmente, nem todas as mães pensam assim, principalmente quando são filhos únicos (você não deixou isso explicíto, mas imagino que seja. Mães de filho único são as piores, kkk).

Quero deixar claro que nem sempre um filho com forte ligação com a mãe é algo negativo. O estudo “The Missing Story: Resistence to Ideals of Masculinity in the Friendship of Middle School Boys” (A história perdida: resistência aos ideais de masculinidade nas amizades de meninos da Middle School, em tradução literal), do psicólogo Carlos Santos, professor da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos, realizada em meados dos anos 2000, mostrou que meninos e homens que têm relacionamentos fortes com suas mães são mentalmente mais saudáveis, mais empáticos e têm um relacionamento melhor com as mulheres. O problema é que algumas mulheres esquecem que criam os filhos para o mundo e querem prolongar a infância deles eternamente.

Se você já reclamou com ele e continua a mesma situação, eu tenho uma péssima notícia: provavelmente ele não vai parar de priorizar a mãe, mesmo que coloque um fim em seu próprio casamento. Se ele foi criado assim, é díficil romper com condicionamentos que vem desde a infância e, pior, não consegue entender porque há tanta reclamação. Por isso, talvez seja necessário que você tome uma atitude mais drástica. Mas calma. Talvez ainda haja uma chance (remota, infelizmente) de que uma boa conversa resolva ou minimize a situação. Mas o tom desta conversa deve ser racional e lúcido, sem brigas.

O primeiro passo é convocar essa reunião conjugal. Diga que precisa falar com ele e, se for preciso, marque até data e hora. Deixe claro que é uma conversa que vocês precisam ter, mas evite definir o assunto antecipadamente para evitar que seu marido conte à mãe e ela dê um jeito de interferir. Fale que quer discutir algo aleatório, como a reforma da casa, troca de carro ou até exames médicos. Sei lá, inventa uma desculpa, minta, mas confirme a presença dele.

Nessa conversa, você tem que ser a mais racional possível, sem choros, sem brigas e, principalmente, sem culpar a mãe dele. Não vai ganhar nada com isso. O negócio é você chamar a responsabilidade dele com o casamento de vocês e que as atitudes dele estão pondo em risco. Enfatize que você não quer “atrapalhar” a relação dele com a mãe, mas que você precisa também se sentir valorizada. E que não pode mais admitir que qualquer coisa atrapalhe isso. Use o exemplo da festa de aniversário antecipada que atrapalhou a lua de mel atrasada, algo que ambos esperaram e se programaram muito para ter. Procure pontuar todas as vezes que ele deixou a relação com a mãe atrapalhar seus momentos a dois. E como isso afeta seu emocional e seu casamento

O que fazer se ele não se entender como filhinho da mamãe

Se, depois dessa conversa as coisas continuarem as mesmas, amiga, só vejo opções mais drásticas: terapia de casal ou separação. Nossa, tia Telma, que soluções drásticas. Sim. São drásticas. A menos que se conforme em ser a segunda mulher na vida dele para sempre (ou até a mãe desviver, como dizem nas redes sociais). Aí, tudo bem. Mantenha seu casamento, mas saiba que sua importância e emoções estarão sempre em plano inferior.

O mais lógico, agora que vocês já têm dois anos de casados, é tentar uma terapia de casal para ver se ele consegue mudar seu condicionamento emocional. Vai ter muita resistência, já aviso. Mas é uma forma de, pelo menos, tentar salvar um relacionamento. Procure um psicólogo especializado em casais e tente mudar as coisas entre os dois. Porém, nem tente sugerir terapia para sua sogra (embora ela precise MUITO de terapia) para não complicar ainda mais as coisas entre vocês. O negócio é investir em mudar seu marido.

Porém, a meu ver, embora tenha poucos elementos para julgar (você foi muito reticente no seu e-mail), a separação pode ser a melhor coisa para você. Isso pode causar um choque a ele, para “despertar para vida”. Sabe aquele ditado-chavão que diz “Se o ama, deixe-o livre. Se voltar, ele é seu. Se não, nunca foi seu”? Pois é, pode ser bem aplicada aqui. Sim, é piegas, clichê, mas, no período de separação, ele pode avaliar o que quer da vida: manter e ter um casamento feliz ou agradar a mamãe.

Esse período de separação também será bom para você avaliar se vale mesmo a pena se empenhar nessa batalha (que vai continuar porque sua sogra não vai desistir do filhinho dela, principalmente se ela não fizer terapia também) ou se é melhor desistir e procurar uma outra pessoa, mais madura emocionalmente e que valorize um relacionamento a dois. Pense nisso.

Espero ter ajudado.

Tem dúvidas sobre relacionamentos? Mande um e-mail para telma@olondrinense.com.br

Quem é a Tia Telma

Ter um relacionamento um filhinho da mamãe, um homem imaturo e que prioriza a mãe acima da companheira é um risco. Você pode ter todos seus planos mudados a qualquer momento porque o cara não corta o cordão umbilical.
Tia Telma versão IA

Telma Elorza é jornalista, divorciada e adora dar pitaco na vida dos outros. Mas sempre com autorização.

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Arte: Mirella Fontana

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