Por Ana Paula Barcellos
Nos últimos meses, as redes sociais foram invadidas pelo retorno de uma tendência tosca e perigosa: a celebração da magreza extrema. Mulheres estão postando fotos de seus corpos esqueléticos, acompanhadas de frases que tentam associar a felicidade e o sucesso a um ideal de beleza magro: “a felicidade é magra, minha felicidade é magra”, elas dizem. E essa onda não é apenas um modismo passageiro; é um sintoma profundo de uma sociedade gordofóbica que insiste na ideia de que a magreza é sinônimo de valor pessoal e aceitação social.
O que se “disfarça” como motivo de comemoração e orgulho é, na verdade, um reflexo de uma cultura que promove dietas absurdas e a busca pela aparência perfeita a todo custo. No meio desse cenário, práticas perigosas como o uso de medicamentos como o Ozempic e a sibutramina, frequentemente adotados para emagrecimento rápido, se tornam corriqueiras. Ignorar os riscos associados a essas substâncias é muito perigoso, pois os efeitos colaterais podem destruir a saúde física e mental das pessoas.
Magreza anos 2000
A volta e celebração de estéticas do início dos anos 2000, como a tendência fashion Y2K e o retorno do desfile das Angels da Victoria’s Secret, faz aumentar ainda mais essa pressão para que os corpos se encaixem em padrões estreitos de beleza. Enquanto a indústria da moda celebra esses padrões antiquados, irreais e perigosos, muitas mulheres se sentem compelidas a alcançar esse ideal, ainda que ele se mostre impossível e que isso signifique sacrificar a saúde e o bem-estar. É uma reedição da ideia de que o corpo magro é o único corpo que merece ser visto e celebrado (nem venham me falar das falsas plus size e mulheres mais velhas que apenas reforçam esse padrão).
A gente não pode deixar que esse tipo de retrocesso ofusque a luta pela liberdade e existência dos corpos gordos. Precisamos continuar a debater essa questão, para que realmente encontremos espaço para a diversidade de corpos na sociedade. É preciso reconhecer e descontruir a ideia de que a beleza é uma questão de tamanho; todos os corpos merecem respeito e dignidade. Promover a aceitação e a celebração de todos os tipos de corpos é um passo fundamental para acabar com a gordofobia enraizada em nossa cultura.
A propagação da pré-concepção de que a felicidade está atrelada a um corpo magro perpetua o ciclo vicioso de insegurança e insatisfação, principalmente para as mulheres. Não podemos pausar o combate a essa narrativa, esse é um debate do qual a gente não pode se cansar! Precisamos nos posicionar e fazer nossa parte para que haja representações autênticas e diversas nas mídias sociais, onde não apenas o corpo magro seja glorificado. Todo corpo merece espaço e visibilidade.
E, claro, as próprias redes sociais precisam ter uma posição mais ativa na moderação de conteúdos que promovem a magreza extrema e estimulam práticas prejudiciais ou perigosas. O engajamento de influenciadores e criadores de conteúdo nos leva a refletir sobre como eles impactam seus seguidores. Em vez de promover padrões de beleza irreais, essas figuras públicas precisam usar seu alcance e influência para incentivar debates sobre saúde mental e física de todos os corpos, independente de sua forma ou tamanho.
Eu acredito que esse o único caminho possivel se realmente queremos viver em uma sociedade que valoriza a diversidade de verdade, onde cada pessoa pode se sentir à vontade em sua própria pele. O combate à gordofobia é uma questão que vai muito além de tendências e modismos. E não dá pra “baixar a guarda”, é preciso insistir nesse debate e nessa mudança, sempre e sempre, até que ela seja de fato uma realidade.
Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram Me siga no Instagram @experienciasdecabide e @yopaulab
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