Por Márcia Huçulak
Os sistemas de saúde têm vários desafios a serem enfrentados – operacionais, estruturais e de gestão – para garantir a proteção de todos, diminuir as iniquidades, qualificar o acesso e diminuir os óbitos por causas evitáveis.
Um sistema de saúde precisa cuidar das pessoas para que não adoeçam e não apenas cuidar das doenças.
De uma forma geral, os sistemas de saúde foram organizados ao longo do tempo para atender condições agudas, resposta importante para dar conta da situação de saúde vigente no século passado.
Porém, vivemos uma nova realidade, tanto do ponto de vista epidemiológico quanto do ponto de vista demográfico. Essa nova realidade se configura por uma tripla carga de doença (aumento das condições crônicas; a persistência das condições agudas; e os eventos agudos causados pela violência interpessoal, além dos acidentes, principalmente de trânsito).
O Paraná, assim como todos os estados brasileiros, tem um percentual expressivo de pessoas vivendo mais, enquanto observa-se a queda da taxa de natalidade, evidenciando o envelhecimento da população. Ainda temos as mudanças no estilo de vida das pessoas com aumento da obesidade, aumento do consumo de álcool e outras drogas, além do “boom” de problemas de saúde mental.
Todos esses fatores têm ocorrido de forma muito acelerada.
Diante deste novo cenário, o aumento da prevalência de doenças crônicas coloca consideráveis desafios para os sistemas de saúde. As condições crônicas requerem modelos complexos, que envolvem colaboração entre profissionais de saúde e instituições que tradicionalmente não trabalham de forma integrada e articulada.
A atenção à saúde baseada no modelo do cuidado ao evento agudo é pouco efetivo para atender as necessidades daqueles com condições crônicas.
Quebrar o paradigma dos sistemas de saúde
É necessário, portanto, quebrar o paradigma do atendimento ao episódio agudo, do paradigma da cura para o cuidado contínuo às condições crônicas, da atenção à saúde e o envolvimento do cidadão no cuidado da sua saúde e dos seus fatores de risco – e da sociedade, para conhecer e compreender o impacto dos determinantes sociais da saúde.
É preciso mudar radicalmente de um sistema reativo de atenção à saúde para um sistema proativo.
Há de se operar mudanças na gestão do sistema para a tomada de decisão fundamentada em evidências – e não com base em opiniões. Para isso, os sistemas de saúde precisam operar de acordo com diretrizes clínicas e protocolos, parâmetros epidemiológicos, incorporar os conceitos do campo da economia na saúde para ganhar escala e qualidade no planejamento de serviços de saúde.
Essas mudanças requerem gestores capacitados e equipes proativas.
2024 é o ano que vamos escolher os novos gestores municipais. Vejo com preocupação que poucas pessoas estão preparadas para enfrentar o desafio da gestão pública. Não é incomum candidatos a prefeito, nos seus planos de governo, proporem a construção de mais hospitais e UPAs, repetindo o modelo de organização da atenção do século passado, quando predominavam as condições agudas.
Novas estruturas de saúde
Para o século 21, precisamos tratar o que eu chamo da “bipolaridade dos sistemas de saúde” (uma atenção ambulatorial/ unidade básica na maioria das vezes pouco resolutiva ao mesmo tempo em que se tem uma atenção hospitalar sobrecarregada). O tratamento disso se dá incorporando novas estruturas de saúde que terão custos menores e serão mais efetivas.
Para isso, é necessário organizar, por exemplo, a atenção domiciliar, os centros e convivência, as unidades de equipes multiprofissional, centrais de atendimento virtual com orientações, telessaúde e triagem de casos e encaminhamento adequado.
Essas estruturas terão mais eficiência e efetividade no cuidado das pessoas que na maioria das vezes a construção de mais um hospital. Sem mencionar que essas estruturas são infinitamente de menor custo.
Nesse contexto o uso das tecnologias tem um papel preponderante para encurtar distâncias e agilizar os atendimentos. O uso da telessaúde com protocolos de monitoramento de pessoas com condições crônicas como diabetes, hipertensão e transtornos mentais tem mostrado resultados surpreendentes.
A telerregulação das filas de especialidades melhoram muito a priorização de casos e agilizam os atendimentos. A teleconsulta evita deslocamentos desnecessários e orienta adequadamente o paciente.
A tecnologia, enfim, é uma grande aliada do setor de saúde e nos permite, quando bem empregada, melhorar o cuidado das pessoas e diminuir os custos do sistema de saúde.
Nesse sentido, recomendo aos novos gestores que reflitam sobre suas realidades e adotem propostas sustentáveis e adequadas as suas realidades; não fazer mais do mesmo.
Afinal, o objetivo de qualquer sistema de saúde é acrescentar, além de anos de vida para as pessoas, mais vida a esses anos. Todos queremos viver mais e viver bem.
“Saber não é suficiente; é preciso aplicar. Querer não é suficiente; é necessário fazer.”
Goethe
Márcia Huçulak

Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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