Por Ana Paula Barcellos
Ontem, relutei para abrir os olhos quando a luz começou a entrar pela janela, mas o despertador me obrigou. Era hora! O jeito foi me apegar ao café quente e me deixar levar pela luz suave da manhã que é tão bonita e tem um jeito especial de acordar a cidade. Segunda-feira, nova semana, novos desafios e medos novinhos em folha. Abro a janela e olho para o céu, um azul que rapidinho é coberto por nuvens ligeiras
Ontem não apenas eu, mas Londrina toda acordou inundada de incertezas. Embora tudo pareça igual, não é. Esse é o paradoxo, justamente o paradoxo das segundas-feiras e dos recomeços, quando o comum se encontra com o extraordinário, um espaço onde a narrativa pode ser reescrita.
A cidade tem ar de renovação, mas também de apreensão. Vejo as árvores agitando suas folhas de forma sutil, como se pressentissem o que vem por aí. As ruas começam a ganhar vida novamente, carros se deslocando e pessoas caminhando com um semblante que mistura desgosto e esperança. Sempre pesa um pouco o peso da rotina, mas, neste dia, a expectativa paira quase palpável.

Despertar para o novo?
Estamos à beira de algo novo. O que isso significa? Não sei. E esse medo que vem junto com o novo é bastante desconfortável. Medo de ver tudo despencar ainda mais fundo, de ver tudo dar muito errado, mas também o desejo inconsciente de que tudo dê certo, que as coisas se encaixem.
Neste amanhecer, todos nós estivemos ali, por um instante, como entidades flutuantes, buscando o que vem a seguir. De um jeito ou de outro a gente acaba atendendo, ainda que no modo automático, ao chamado da vida. A gente se levanta, deseja bom dia, esboça um sorriso, troca olhares. Pequenos gestos que iluminam, mesmo que vagamente.
E a rotina vai se estabelecendo novamente, mas minha mente não consegue parar de pensar em cada possibilidade. E se de um jeito inesperado tudo ficar bem? E se, afinal, a mudança é o que todos nós precisamos? No fundo, eu quero acreditar.
Hoje já é terça-feira, acordo um pouco menos relutante, olho para o céu e para as possibilidades que ele traz. O mesmo céu que sempre nos observou, mas que hoje, talvez, esteja um pouco mais azul, um pouco mais acolhedor. Tomara.
Foto principal: Janaína Ávila/Arquivo O LONDRINENSE

Ana Paula Barcellos
É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal. Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab
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