Por Márcia Huçulak
Claudia Sheinbaum foi eleita na semana passada, com 59% dos votos, a primeira presidente mulher da história do México. Em segundo lugar ficou outra mulher, Xóchitl Gálvez.
A eleita foi apoiada pelo atual presidente, Andrés Manuel Lopes Obrador, de centro-esquerda. Sua oponente representava uma proposta de centro-direita.
O que se espera em qualquer disputa político-eleitoral é o debate de ideias e propostas com respeito às regras, sem extremismos e sempre dentro dos limites democráticos.
De modo geral, o bom debate entre propostas antagônicas tende a ser produtivo para o aprimoramento e equilíbrio entre projetos de poder (Em tempos de política movida a histeria, desinformação e lacração em rede social, vale reforçar o grifo: BOM debate, aquele que gera luzes, não trevas).
Independentemente dos vieses ideológicos, o que quero ressaltar no caso mexicano é o protagonismo de duas mulheres na disputa do mais importante cargo do segundo maior país da América Latina e peça fundamental na geopolítica das Américas, visto que tem ampla fronteira com os Estados Unidos.
O feito ganha ainda mais relevância na medida em que o México tem uma sociedade com acentuado machismo e sérios problemas de violência criminal (narcotráfico) e de gênero.
A disputa feminina destas eleições ocorreu seis anos depois da lei que determinou igualdade de candidaturas entre homens e mulheres nos cargos legislativos.
O avanço foi evidente. No ranking mundial de paridade de gênero em parlamentos (da Inter-Parliamentary Union), o México ocupa uma honrosa 4ª posição, enquanto o Brasil fica na 135ª.
Num ano de eleições municipais aqui no país, a trajetória da nova presidente mexicana pode servir de inspiração. Ela está longe de ser uma neófita na política. Participa do jogo há muito tempo, tendo tido a preocupação de amarrar sua atuação a uma sólida formação acadêmica. Não abdicou da vida pessoal: teve uma filha do primeiro casamento e casou-se novamente.
Cientista, física e engenheira ambiental, com mestrado e doutorado, fez parte do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (IPCC), que ganhou o Nobel de Paz em 2007.
Foi a primeira prefeita da Cidade do México
A eleição mexicana merece ser ressaltada, também, se quisermos que mulheres em cargos majoritários importantes seja cada vez menos uma exceção esporádica.
A presença precisa ser mais natural e corriqueira, na mesma proporção de nossa participação na sociedade. Nunca é demais lembrar que somos quase 52% da população no Brasil.
No entanto, para ficar apenas no Poder Executivo, entre os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, há apenas uma governadora (Raquel Lyra, de Pernambuco). Já nos municípios, as mulheres ocupam menos de 12% das prefeituras do país – 658 prefeitas entre as 5.570 cidades.
É muito pouco.
Como venho insistindo com frequência, este ano de eleições municipais é oportunidade para darmos mais um passo rumo à equidade. O quadro só vai mudar se mais mulheres entrarem na disputa e receberem apoio. Costumo dizer que ninguém pergunta a um homem por que quer ser político, mas a grande maioria das pessoas questiona quando uma mulher decide entrar nessa seara – “por que quer ser política?”; “política não é lugar para mulher”, e por aí vai…
Nossa sociedade patriarcal definiu que o ambiente da política é exclusivo dos homens. A política feita com o falso sorriso e tapinha nas costas, do toma lá da cá, da trapaça, do poder a qualquer custo precisa ser definitivamente abolida. E nós mulheres não somos bem-vindas nessa concepção, porque atrapalhamos o jogo.
Não dá pra esperar que os homens estendam um tapete vermelho e abram mais espaço no ambiente partidário. Cabe a nós virar o jogo.
A administração de uma prefeitura, de um governo de estado e, nem se diga, da presidência de um país representa um grande desafio para qualquer pessoa.
Contudo, os exemplos mostram as mulheres temos desafios extras e nada rudimentares, como enfrentar o perene preconceito de gênero, com questionamentos à nossa capacidade e cobranças jamais feitas aos homens – “quem vai cuidar da casa e dos filhos?” ou “vai abrir mão da carreira?”.
Os homens, em geral, têm dificuldades para apoiar e incentivar mulheres que decidem participar da vida pública. Essa é mais uma barreira que temos de enfrentar.
E ainda muitas vezes, após ascender e realizar um bom trabalho, ainda ouvir coisas como “até que é competente para uma mulher”.
Por outro lado, as mulheres não aceitam mais essa submissão. Queremos ocupar o lugar que também é nosso. Afinal, só teremos uma sociedade mais equânime e justa, em que todos tenham iguais condições de desenvolver seu potencial, de ser respeitada nas suas escolhas e necessidades, se nós mulheres tivermos lugar à mesa das decisões. E essa mesa está na política.
Vamos ocupar nosso espaço!
Foto: Reprodução Instagram
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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