Por Márcia Huçulak
As mortes violentas intencionais caíram no país no ano passado, conforme mostrou o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública sobre violência, divulgado em julho.
É uma tendência que vem sendo registrada nos últimos anos. A boa notícia, no entanto, não nos coloca no patamar de um país seguro e tampouco diminui o tamanho do desafio que ainda precisa ser vencido.
Com 46.328 casos registrados, o Brasil é o 18º país mais letal do mundo, se o recorte for o número de ocorrências em relação ao de habitantes. São 22,8 casos para cada 100 mil habitantes, uma taxa considerada ainda muito alta. Em números absolutos de mortes violentas, nenhum país registrou mais que o Brasil.
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As diferenças regionais são bastante acentuadas. O Paraná, por exemplo, fica significativamente abaixo da média nacional, com taxa de 19,8; enquanto o Amapá registra 69,9 mortes violentas para cada 100 mil moradores.
Além das diferenças regionais, a violência atinge de maneira mais severa nichos específicos, como os mais pobres e negros.
Num país de desigualdades abissais, isso dificulta ainda mais a missão que todos os gestores públicos deveriam buscar: a de garantir condições iguais para todos, cujo resultado seria mais e melhor desenvolvimento socioconômico.
A disparidade econômica termina por definir muitas vítimas da violência
Se as dificuldades financeiras já impõem cargas extras significativas para jovens pobres mudarem de patamar econômico, imagine agregar a esse cenário uma rotina de conflitos constantes na vizinhança.
Um levantamento recente do Cesec (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), por exemplo, apontou que moradores de favelas com episódios frequentes de violência têm 62% mais risco de desenvolver depressão e 42% a mais para hipertensão.
Além disso, os moradores apresentam com mais frequência sintomas como falta de ar, tremores, suor, insônia e coração acelerado.
Some-se isso à rotina de longas horas no transporte, trabalho e estudo… Difícil, não?!
O levantamento foi feito em favelas cariocas, mas é uma dedução bem razoável que esses problemas se repitam em outras comunidades onde a violência está presente – e quantas cidades de médio e grande porte não têm este tipo de situação?
Por outro lado, outra pesquisa, desta vez da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), publicada na revista Scientific Reports, mostrou que combater a pobreza durante a infância pode reduzir em quase 25% a chance de um jovem se envolver com crimes.
O trabalho foi realizado a partir de fatores diretamente associados à criminalidade: baixa escolaridade do chefe da família, baixo poder de compra e acesso limitado a serviços públicos.
A ciência aponta claramente caminhos para a diminuição da violência. Desenvolver e implantar políticas públicas consistentes para diminuir as desigualdades é o que governos em todas as esferas precisam fazer. Difícil é isso acontecer.
Não se trata só de medidas pontuais. Como vemos comumente nos noticiários, muitas vezes a violência atinge pessoas que não têm nada haver com a criminalidade. Se tornam vítimas apenas por viverem em áreas vulneráveis.
Diminuir esse problema depende de planejamento de longo prazo e investimento em melhoria de moradia, educação, saúde e infraestrutura das cidades.
Haverá o dia que teremos cidades e uma nação sem violência?
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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