Por Márcia Huçulak
Qual a importância da mulher na política, tema que batiza este espaço?
Nos últimos 12 meses, procurei apresentar as múltiplas implicações que nós mulheres enfrentamos quando alcançamos cargos ou funções consideradas tipicamente masculinas. Na minha posição de deputada estadual, o tema se transformou numa bandeira diária, com a responsabilidade de ter sido a mulher mais votada da história da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
Procurei levantar neste espaço temas como sub-representação, sobrecarga de trabalho, diferenças salariais, violência e preconceito de gênero e demais dificuldades que nós, mulheres, enfrentamos quando decidimos nos lançar na arena política.
Enquanto nos for negada a participação ativa e protagonista nos espaços de poder e de decisão teremos uma sociedade pela metade, desigual e que dificilmente vai avançar em pautas importantes como diminuição da violência e as diferenças econômicas e sociais.
A presença maior de mulheres tanto no Legislativo quanto no Executivo e, principalmente, nos espaços de decisão, é fundamental para que se aprofundem o debate e soluções nas pautas que são caras à sociedade e se promovam políticas públicas mais efetivas.
Não se trata apenas da opinião de uma mulher que decidiu enfrentar os desafios e preconceitos e participar da arena política. Estudos apontam, por exemplo, que maior inclusão feminina em cargos públicos resulta em mais atenção a áreas como saúde, educação, bem-estar e questões sociais. Também mostram que a diversidade de experiências trazidas pelas mulheres se traduz em políticas que refletem melhor as necessidades da população.
Em minha primeira coluna, um ano atrás, abordei um estudo que demonstra que ao longo da História, o simples direito de votar das mulheres melhorou a qualidade das políticas públicas desenvolvidas pelos governos. A coluna citava o livro “A paz Sufragista: Como as Mulheres Influenciam a Política da Guerra”, que demonstrava as mudanças no uso de orçamentos públicos, em prol de mais áreas de investimentos, com a entrada das mulheres no processo eleitoral.
Diversidade, portanto, produz qualidade e isso faz toda a diferença para eficácia das ações que devem beneficiar toda a população.
Não se trata de guerra dos sexos com os homens, mas de paridade. Uma sociedade mais justa e uma democracia mais sólida dependem fundamentalmente de as mulheres ocuparem os espaços que lhes são de direito, sem beneplácito, mas com igualdade real de condições para disputar esses espaços.
Não é pedir muito, mas sabemos que isso ainda representa uma montanha enorme a ser superada, desafio que só será alcançado se mais mulheres se dispuserem à escalada.
Percalços no caminho das mulheres
Há vários percalços. Na maioria das vezes os sonhos das mulheres começam a ser boicotados ainda na infância. Um dos textos que publiquei precisa ser compreendido pela sociedade: “Interrupção de sonhos das meninas”, quanto isso afeta o protagonismo das mulheres na sociedade.
Um exemplo de agora: nas eleições municipais, cujo primeiro turno para prefeito e escolha de vereadores terminou neste domingo, com a ampla maioria de 61,7% das candidaturas femininas sem ter recebido recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha. Cadê a paridade?
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, houve 152.939 mulheres concorrendo ao cargo de vereadora e 2.381, à prefeita. O universo total de candidaturas é 456.310.
Os homens, não todos, têm dificuldade para apoiar e incentivar mulheres que decidem participar na política. Por outro lado, tenho observado que as mulheres não aceitam mais submissão e estão dispostas a buscar seu espaço também na política. Ficou feliz, pois sem a participação de mais mulheres não vamos avançar em pautas relevantes para a sociedade.
O gênero não pode ser empecilho para que galguemos posições relevantes, seja em funções públicas, seja na iniciativa privada. Firmo meu compromisso de continuar a promover e incentivar mulheres a assumir posições de poder e decisão, onde quiserem.
Aproveito também para me despedir desta coluna. Em razão das minhas atividades parlamentares, o tempo tem sido escasso para escrever semanalmente.
Meu agradecimento especial às editoras de O Londrinense, Telma Elorza e Suzi Bonfim, pela parceria ,e às leitoras e leitores pela audiência.
Finalizo com o discurso de posse de Claudia Sheibaum, primeira presidenta mulher eleita do México:
“As mulheres foram anuladas. Nos contaram, desde pequenas, uma versão da História e nos fizeram acreditar que o curso da Humanidade é protagonizado unicamente pelos homens. Pouco a pouco essa versão da História está se revertendo. Hoje sabemos que as mulheres participaram das grandes façanhas da História. E também sabemos que as mulheres podem ser presidentas. Faço um respeitoso convite, que chamemos ‘presidenta’ com ‘a’ ao final, igual a advogada, cientista, soldada, bombeira, doutora, professora, engenheira, com ‘a’ porque só aquilo que se nomina existe”.
Obrigada!
Foto: Ilustração criada com recursos de inteligência artifical
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.
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