Interrupção dos sonhos das meninas

o sonho das meninas- free pik

Por Márcia Huçulak

Recentemente vi uma campanha produzida por uma empresa norte-americana que alerta os pais sobre a interrupção de sonhos que nascem na infância das meninas. Os motivos: as convenções que a sociedade estabelece sobre o que é permitido às meninas.

Essa perspectiva me impactou muito. Não havia pensando quanto as mulheres são desestimuladas desde a infância, pela diferença de tratamento, o que atrapalha muito o desenvolvimento pleno das suas potencialidades e sonhos.

Desde a tenra idade, a sociedade, consciente ou inconscientemente, define a forma como meninas são tratadas e criadas e como são levadas a deixar de acreditar no seu potencial. Meninas não se imaginam no futuro como presidentes, cientistas, astronautas, CEOs… A lista vai longe.

Em geral, meninos são incentivados e apoiados a fazerem o que quiserem, meninas não têm as mesmas possibilidades, são direcionadas para atividades do cuidado, da submissão e a serem cordatas.

Além disso, dificilmente uma menina ganha um brinquedo que a incentiva a fazer experimentos científicos ou que estimule habilidades e potencialidades do mundo masculino.

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Em pleno século 21, em muitos lugares as meninas ainda têm limitações para estudar ou para escolher uma profissão que não seja as definidas para as mulheres. Elas raramente são preparadas para terem autonomia financeira. Muitas famílias que dispõem de bens preterem as mulheres na sucessão patrimonial.

Podemos citar outras inúmeras situações em que a sociedade – e quando falo de sociedade, falo de homens e mulheres – perpetua condicionantes do que é permitido as meninas, enquanto aos meninos tudo é facultado e até mesmo incentivado.

Não é deliberado, mas é óbvio que teremos um gap, uma percepção de inferioridade, de sermos menos capazes, de não termos habilidades… Ou seja, uma interrupção de sonhos do que é permitido as meninas em comparação aos meninos.

Nas últimas décadas tivemos alguns avanços na participação das mulheres em corporações, na política, em profissões que eram majoritariamente masculinas. Porém, ainda temos um longo caminho a percorrer para que efetivamente tenhamos condições de igualdade em todas as áreas.

Desde 2006, as barreiras de gênero e a avaliação de sua evolução ao longo dos anos são acompanhadas e publicadas anualmente no relatório do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial).

O documento analisa e compara as diferenças de gênero e a sua evolução em quatro dimensões chave: participação econômica e oportunidade, realização educacional, saúde e sobrevivência e empoderamento político. É o índice mais antigo que acompanha o progresso dos esforços de vários países para diminuir ou eliminar as barreiras de gênero ao longo do tempo.

Sonho das meninas e a total relação com as diferenças de gênero

De acordo com o index global de gênero 2023, nenhum país atingiu ainda a paridade de gênero, embora muitos estejam próximos de fazê-lo – são os chamados países desenvolvidos do norte europeu. Porém, de acordo com o relatório, o mundo ainda levará 162 anos para equalizar a diferença de gênero na dimensão do empoderamento político; 169 anos para a dimensão participação econômica e oportunidade; 16 anos para realização educacional; e o dado é indefinido para saúde e sobrevivência.

Qual a relação entre essas diferenças de gênero com os sonhos e possibilidades das meninas? Penso que a resposta é clara: total!

Enquanto não encararmos de fato e com ações que impactem as novas gerações estaremos “enxugando gelo” na questão da participação feminina em cargos de poder e decisão.

Sim, precisamos de mais mulheres em posições de decisão. Sem elas não teremos mudanças na sociedade, com ações inclusivas, salários iguais, políticas para diminuir a violência de gênero.

Ainda temos, no entanto, resistência quando abordamos o tema da desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Alguns nos chamam de feministas chatas. Outros, inclusive mulheres, afirmam que para alcançar algo basta querer; que elas ganham menos porque não se esforçam; que há espaço na política, mas mulher não gosta de política.

Assim como temos espaços a conquistar, há bons exemplos. Na área da educação, felizmente, meninas e jovens já têm se destacado, somos maioria nos diversos cursos superiores das universidades e em algumas profissões tidas como majoritariamente masculinas, temos participação quase igual.

Tratar essa questão das diferenças de gênero necessita do envolvimento de toda a sociedade, exige esforço coletivo. Todos nós temos responsabilidade em nutrir confiança, reforçar habilidades e elevar a próxima geração de meninas e jovens a sonhadoras e realizadoras.

Juntos podemos moldar um futuro que incentive meninas a sentirem confiança e só assim alcançaremos a tão sonhada igualdade de gênero na sociedade.

Márcia Huçulak

O Brasil tem2,8 médicos para cada 1.000 habitantes, maior proporcionalmente que Estados Unidos e Japão. No entanto, a presença deles nas cidades brasileiras é muito desigual, com maior concentração nas grandes.
Divulgação/Alep

Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.

Foto: Freepik

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