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Redes sociais: o veneno, o remédio e o alerta

Por Márcia Huçulak

A principal autoridade de saúde dos Estados Unidos anunciou recentemente que vai solicitar às redes sociais que informem seus consumidores dos efeitos nocivos que exercem na saúde mental de crianças e adolescentes.

Seria um rótulo equivalente às mensagens de perigo à saúde dos maços de cigarro que, no caso, são complementadas com imagens mostrando claramente os graves danos ao corpo humano.

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Nas redes sociais, o alerta seria estampado nas capas de Facebook, Youtube, Tik Tok, Instagram e quetais, na linha: “as mídias sociais não se mostraram seguras”.

É tímido, mas seria um começo. Mesmo assim, difícil dizer se Vivec Murthy, um médico de 46 anos com uma experiência invejável em saúde pública, terá sucesso na empreitada. Seria muito bom que tivesse, pelo exemplo que poderia ser replicado em todo o mundo.

A dificuldade começa pela necessidade de a medida ser aprovada nas duas casas legislativas norte-americanas, onde o lobby é pesado e, lá como aqui, o exarcebado antagonismo político cega o bom debate.

As toda-poderosas empresas de tecnologia têm tido enorme sucesso em repelir quaisquer formas de controle e cobranças sobre uma atuação mais responsável, até mesmo no que diz respeito a crianças. Elas mantêm seus algoritmos (modelados para manter a audiência conectada pelo maior tempo possível) sob estrito sigilo, sem nenhuma transparência das armadilhas neles embutidas.

(Quem associou esse cenário às décadas em que a indústria tabagista tergiversou, mentiu e produziu desinformação sobre os males do cigarro acertou na mosca. Saiba mais aqui)

Enquanto isso, as evidências dos efeitos prejudiciais para a saúde mental vão se acumulando. Para a autoridade norte-americana, em termos de saúde pública, o problema já se equivale ao causado por acidentes de carro – e olha que por lá ocorrem mais de 7 milhões de acidentes automobilísticos por ano.

Como se sabe, a questão se espalha pelo mundo todo.

Regulação das redes sociais

Ao mesmo tempo em que medidas legais de regulação são cada vez mais necessárias, a realidade mostra um descompasso gigantesco entre necessidade e medidas efetivas. O modus operandi das big techs as deixa sempre quilômetros à frente de uma eventual normatização de sua atuação.

No amplo ensaio sobre o assunto que publicou em The New York Times, Murthy cita a responsabilidade dos pais.

Aqui há uma dificuldade extra que precisa ser encarada. Basta prestar atenção nos almoços familiares de domingo em qualquer restaurante. Não é incomum que a exemplo das crianças os pais também estejam absortos em seus smarthphones – num momento que deveria ser de saudável socialização na vida real.

As crianças não vão sair dessa sozinhas: estão em fase de desenvolvimento, ainda não dispõem dos recursos de autocontrole e ponderação, estão em fase sensível de desenvolvimento cerebral e formação da personalidade etc etc etc.

O uso exagerado de telas e o isolamento social (muitas vezes derivado justamente desse uso exagerado) estão entre os motivos apresentados pelos especialistas para a escalada de ansiedade.

No Brasil, pela primeira vez o número de crianças e jovens (10 a 19 anos) com transtornos de ansiedade superou o de adultos.

Os problemas não se restringem à ansiedade. A escala de gravidade sobe com o aumento de suicídios (decorrentes, por exemplo, de bullying nas redes), depressão, sexualização precoce, déficit de atenção, dificuldade de aprendizado, sedentarismo, entre outros danos cada vez mais bem documentados.

Abandonar crianças e adolescentes à espiral interminável de vídeos e postagens viciantes, encadeadas pelos algoritmos elaborados para grudá-los aos aparelhos, é receita certa para estragar uma geração inteira.

É preciso diminuir o tempo de tela, controlar e fazer curadoria do conteúdo acessado, estabelecer, enfim, limites – e levá-las para atividades sociais e ao ar livre.

Há muitas coisas positivas nas redes sociais e nas novas tecnologias. Mas como lembra um bordão bem conhecido: a diferença entre  remédio e veneno pode estar na dosagem.

Como ressaltou Vivec Murthy, a autoridade de saúde dos Estados Unidos: o teste moral de qualquer sociedade é o quão bem ela protege suas crianças.

Subscrevo.

Márcia Huçulak

A principal autoridade de saúde dos Estados Unidos quer que as redes sociais informem seus efeitos nocivos sobre a saúde mental das crianças e adolescentes. Entenda
Divulgação/Alep

Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.

Foto: Canva

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(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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