Por Márcia Huçulak
“Mulher candidata é só fachada para cumprir cota de partido.”
“Mulher não é forte o suficiente para liderar.”
“Ela é fantoche de algum homem poderoso.”
“Mulher não vota em mulher”
“Ela deve focar na família, não na política.”
“Mulher é muito emotiva para tomar decisões racionais.”
Seis frases, que em suas muitas variáveis, fazem parte da fina flor do machismo. Por mais absurdas que sejam, ainda são ouvidas com frequência. Só fazem reforçar o preconceito que impõe muitos degraus a mais na escalada das mulheres que decidem participar da vida política.
O discurso estereotipado é ruidoso e frequente. A boa notícia, no entanto, é que a maioria da população diz que não concorda com ele, de acordo com uma pesquisa com cerca de seis mil entrevistas domiciliares realizada em todo o Brasil pelo Instituto Quaest.
Robusto, o levantamento “Representatividade e participação feminina na política” apontou que quase 90% dos entrevistados consideram que as mulheres deveriam ocupar mais cargos públicos e que a maioria as considera melhor para governar.
Com certa satisfação pessoal, vi o que disse o presidente do instituto e responsável pelo levantamento, Felipe Nunes: “É preciso martelar a informação de que o percentual de mulheres eleitas vereadoras em 2020 foi de 16% e para prefeitas, esse indicador é de 14%”. Olha o abismo: somos 51,5% da população.
Por que é preciso martelar? “Temos no Brasil uma opinião majoritariamente favorável à maior entrada de mulheres na política”, diz Nunes.
E como mudar isso? Ele defende que é preciso melhorar a forma de comunicar propostas femininas.
Eu venho insistentemente falando sobre a importância da participação feminina nos espaços de poder e decisão há tempos, principalmente depois que passei a atuar no parlamento.
Minha satisfação foi ainda maior porque o levantamento foi feito a pedido do partido ao qual pertenço, o PSD, a fim de angariar subsídios que orientem ações para ampliar a participação das mulheres.
O viés qualitativo também veio à tona. O levantamento mostrou “um grande volume de respostas positivas para qualificação feminina para resolver problemas como saúde, economia ou combate à corrupção”, ressaltou o especialista.
Essa percepção coaduna-se com aquilo que falei na minha coluna de estreia neste espaço, que tratava de um livro dos pesquisadores Robert Trager e Joslyn Barnhart, “A Paz Sufragista: Como as Mulheres Influenciam a Política da Guerra”(em tradução livre). Eles mostraram que, ao longo da História, apenas o (elementar) direito ao voto das mulheres muda para melhor o uso dos orçamentos públicos, já que aumenta a pressão, por exemplo, por mais investimentos em educação e saúde.
Portanto, o que a população disse aos entrevistadores da Quaest é reflexo daquilo que vemos em todos os lugares: a imensa capacidade das mulheres em todas as áreas nas quais escolhem atuar.
No fim das contas, melhores condições para mulheres se traduzem em mais desenvolvimento para toda a sociedade, pelo fato, também, de se dar vazão ao desempenho qualificado de um número maior de pessoas que hoje é barrada pelos preconceitos.
Importante lembrar que não se trata de promover disputa de mulheres contra homens, mas de assegurar participação equânime. O gênero não pode ser empecilho para que alcancemos espaços de poder e decisão. Ninguém pergunta a um homem se ele tem capacidade para ocupar determinado cargo político. Este tipo de coisa, no entanto, acontece com a mulher. Apesar de demonstrarem preparo e capacidade, as mulheres são quase sempre preteridas no jogo político.
Visão da mulher
Passou a hora de ocuparmos nosso lugar nesta seara. Pois é na política que se decidem políticas públicas e o destino de recursos. Sem a presença e a visão da mulher não vamos avançar como poderíamos no enfrentamento de problemas que tanto nos incomodam: violência, corrupção, falta de compromisso com propostas de campanha e respeito à vida de todas as pessoas.
Ampliar a participação feminina é, portanto, chave para um mundo mais justo e equilibrado.
Neste ano temos oportunidade de escolher quem vai ocupar o comando de 5.570 municípios brasileiros e os representantes nas câmaras de vereadores. Avalie os candidatos e candidatas, opte pelo equilíbrio, observe quem faz política com propósito e fique atento àqueles que só querem a manutenção do poder pelo poder.
Vote pelo cuidado das pessoas.
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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Foto: Canva
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