Por Telma Elorza
“Comecei a namorar um cara maravilhoso há cinco meses e estamos apaixonados. Desde o começo, fazemos muitas brincadeiras sexuais excitantes. Mas de uns tempos para cá, ele começou a controlar meus orgasmos e não me deixa gozar até que ele permita. Quando percebe que vou gozar, para tudo e só recomeça depois que eu me acalmo. Foi legal no começo, mas hoje já não estou gostando, principalmente porque não temos mais relações sem isso. Reclamei com ele, mas ele disse que assim o orgasmo é mais intenso, para mim e para ele. Não sei o que faço para mudar isso. Quero ter meus orgasmos em paz e não passar por uma tortura cada vez que vamos para cama.”
Ih, menina. A brincadeira ousada e cheia de tesão pode ter virado um fetiche sério, se é só assim que ele sente prazer. A novidade, a adrenalina da hora podem ser intoxicantes e eu entendo porque você aceitou no início. Ele controlava quando você podia ou não gozar, e isso ae deixava nas nuvens. Era novidade, adrenalina pura. Só que, com o tempo e a repetição contínua, tudo que é demais cansa e, aquilo que antes era excitante, pode virar desconforto. Você não sente mais prazer com isso, e, pior, percebe que seu desejo não está sendo respeitado.
Gozar com hora marcada
O fetiche a que seu namorado pode ter sucumbido tem um nome genérico: controle de orgasmos. E pode incluir variaçãos como orgasmos forçados (fazer alguém gozar involuntariamente, geralmente enquanto está contido com algemas, por exemplo), negação do orgasmo (levar alguém quase ao ponto do clímax, mas não permitir que ele goze) e “edging” (parar repetidamente um pouco antes do clímax para incentivar o aumento da excitação). Faz parte das práticas BDSM (Bondage, Disciplina, Sadismo, Masoquismo).
Primeiro de tudo: não se sinta culpada por mudar de ideia. O que você achava incrível no começo pode não funcionar mais agora e está tudo bem. Isso não faz de você chata, ingrata ou “difícil de agradar”. Faz de você uma pessoa com limites e preferências, como qualquer outra. E quando se trata de sexo respeitar esses limites é regra número um, uma regra gravada em pedra. Vale tudo no sexo DESDE todos os participantes concordem. E isso vale também para o controle de orgamos – que é uma prática muito excitante -, mas que também deve ser feito de maneira consensual e se você não quer mais, ele tem que respeitar. Se conversando e explicando, ele continua com a prática, está praticando um abuso.
Conversas francas geralmente resolvem, mas…
Antes de qualquer coisa, tente conversar NOVAMENTE com seu parceiro. Um papo sincero, sem rodeios, é sempre o melhor caminho. Escolha um momento tranquilo – fora da cama, de preferência – e explique como você se sente. Algo do tipo: “Olha, no começo eu curtia quando você controlava meu orgasmo, mas agora não me sinto mais confortável. Quero que nosso sexo seja prazeroso pra nós dois, e isso tem me incomodado porque está ficando difícil para mim fazer uma coisa que não quero mais.” Use “eu” para falar dos seus sentimentos e evite acusações. Isso ajuda a criar um ambiente mais receptivo pra conversa.
Agora vem a parte mais importe: se, mesmo com essa nova conversa, ele insistir que “você está exagerando” e que “só faz isso para lhe dar orgasmos intensos (como se fosse a única beneficiada)”, é um sinal de alerta e dos GRANDES. No sexo, o prazer e o bem-estar de ambos são prioridade. Quando um parceiro desrespeita seus limites, ele está colocando as vontades dele acima das suas e, portanto, a ignorando e às suas vontades. Nunca será uma relação de iguais. Para ele, você deve ser submissa à vontade dele e se contentar com que ele lhe dá, numa violência psicológica evidente. Ou seja, um relacionamento tóxico, mesmo que ele nunca lhe bata ou trate com outros tipos de violência fora da cama.
Seu prazer importa, sim!
A gente vive numa sociedade onde, muitas vezes, as mulheres são ensinadas a priorizar o prazer do outro e ignorar o próprio. Mas deixa eu lembrá-la de uma coisa: seu prazer importa tanto quanto o dele. Sexo deve ser uma troca gostosa, um momento onde os dois se sentem valorizados e desejados. Se você não está curtindo, é seu direito dizer “não”. E se ele insiste, está na hora de reavaliar esse relacionamento. Porque, no final das contas, um parceiro de verdade quer vê-la feliz – na cama e fora dela.
Assim, se imponha, mulher. Sexo dever ser bom, não uma batalha de poder (a menos que os dois concordem, como já disse lá em cima). Se o controle de orgasmo deixou de ser divertido pra você, não tem motivo pra continuar. Um parceiro que realmente a ama vai ouvir, respeitar e, juntos, vocês podem encontrar novas formas de apimentar a relação sem que ninguém se sinta desconfortável. Por isso:
- Reafirme seus limites: Seja firme na sua decisão. Não é não.
- Priorize seu bem-estar: Se ele continuar a não respeitar suas vontades, repense se esse relacionamento ainda faz sentido. O amor não deve vir à custa da sua paz ou do seu prazer. Você merece uma relação de igual para igual. Se não for assim, talvez seja hora de dizer adeus. Afinal, é melhor estar sozinha do que mal acompanhada – e com certeza tem muito cara por aí que vai valorizar você e suas vontades, dentro e fora da cama.
Espero ter ajudado.

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Quem é Tia Telma?

Jornalista, divorciada, xereta por natureza e que sempre se interessou muito por sexo. Com a vida, aprendeu várias coisas, mas a principal é que sexo é uma coisa natural e deve ser sempre prazeroso.
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