Por Cassiano Russo, professor de filosofia
Nunca sei sobre o que escrever. Na maioria das vezes, simplesmente começo a digitar o que me vem à cabeça, sem me importar se o que escrevo faz algum sentido ou não. Aparentemente, minhas palavras devem ter algum significado, pois sempre recebo algum elogio de leitores – eles, os elogios, são poucos, mas eu também não sou lá essas coisas como escritor… Agora, neste momento, eu não faço ideia do motivo pelo qual escrevo o que escrevo, somente sinto que alguma coisa deve ser dita, como se fosse uma necessidade dizer alguma coisa, por mais que o que eu diga não tenha pé nem cabeça.
Imagino que esse meu gesto de escrever sem ter um motivo, ou razão, seja sinal de loucura – talvez eu seja um maluco completamente pirado, porque, se eu fosse uma pessoa normal, iria ver TV, procurar uma namorada, dar uma volta pelo quarteirão, ou seja lá o que for o que as pessoas normais fazem! Mas ficar aqui, sentado, a redigir estas linhas é uma maluquice. Devo imaginar que sou um bom escritor, embora eu não saiba escrever absolutamente nada. Aliás, não sei nada de nada na vida, não tenho traquejo social para me dar bem em reuniões, festas, casamentos, nada!
Minha escrita é tão poderosa quanto o meu convívio em sociedade: pura esterilidade de desocupado – ter uma ocupação parece uma coisa muito nobre, e eu gostaria de ter uma, mas, pelo visto, o curso de filosofia não serviu para muita coisa, senão para explanar sobre Nietzsche, Sartre, Camus e tantos outros filósofos e escritores que moldaram o meu modo de ver as coisas – o que, na prática, quer dizer que sou um desempregado que lê Dostoiévski.
Fato é que, quando vejo minhas crônicas publicadas, sinto-me importante, como se eu fosse um intelectual que sabe exatamente o que diz, quando, na verdade, eu não faço ideia do que querem dizer minhas palavras – não sou intelectual, gosto de ouvir Black Sabbath e de tomar cerveja, o que não é lá coisa de intelectuais, imagino. Eles, os intelectuais, devem ter um cabedal tão enorme, que são capazes de escrever livros, dar palestras, dirigir editoras, etc., enquanto eu mal tenho capacidade para escrever uma crônica interessante – apesar de eu ainda me sentir importante…
Curioso, ao ler este texto, tenho a impressão de que escrevo um diário todo desengonçado, parece que esta crônica não diz nada além do fato de que eu escrevo crônicas, de que não sou intelectual, e que tenho um gostinho de vitória ao saber que a crônica foi publicada.
Realmente, isso tudo é muito esquisito para mim. Escrever é estranho deveras. Notadamente quando me dou conta das miuçalhas que estas linhas carregam, porque nada disse de relevante, não apresentei uma única informação útil ao público leitor e, no entanto, estou todo satisfeito com o que escrevi.
No fundo, imagino que eu escreva em busca de certo alívio para o peso de existir, afinal a existência é heavy metal – sei que esta última afirmação é meio boba, mas eu gostei, e deixo registrada neste meu relato.
E vocês podem ler minhas crônicas às segundas-feiras, sem esperar que eu diga coisas grandiosas e profundas.
Pois não sou intelectual e minha existência é pesada.
Uma metafísica de chumbo sobre a qual divago quando estou à toa, geralmente a fumar cigarros de filtro vermelho.
E passo horas com o sentimento de que tudo o que fiz foi em vão, porque não cheguei a lugar algum na vida: não consegui emprego, carro, casa, família, nada do que as pessoas geralmente alcançam. Só sei que possuo alguns leitores, mas não devem ser muitos, pois o retorno que recebo é pequeno, como pequenas são minhas crônicas – que não criam polêmica – e que, às vezes, possuem um título que chama a atenção, como esta que acabo de escrever, com o termo heavy metal como descrição, em língua inglesa, de uma determinada condição de ser.
Heavy Metal.
Minha existência é assim mesmo: expressão estrangeira, esquisita e pesada.
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