A cidade que começou como mata e já é quase uma selva de pedra

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Por Ana Paula Barcellos

Se você passeia por Londrina, deve ter reparado que, por aqui, as árvores centenárias estão se tornando uma espécie em extinção. Não se trata de um fenômeno raro da natureza, mas de um processo lento e, por isso mesmo, mais doloroso: a falta de manutenção das áreas verdes e também das nossas árvores. As majestosas figueiras e os imponentes ipês, que resistiram a décadas de mudanças e transformações, estão sendo sufocados pelo concreto que cresce como praga em volta delas. É como se a cidade estivesse decidindo que as árvores são meros adereços no cenário urbano, em vez de parte fundamental da nossa existência e resistência como cidade.

Olha o Bosque, largado aos pombos de novo. O reduto das nossas espécies originárias virou um pedaço fedido de mato largado em meio ao asfalto. Infelizmente, o que vemos hoje é um exemplo perfeito da negligência. As áreas verdes que, antes ocupadas por piqueniques em família, agora aparecem abandonadas, com caminhos esburacados e canteiros que parecem mais desertos do que jardins.

Bosque de Londrina: hoje um espaço fedido – Foto: TripAdvisor

E ao invés de cuidarmos das árvores que já estão aqui, o que estamos fazendo? Trocar árvores frondosas, as donas das sombras todas, por mudas jovens que não conseguem oferecer um pingo de alívio nos dias quentes é, no mínimo, equivocado. É como trocar a cobertura de um prédio por um tapete. A sombra das grandes árvores é uma das nossas principais armas contra o calor extremo que Londrina enfrenta.

A sensação é de estar dentro de um forno, com o asfalto derretendo sob nossos pés, e o ar parece ter evaporado. E o que fazer? A cidade pode começar a entender que o investimento na preservação das árvores existentes é mais inteligente do que plantar mudas que demoram anos para crescer. Além de melhorar a qualidade de vida, árvores antigas são verdadeiras fábricas de ar puro, ajudando a refrescar o ambiente.

Cidade verde cada vez mais longe

Foto: Freepik

A questão é que Londrina, com suas árvores centenárias, não deveria se esforçar tanto para ser um labirinto de concreto; a gente está cada vez mais se afastando da chance de ter uma cidade verde, uma cidade verde modelo, tamanho nosso potencial nesse sentido. Londrina poderia ser um oásis verde no norte paranaense. E cada corte, e mesmo cada muda plantada sem um planejamento cuidadoso, é um passo a mais rumo a um futuro árido e sem sombra.

Além disso, recortar as áreas verdes e sufocar as árvores é um convite ao calor que aumenta, ao estresse urbano e até mesmo a um adensamento populacional sem estrutura. Quando olhamos para o céu e vemos menos verde e mais cinza, pode saber que já temos um problema.

Foto principal: Imagem gerada por IA

Ana Paula Barcellos

É graduada em História pela UEL, Mestre em Estudos Literários, integra coletivos culturais da cidade e é agente cultural. Sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências, e escreve também a coluna de Moda deste jornal. Siga os Instagram @experienciasdecabide e yopaulab

(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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