Por Alessandra Diehl
Artigo publicado neste ano de 2024 por Benjamin L. Thompsone e colaboradores na revista cientifica Alcohol Alcohol nos traz uma ampliação das evidências sobre as mudanças individuais relacionadas a participação das reuniões de Alcoólicos Anônimos (AA), considerando as melhorias afetivas como um resultado clínico primário, estabelecendo assim as bases para pesquisas subsequentes e mais abrangentes sobre a relação entre as dimensões da participação no AA e as mudanças afetivas relacionadas à recuperação.
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Há mais de 80 anos que os AA têm sido uma irmandade de recuperação do alcoolismo muito difundida, com milhões de membros e tratamento gratuito com porta aberta e portanto, de fácil acesso em vários lugares do mundo. No entanto, só recentemente foi realizada uma investigação rigorosa sobre a sua eficácia, comprovando que AA é efetivo, inclusive para quando ocorre o encaminhamento clínico de pacientes com diagnóstico dual (termo para quando alguém tem uma doença mental e um problema de abuso de substâncias simultaneamente) para Alcoólicos Anônimos, os quais apresentam taxas mais altas de abstinência de álcool em relação aos pacientes com diagnóstico duplo que não frequentam Alcoólicos Anônimos.
No artigo, o objetivo central foi determinar se a participação intencional e voluntária em reuniões de AA apresentava alguma associação independente com afeto, além daquela que foi observada em associação com outros comportamentos relacionados à recuperação, como a abstinência, entre indivíduos com histórico de transtorno por uso de álcool. Além disso, os autores procuraram determinar a natureza das mudanças afetivas associadas a dimensões específicas da participação em AA (isto é, participação em reuniões, envolvimento na irmandade, trabalho de 12 passos).
Para tanto, 30 indivíduos com transtorno por uso de álcool em recuperação foram recrutados e avaliados. Regressões lineares multivariadas foram utilizadas para examinar associações entre dimensões de participação em AA, medidas usando a Escala Multidimensional de Avaliação de Ajuda Mútua e medidas padronizadas de experiências afetivas, incluindo o Perfil de Estados de Humor, a Escala de Felicidade Subjetiva e a Escala de Doze Promessas.
Alcoólicos Anônimos e experiências afetivas
Os resultados mostraram que o aumento da participação em AA foi associado a maiores experiências afetivas positivas. Essas associações foram observadas independentemente da participação nas reuniões de AA e do envolvimento da irmandade, mas não do trabalho de 12 passos. As descobertas deste estudo sugerem que uma maior participação nas reuniões de AA e envolvimento na irmandade estão correlacionados com melhorias na experiência metaemocional de significado pessoal.
Isso já reforça o que sabíamos na prática que a participação em reuniões de AA parece levar a melhorias no consumo do uso de álcool e no bem-estar psicológico e emocional que, por sua vez, pode reforçar ainda mais a abstinência e as mudanças relacionadas à recuperação.
Gratidão, Alcoólicos Anônimos!
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Alessandra Diehl
Psiquiatra, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Drogas (ABEAD) e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPsiq). @dra.alessandradiehl
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Foto principal: Imagem gerada por IA/Freepil
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