Por Márcia Huçulak
Apesar de ser um tema importantíssimo e que está na pauta mundial há um bom tempo, as mudanças climáticas ainda não tiveram a abordagem prática à altura dos desafios que representam para toda a humanidade.
As chamadas Conferências das Partes (COPs), por exemplo, caminham para a 30ª edição, que será realizada no Brasil, em 2025. Elas consolidam estratégias globais entre os países, a fim de se lidar de forma conjunta o problema.
O Acordo de Paris, por sua vez, foi firmado em 2015 e estabeleceu ações para limitar o aumento da temperatura global abaixo de 2°C, por meio da redução na emissão de gases de efeito estufa (GEEs).
As metas e acordos estabelecidos, no entanto, capengam claramente.
A elevação da temperatura na Terra traz sérias implicações em todas as áreas e enormes desafios para a vida no planeta.
O impacto é muito relevante na saúde das pessoas e nos sistemas de atendimento da população – e, portanto, exigem uma readequação das políticas públicas.
Os problemas já estão aí, no nosso dia a dia, embora a maioria das pessoas não associe uma coisa e outra.
Como se trata de um assunto complexo, o senso comum limita o entendimento da questão a um problema ligado apenas a ondas de calor e que, por ser global, não temos muita coisa a fazer no plano individual.
Errado! Precisamos entender que o contexto é mais amplo e grave, além de nos envolvermos – todos e cada um – mais.
Temos visto e vivido, por exemplo, o grave cenário da dengue no país (tenho abordado bastante a dengue neste espaço porque o tema exige).
Sem o aquecimento nas temperaturas registrado nos últimos anos, o quadro provavelmente não seria o mesmo.
Como mostrou o professor Mário Antônio Navarro da Silva, titular do departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o tempo de vida, a proliferação e a velocidade de transmissão do mosquito estão maiores.
“Tem tudo a ver com as mudanças no clima”, informou ele em audiência pública que tive a satisfação de promover sobre o tema na Assembleia Legislativa, na última quinta-feira (4).
A longevidade da fêmea do mosquito Aedes albopictus, um “primo” menos famoso do Aedes aegypti, que também transmite a dengue, por exemplo, é de 19 dias a uma temperatura de 15°C e de 61 dias a 20°C – três vezes mais.
Já a viabilidade dos ovos passa de 66% a 15°C para 88% a 30°C, sendo que o tempo para desenvolvimento larval a essas temperaturas ocorre em 32 dias e 5 cinco dias, respectivamente.
Podem parecer dados muito técnicos, mas que traduzem bem o aumento do potencial de estragos causados pelo mosquito: vivem mais e se proliferam mais rápido.
Mais mosquitos, mais doentes, maior necessidade de atendimento e tratamento no sistema de saúde. No caso da dengue, já são 1,3 milhão de casos confirmados no país.
A infestação do mosquito transmissor, que chegava a 31% dos municípios brasileiros em 1995, pulou para 81% em 2014 e para 90% em 2021.
Outras implicações das mudanças climáticas na saúde
Há várias outras implicações das mudanças climáticas na saúde, como: aumento do risco de infartos, AVCs e outras complicações cardiovasculares por causa do calor e o agravamento de doenças como asma, bronquite e pneumonia em decorrência da poluição do ar por queimadas, estiagens e outros eventos climáticos extremos (que estão mais frequentes).
A audiência pública foi uma oportunidade de debater em alto nível esses e outros impactos. Dela participaram também o professor Wilson Flávio Feltrim Roseghini (Laboratório de Climatologia da UFPR); o médico Alcides de Oliveira (diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba); José Alvaro Carneiro (diretor-corporativo do Complexo Pequeno Príncipe); Beatriz Battistella Nadas (secretária de Saúde de Curitiba); e o médico veterinário e professor Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk (do Conselho Regional de Medicina Veterinária).
Todos eles com muito conhecimento técnico e científico, que levaram ao encontro informações, análises e sugestões que contribuem para o enfrentamento do problema.
Como bem destacou José Alvaro Carneiro, cuja corporação é um exemplo daquilo que pode ser feito para mitigar o crescimento dos GEEs, todos têm de participar ativamente e assumir sua responsabilidade – já que a sociedade global não está dando conta do recado.
A audiência pública foi realizada neste sentido, fazendo do parlamento estadual uma ponte que ajuda a unir gestores, comunidade e aproxima a academia das pessoas decodificando a ciência em termos acessíveis.
Fazer mais do mesmo não é solução, é preciso mudar, inclusive repensar, nossas escolhas e atitudes em relação a sustentabilidade do planeta.
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.
Foto: Canva
Leia mais colunas de Márcia Huçulak – Mulher na Política
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.