Por Márcia Huçulak
Quis o destino que a Semana da Enfermagem deste ano esteja ocorrendo no mesmo período em que o Rio Grande do Sul padece de uma tragédia nunca antes vista no estado, decorrência de fortes chuvas.
Até a sexta-feira (10) eram mais de 337 mil desalojados e 70 mil desabrigados, 116 mortos, 143 desaparecidos e quase 2 milhões de pessoas afetadas, além de danos gigantescos e ainda não totalmente contabilizados na infraestrutura de boa parte do estado. Porto Alegre ficou debaixo d´água.
Em meio ao trabalho de milhares de profissionais das mais diversas áreas, a técnica de enfermagem Carolina Fonseca deu uma rápida entrevista ao Jornal Nacional na terça-feira (07/05).
Disse ela: “A enfermagem está indo muito mais do que só no atendimento ao paciente. A gente está trabalhando muito com questões psicológicas. A gente vai até o local, a gente atende bastante pessoas”.
Quatro anos atrás, os profissionais da enfermagem já haviam demonstrado todo seu vigor, preparo e importância, quando foram fundamentais no combate à covid-19.
São duas ocasiões em que a categoria comprova: as verdadeiras habilidades emergem nos momentos de crise, situações em que a eficiência faz diferença entre vida ou morte.
Os casos ajudam a chamar atenção para uma profissão desde sempre fundamental, com uma rica história de dedicação e ainda pouco reconhecida.
A Semana da Enfermagem, celebrada sempre entre 12 (Dia da Enfermeira e do Enfermeiro) e 20 de maio (Dia do Técnico de Enfermagem), tem justamente a missão anual de reconhecer, valorizar e debater os rumos de um setor que reúne quase 140 mil profissionais no Paraná e 3 milhões no Brasil.
Sistemas de saúde de modo geral precisarão passar por mudanças daqui para frente, em decorrência, por exemplo, da transição demográfica (a população envelhece e vive mais, felizmente), do impacto tecnológico (que aumenta a complexidade clínica), das mudanças no perfil das doenças (com aumento das condições crônicas) e das condições nutricionais (com aumento da obesidade, alimentação inadequada, consumo excessivo de álcool e drogas).
O caso do Rio Grande do Sul deixa ainda mais claro que as catástrofes do clima também estarão cada vez mais na ordem do dia.
A evolução desse cenário exige a participação e adaptação do profissional de enfermagem, bem como de diversas outras categorias.
O paradigma do cuidado
Um dos desafios da saúde é mudar o paradigma da cura para o cuidado. O que isso quer dizer? Que o tratamento de doenças sempre será necessário, mas é preciso investir mais e melhor em ações de promoção e prevenção e nos processos que interferem na saúde.
A enfermagem, integrada a outros profissionais, tem uma missão primordial nessa “virada de chave”, que também vai exigir maior participação das famílias nos cuidados com a saúde.
Ao estudarmos a História, vemos que se trata de uma profissão que soube evoluir. Desde que, nos idos de 1860, a inglesa Florence Nightingale estabeleceu as bases da enfermagem contemporânea e a transformou em profissão, houve desenvolvimento contínuo.
O público em geral pode associá-la “apenas” ao trabalho num hospital ou clínica. Vai muito além disso, no entanto, com atividades de ensino e pesquisa, gestão de equipes e de sistemas de saúde, auditoria e regulação, enfermagem forense, entre outras, que incluem ainda um campo enorme de crescimento: o empreendedorismo.
Em todas essas áreas, exigem-se muitas habilidades e competências, dentro do que podemos chamar da ciência do cuidado.
Crises recentes e atuais demonstram claramente a importância dos profissionais para a saúde e para a sociedade, além da necessidade de sistemas de gestão pública estruturados.
Para um futuro promissor há de se rever, tanto no setor público quanto no privado, as condições de trabalho e melhorias salariais.
Que esta Semana da Enfermagem seja útil para refletirmos o que queremos como sociedade. O cenário de condições adversas, climáticas e epidemiológicas, demonstra cada vez mais a necessidade de mudanças.
E sem profissionais motivados e preparados tecnicamente não há como garantir o cuidado que as pessoas precisam.
A enfermagem realiza o cuidado, ciência complexa e indispensável na saúde.
Foto: Divulgação/Pronto Socorro de Canoas
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.
Leia mais colunas de Márcia Huçulak – Mulher na Política
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.