O tédio de Londrina

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Por Ana Paula Barcellos

Londrina, com seus 600 mil habitantes, é um lugar que, à primeira vista, engana. É uma cidade que parece prometer: é bonita, tem avenidas largas, todos os principais serviços são oferecidos aqui. Mas, quando o feriado chega, quando o fim de semana se aproxima com aquela expectativa de um respiro, a verdade pula igual palhaço de caixinha surpresa, mas sem animação, só tédio: Londrina é uma cidade que esqueceu de investir naquelas coisas que fazem o fim de semana e os feriados valerem a pena.

Onde estão os parques públicos? Não falo de praças com bancos quebrados ou de terrenos malcuidados onde a prefeitura joga uma placa de “parque” para cumprir tabela. Falo de um lugar onde se possa caminhar, fazer um bom piquenique e curtir mesmo a natureza, parque com estrutura decente. Nada. Em Londrina, o feriado é um convite à claustrofobia. Não há uma terma, um mini parque aquático, um espaço onde o calor londrinense possa ser enfrentado com dignidade. E o que sobra? Shopping. Sempre o shopping.

E digo: há algo de patético em perceber que meu tempo livre, esse tempo sagrado que deveria ser dedicado ao ócio criativo, à contemplação ou mesmo à banalidade, é engolido por uma galeria comercial. O shopping não é um lugar de lazer; é um mercado disfarçado, um templo do consumo onde o ar-condicionado e as vitrines brilhantes tentam compensar uma ausência – ou várias. E, no entanto, é para lá que todos vamos. Não por escolha, mas por falta de opção. Caminho pelos corredores do Catuaí ou do Boulevard e vejo famílias inteiras, casais, jovens, todos com o mesmo olhar meio perdido, andando em círculos, sem parar, como se procurassem algo que não está ali.

Com 600 mil habitantes, Londrina não tem opções de lazer para enfrentar um feriadão. O  tédio consome a população que não tem a possibilidade de viajar
Fotos: Imagens geradas por IA/Grok

O que me intriga, porém, não é só a falta de estrutura. É a mentalidade que sustenta essa carência. Londrina parece refém de uma elite econômica que só enxerga lucro na especulação imobiliária. Os bons terrenos, aqueles que poderiam abrigar um parque, um centro cultural, uma rua 24 horas, são monopolizados por quem prefere construir mais um condomínio de alto padrão ou um prédio comercial, ou ainda para colocar um plano maligno em prática e que a gente ainda desconhece (vide o que acontece com a região da Quintino Bocaiuva).

Supermercado como opção ao tédio?

Investir em lazer? Para quê? O povo, afinal, se contenta com o mercado da Avenida JK, aquele que, por um acaso que faz rir, lota de madrugada. Sim, eu vi. Às três da manhã, o mercado parece uma festa, com gente disputando os caixas como se ali fosse o único lugar onde a vida acontece. E talvez seja. Porque, às 24 horas, Londrina não tem mais nada a oferecer.

A cabeça do povo, como já ouvi por aí, está “estreitando”. Não é só a falta de iniciativa dos empresários, que poderiam lucrar (e muito!) com um espaço de lazer decente (mas não se preocupam com isso, também, porque viajam para buscar lazer fora, como todo bom vira-latas). É a ausência de um desejo coletivo, de uma pulsão por algo maior. O tédio de Londrina é o tédio de quem aceita o shopping como destino final porque esqueceu que a vida pode ser mais.

Quero uma rua 24 horas, quero um parque decente, quero um lugar onde o calor de 35 graus seja uma desculpa para mergulhar numa piscina boa, não para me trancar num shopping com cheiro de fast food. Mas, por enquanto, o que temos é o mercado da JK, lotado de madrugada e o revezamento de shoppings – no mercado, pelo menos, dá pra comprar flores.

Ana Paula Barcellos

É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal. Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab

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