Por Ana Paula Barcellos
A revista Elle fez um post no Instagram, nessa semana que passou, perguntando: “Ter tatuagens está fora de moda?” Não consegui me decidir se a pergunta está errada ou se na verdade é uma falsa questão. Faltou pauta, falta referência pro estagiário? Será que ele acha que tatuagem é igual calça branca, igual Labubu?
A tatuagem é ainda mais antiga que a moda, que as tendências. Tem um simbolismo enorme desde sempre para as mais diversas sociedades. Evidências arqueológicas mostram que ela existe há milhares de anos: Ötzi, o homem do gelo encontrado nos Alpes em 1991, cuja múmia é datada de mais de 5000 anos, tinha 61 tatuagens – linhas e cruzes provavelmente terapêuticas, sobre articulações doloridas. Múmias de mulheres do Antigo Egito, com 2000 anos, exibem tatuagens figurativas, símbolos de fertilidade e proteção.

Polinésios usavam o “tatau” (de onde vem a palavra tattoo) para marcar status social, vitórias em batalhas e ritos de passagem.
Em culturas originárias das Américas, Ásia e África, ela era – e ainda é – ferramenta de identidade tribal, cura espiritual e comunicação com o divino.
Gregos e romanos tatuavam para marcar prisioneiros de guerra.
A tatuagem sempre carregou simbolismo profundo: proteção, pertencimento, memória, rebeldia ou cura.


Tatuagem, tendência fashion
O fato de ter caído no gosto de geral nos anos 2000 e tanto não transformou tatuagem em tendência fashion. Talvez seja mais preciso dizer que certos estilos de tatuagem remetem ao hype millennial dos 2000.

A tatuagem pode ser uma forma de expressar a moda, de expressar uma tendência, afinal ela é antes de tudo uma ferramenta de expressão artística.
Agora rola essa onda clean girl, com pele lisa, tons neutros, visual minimalista. Mas o conservadorismo atual, o próprio clean girl, não vão acabar com a tatuagem.
Tatuagem: histórias na pele
Tem bastante gente removendo, mas também tem gente tatuando: cybersigilism, geometric realism, sketch, tem também o floral eterno, as fine line que seguem firmes, tramp stamp de volta, watercolor… tem também movimentação pelo resgate de uma maior valorização do estilo de especialização de cada tatuadora(or) e da autenticidade dos desenhos.
Tatuagem não é Labubu. Ela sempre esteve aí, contando histórias na pele. Seja como for, vai permanecer.
Foto capa: Freepik
Ana Paula Barcellos

Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate.
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