Pinturas luminosas, em cores intensas da Amazônia, iluminam a galeria e intrigam o visitante. Viaje à terra dos Huni Kuin para conhecer a exposição Yuxi Nukukunai, o encontro das almas da Fundação Krajcberg
Por Chantal Manoncourt
Muito perto da fronteira com o Peru, no estado do Acre, os índios Huni Kuin do Brasil lutam para preservar seu modo de vida e sua cultura. “Não podemos viver sem a floresta, a terra, o ar, os planetas…”. A utilização da pintura permitiu a estes artistas salvaguardar a sua cultura, até agora oral, garantindo a sua transmissão, mas também tornando-se porta-vozes, a nível internacional, da mensagem espiritual do seu povo, profundamente ligada à Natureza e à Cura.
A origem do movimento

Na década de 1980, o membro fundador do MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin) Ibã Sales Huni Kuin, iniciou pesquisas para registrar as canções tradicionais de seu pai e tios e assim salvaguardar a cultura de seu povo, até então oral, que estava ameaçada de extinção.

Na década de 2010, Ibã começou a transmutá-los em pinturas, de forma a facilitar a sua transmissão às gerações futuras. Os desenhos e pinturas MAHKU são, portanto, a tradução pictórica das canções tradicionais Huni Kuin, nascidas das visões provocadas durante as cerimônias espirituais do nixi pae, (ayahuasca): cada canto de “abertura”, “mirações” (visões) ou a cura marca suas obras com seu poder espiritual.

Os desenhos dos primeiros anos foram realizados com um objectivo essencialmente educativo: concebidos como manuais ilustrados, cada motivo do desenho é acompanhado da sua legenda escrita, transcrevendo pela primeira vez para um alfabeto ocidental a língua do povo Huni Kuin.

Bane é filho de Ibã Sales, guardião dos saberes e cantos tradicionais (huni meka) do povo Huni Kuin transmitidos pelo próprio pai. Sob a orientação de Ibã, Bane foi o primeiro, em 2009, a transcrever os cantos rituais do cipó psicotrópico Nixi Pae em forma de desenhos, compondo assim verdadeiras partituras xamânicas. Essas canções evocam Yube, a sucuri cósmica e xamã primordial, mestre de Nixi Pae, e diversas entidades “humanimais” da floresta.
Reconhecimento internacional

Em 2012, através do antropólogo Bruce Albert, a Fundação Cartier incluiu pela primeira vez os desenhos MAHKU numa exposição em Paris. É o início do reconhecimento internacional que levou o MAHKU à 60ª Bienal de Veneza em 2024. A exposição “YUXI NUKUKUNAI, O Encontro de Almas”, foi pensada em torno do encontro entre o espírito vivo da floresta e a necessidade de preservá-la é também um caminho de descobertas e encontros.
Além de Ibã e Bane, este grupo inicial incluía também Iran, Isaka, Kixtī, Maná e Txanu cujos desenhos estão aqui expostos. Este grupo de artistas, cuja composição tem variado desde então, consolidou-se para formar o grupo MAHKU em 2013, que continua sua trajetória no circuito internacional de arte contemporânea. As suas obras, para além da sua própria qualidade estética, constituem simultaneamente um meio de comunicação com o mundo exterior e um vetor de consolidação da autonomia cultural e territorial do povo Huni Kuin.

Hoje os integrantes do coletivo são Kássia Borges Mytara, Acelino Tuin, Cleudo Bane, Pedro Maná, Yaka Huni Kuin, Rita Sales, Cleudo Teana Tuin e Isaka Huni Kuin. Kássia Borges Mytara, curadora da exposição, também é artista visual, pesquisadora e professora. Você pode descobrir suas obras em cerâmica ao lado das pinturas. A exposição é acompanhada por uma imersão sonora criada por Iba Huni Kuin e Denis Chartier.

Apresentado na Fundação Frans Krajcberg, este artista de origem polonesa, exilado em Paris e depois no Brasil, foi um pioneiro do que chamou de “a grande luta do século 21”: a preservação do nosso planeta.
Yuxi Nukukunai, O encontro das Almas, até 20 de dezembro de 2024, Fondation Frans Krajcberg : Chemin du Montparnasse 21 Avenue du Maine, 75015 Paris.
Chantal Manoncourt

Parisiense, arqueóloga e jornalista, apaixonada pelo Brasil, já escreveu vários livros sobre turismo brasileiro.
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Uma resposta
Maravilhosooooo