Não estou satisfeita com meu casamento

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Por Telma Elorza

“Me casei muito jovem, com 18 anos, grávida. Meu marido, que é cinco anos mais velho, foi o meu único namorado e sempre gostei muito dele. Mas, depois de 15 anos de casamento e dois filhos maravilhosos, ando insatisfeita. Ele é um homem bom, gentil, me dá amor, carinho, nunca me traiu. Ainda é apaixonado por mim.

No entanto, fico pensando no que perdi, ao me casar tão jovem e não ter outras experiências de vida, como ficar bêbada com amigos, curtir festas e namorar bastante. Até na faculdade, minha vida era restrita: da universidade para casa, cuidar de filho e marido. Neste momento, aos 33 anos, acho que desperdicei minha vida. E fico imaginado como seria ter mais experiências com homens. Isso não sai da minha cabeça. O que faço agora?”

O e-mail da leitora foi muito extenso, num desabafo completo. Eu resumi aqui, com os pontos principais para não ficar muito longo. E sinceramente, deu uma certa pena, assim como tenho compaixão de todo mundo que se casa muito jovem, sem vivenciar as experiências da juventude em todo seu esplendor.

Ao longo da minha vida, já vi muito casamento se desfazer justamente por esta insatisfação que surge entre casais que se formam muito cedo. Eu vivi isso, no meu casamento. Casamos jovens, ambos com 21, e, aos 35, os dois já estavam insatisfeitos. Mas a inércia me impedia de tomar uma atitude, porque não tinha motivos para me separar. Até que o ex me traiu e aí, sim, “arrumei uma justificativa” e pude me livrar de um casamento insatisfatório.

E também já vi a mesma situação entre vários casais amigos. Lembro que, uma vez, uma amiga de 30 anos, que começou seu relacionamento com o então marido aos 14 anos, me disse que eles iriam ficar velhinhos juntos. Eu respondi que torcia para isso, mas que não acreditava muito. Ela ficou brava comigo e garantiu que sim, seu casamento era para sempre. Cinco anos depois, eles estavam separados e ele já estava casado com outra e tinha um filho, algo que nem cogitava antes.

O que tenho observado, é que essa insatisfação surge depois dos 15 anos de relacionamento, na média. Justamente quando o casal já entrou na casa dos 30 anos, e um deles (ou até os dois) percebe que está envelhecendo e que “deixou de viver” por causa do casamento. Essa percepção não vem assim, de repente, vai chegando aos pouquinhos, bem devagar. Parece uma coisa que fica martelando na cabeça: “ah, eu nunca fiz tal coisa. E se….?”.

A trava do casamento

Os homens, principalmente, são os mais afetados. Mas as mulheres não estão imunes, não. O avançar da idade parece que traz uma ânsia por experimentar coisas que nunca fez na vida, antes que fique velho demais. E o casamento de anos, que deve ter caido naquela rotina, é uma trava. Geralmente, é neste momento que surgem os casos extraconjugais, que são os principais motivos de divórcio.

Não estou afirmando que todos as pessoas que formaram casais bem jovens vão se separar. Não. Pode ter sim casos em que ficam juntos até envelhecerem mesmo, pessoas com maturidade suficiente para reconhecer os problemas e superá-los. Mas, pela minha vivência, são bem raros.

Ainda mais no momento em que vivemos, em que o imediatismo promovido pelas tecnologias e a ilusão das redes sociais – onde comparemos negativamente nossas vidas com as dos outros – faz que muitas pessoas questionem se está realmente vivendo ou hibernando. Lógico que a vida linda e emocionante que vemos os outros vivendo nas redes sociais é, na maioria, falsa, com filtros cor de rosa. No entanto, o estrago está feito.

Escrevi tudo isso para explicar para a leitora que ela não é a única que vive essa insatisfação no casamento. Talvez até o próprio marido gentil e carinhoso também esteja sentindo a mesma coisa.

A questão é: como lidar com isso?

Como eu disse ali em cima, é preciso maturidade de ambos para fazer o casamento se prolongar. E a melhor forma é reconhecer que sim, está insatisfeita e buscar soluções. O que está faltando na relação para que os pensamentos intrusivos do “não vivi” não prospere até se tornar insurportável e cair na tentação de “experimentar” um outro homem, outra vivência?

O diálogo, na minha opinião, é essencial. É pelo diálogo que você podem buscar juntos alternativas para movimentar a relação e fortalecer os laços. Talvez experimentar novas posições sexuais? Realizar fantasias que nunca contou para o marido?

Na minha coluna Tia Telma Responde, já dei várias sugestões para pessoas que sentiam falta do tesão no relacionamento. Sugiro que leia esta: 7 dicas para reacender o tesão pela esposa, onde dou sugestões para um homem, mas que a mulher também pode aplicar. Pode ser uma alternativa para sua insatisfação.

Espero ter ajudado.

Tem dúvidas sobre relacionamentos? Mande suas perguntas para telma@olondrinense.com.br

Quem é a Tia Telma

Chega um momento em todos os casais questionam o casamento. A insatisfação surge, geralmente, quando um ou os dois percebem que estão envelhecendo e não estão vivendo.
Tia Telma versão Inteligência Artificial

Telma Elorza é jornalista, divorciada e adora dar pitaco na vida dos outros. Mas sempre com autorização.

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