Diz o versículo bíblico que, se a casa for construída sobre a rocha, ela permanecerá firme. Ao contrário, se seu fundamento for um terreno arenoso, ruirá. E isso vale para quaisquer analogias: relacionamentos amorosos, de família, de amizade e até mesmo de trabalho. Nada se sustenta se a base for frágil. Mas, o que exatamente pode ser considerado fragilidade hoje em dia? Muitas coisas, aliás!
Fofoca e falsidade, por exemplo. São dois aspectos tão intrínsecos à realidade humana que nos parecem naturais. Não são, todavia. E interferem diretamente na força dos relacionamentos estabelecidos socialmente. O pior de tudo é que não são evidentes nem tampouco se revelam à luz do dia. Sobrevivem no submundo das amizades, escondidos nas trevas da realidade que nos cerca.
Se fosse Zygmunt Bauman, diríamos que isso denota a liquidez dos nossos relacionamentos contemporâneos: amizades e amores líquidos, que não foram feitos para durar, que se desfazem na mesma rapidez com que se estabelecem. Não são construídos. Por outro lado, se invocarmos Sérgio Buarque de Holanda, diríamos que isso ocorre porque, especificamente em relação ao brasileiro, somos um povo superficial, cuja identidade se construiu sobre bases frágeis: a cordialidade, por exemplo.
Vamos mais à fundo? Viajemos ao contratualismo: Thomas Hobbes diria que o homem é mau e egoísta e, sendo assim, vive num estado de guerra de todos contra todos, uma violência generalidade, sendo o homem o lobo do próprio homem. O que fazer? Um poder absolutismo resolveria o problema. Já Jean-Jaques Rousseu pensaria que tudo isso foi causado pela desigualdade, originada pela criação da propriedade privada, no estado de natureza. A solução seria criar leis e regras que pudessem estabelecer os limites da liberdade humana.
Entretanto, por que somos assim? De fato, uma pergunta com muitas e complexas respostas, nem todas tão evidentes ou fechadas quanto se imagina. Por isso, o certo mesmo é continuar buscando os ideias de virtude e éticas tão apregoados pela filosofia clássica, reproduzidos e adaptados pela filosofia moderna e contemporânea. Fácil? Se assim o fosse, não estaríamos discutindo tudo isso recorrentemente.
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Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.