A bolacha recheada de R$ 1,5 bilhão

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Por Márcia Huçulak

Bolacha recheada, salgadinho de pacote, refrigerante, balas, pizzas e lasanhas congeladas, caldos e temperos prontos.

Esses e uma infinidade de outros produtos são chamados de ultraprocessados, cujo consumo em grande escala está diretamente associado a sobrepeso e obesidade, especialmente entre crianças e adolescentes.

Chamar de alimento é uma concessão exagerada da boa vontade. Eles têm pouco de comida e muito de aditivos, conservantes, emulsificantes e quetais – usados para deixá-los bonitos, apetitosos, duráveis e relativamente baratos.

São produtos de alta densidade energética, muito açúcar, sódio, gordura saturada e pouquíssimos micronutrientes e fibras. Engordam e não alimentam. Matam a fome, ao custo de comprometer a saúde de quem consome.

Não custa lembrar: alimentar-se significa prover os nutrientes necessários para um organismo saudável, por meio de comida de verdade.

O consumo de processados e ultraprocessados não é a única causa de sobrepeso e obesidade. Também estão presentes sedentarismo, fatores genéticos e, sim, fatores econômicos (preço das comidas) e sociais.

O cenário exige atenção e ação. O Brasil passa por uma verdadeira explosão de casos de obesidade infantil, sendo que nos últimos tempos o problema se acentuou entre as crianças de 5 a 10 anos.

Compilando dados de 5,7 milhões de crianças, estudo publicado em abril pela The Lancet Regional Health – Americas mostrou que 30% dos meninos e 26,6% das meninas que nasceram entre 2008 e 2014 estão com sobrepeso ou obesos. Antes, para os nascidos de 2001 a 2007, a proporção era de 26,8% e 23,9%, respectivamente. Levantamentos feitos nos anos 1980 e 1990 apontavam uma incidência em torno de 5%.

Os pesquisadores notam que o problema crescente é ainda mais difícil de ser enfrentado pela população de baixa renda.

Obesidade gera uma série de desdobramentos de saúde, com piora das condições cardiovasculares, diabetes, hipertensão, asma, colesterol, cânceres, problemas de coluna, depressão e ansiedade, entre outros. Na pandemia de covid-19, por exemplo, estudos apontaram que pessoas com obesidade tinham risco de morte dez vezes maior nos casos graves da doença.

São situações que precisam ser tratadas. Levantamento feito pelo Instituto Desiderata chegou à cifra de R$ 1,54 bilhão em custos com tratamentos no Sistema Único de Saúde (SUS), atendimentos e medicamentos – só de crianças e adolescentes. O valor abarca uma década (2013 a 2022), sendo que saltou de R$ 145 milhões por ano para R$ 174 milhões no período (só com internações de crianças no SUS).

A bolacha recheada faz mal e custa caro

Antigamente, era normal que se considerasse sobrepeso até como uma coisa saudável (“é forte”) e fruto puro e simples do comportamento da pessoa (“é gulosa”).

A ciência vem mostrando constantemente que não é assim. A solução exige esforço individual, mas passa também pela família (principalmente no caso das crianças), pela sociedade e pelo governo (já que há questões relevantes de economia e política, como o caso dos ultraprocessados deixa claro ao exigir, por exemplo, regulação e esclarecimentos para a sociedade).

Falta de tempo, longas jornadas de trabalho, cansaço… Há muitos fatores que jogam a favor do consumo de produtos processados nas famílias. É muito mais fácil e rápido abrir um pacote de “porcaritos” ou se render ao fast food.

Com as crianças, a disputa entre um brócolis e um pacote de confete de chocolate soa como missão impossível para muita gente, bem como convencê-las a largar o celular e ir brincar no parque.

(Aqui valem os parênteses para lembrar que o uso excessivo das tecnologias e redes sociais também compromete de forma cada vez maior a saúde mental da juventude, além de agravar o sedentarismo e por consequência o sobrepeso.)

Para enfrentar a obesidade é importante despir-se de preconceito, não subjugar quem precisa enfrentar o problema e dar apoio necessário (muitas vezes, só vontade individual não basta).

Pais, mães, companheiros e companheiras, educadores em geral precisam estar ao lado das crianças e investir tempo no diálogo e nas ações em prol de bons hábitos – lembrando-se sempre de que exemplo costuma dar ótimos resultados.

É uma batalha que vale a pena ser travada. Pelo bem da saúde das crianças e dos adultos, atuais e futuros.

Dá para começar desembrulhando menos (processados e principalmente os ultraprocessados) e descascando mais (frutas e vegetais em geral).

Foto: Canva

Márcia Huçulak

A obesidade infantil vem se acentuando em crianças de 5 a 10 anos. Um dos fatores é o consumo de alimentos ultraprocessados como bolacha recheada, salgadinhos e refrigerantes, entre outros
Divulgação/Alep

Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.

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