Por Ana Paula Barcellos
Viver em Londrina é um exercício diário de amor e frustração. Amor, porque é impossível não se encantar com suas as ruas charmosas, as avenidas bonitas, o lago e até com esse quê do interior que traz uma sensação de comunidade – as pessoas são gentis e sorriem bastante aqui, um sorriso amistoso. Frustração, porque essa cidade, com tanto potencial, parece preferir viver no atraso, como um fazendão iluminado que se recusa a evoluir. Às vezes, é difícil amar assim.
Londrina tem tudo para ser uma metrópole incrível. Sua localização estratégica a coloca como um ponto de conexão natural entre o sul e o sudeste do Brasil. A cidade é um polo universitário, com instituições de renome que atraem jovens de todo o país. No entanto, ao invés de aproveitar essa vantagem, Londrina parece estagnada, presa a uma mentalidade interiorana que impede seu crescimento. O sorriso interiorano é bacana e charmoso, a mentalidade tacanha não.
Um exemplo claro disso é a infraestrutura urbana. Enquanto cidades de porte semelhante investem em transporte público eficiente e sustentável, Londrina ainda depende quase exclusivamente de carros. O trânsito é caótico, e as ciclovias, quando existem, são mal planejadas e perigosas. A falta de um sistema de transporte público decente não só prejudica a mobilidade dos cidadãos, mas também afasta investimentos e turistas.
Outro ponto de frustração é a gestão cultural. Londrina tem uma cena artística rica e diversificada, com festivais de música, teatro e cinema que poderiam colocar a cidade no mapa cultural do Brasil. No entanto, a falta de apoio e investimento por parte do poder público faz com que muitos desses eventos lutem para sobreviver. É como se a cidade tivesse medo de brilhar, preferindo se esconder nas sombras de sua própria mediocridade. Ou a quem interessa que Londrina não brilhe?
A economia local também sofre com essa mentalidade retrógrada. Londrina tem um potencial enorme para se tornar um hub de inovação e tecnologia, aproveitando a presença de universidades e centros de pesquisa. No entanto, a burocracia e a falta de incentivos afastam startups e empresas inovadoras, que acabam migrando para outras regiões. É triste ver talentos locais partirem em busca de oportunidades que Londrina poderia oferecer, mas não oferece.
Como amar isso?
E o que dizer da política local? A cidade parece presa a um ciclo vicioso de administrações que prometem mudanças, mas entregam mais do mesmo. Projetos importantes são abandonados ou mal executados, e a população, cansada de promessas vazias, se resigna a uma realidade que poderia ser muito diferente. É como se Londrina estivesse condenada a viver eternamente no passado, incapaz de avançar para o futuro.
Ainda assim…
Mas, apesar de tudo, há amor por Londrina. Há algo de especial em caminhar pelas ruas onde cresci, bater perna no Calçadao, em conversar com a motorista do app como se a gente se conhecesse da vida toda. É esse amor que faz continuar acreditando que, um dia, Londrina vai acordar e ser mais.
Até lá, seguimos vivendo essa relação de amor e frustração, torcendo para que a cidade que amamos tanto finalmente decida se transformar na metrópole incrível que sempre sonhamos. Porque Londrina merece mais. E nós, que escolhemos viver e amar essa cidade, também merecemos.
Foto principal: Emerson Dias/N.COM
Ana Paula Barcellos
É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal. Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab
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