Por Marcelo Minka
Enfim, uma chuvinha para aliviar o calor escaldante, e com ela chegou um ótimo filme nos cinemas da cidade. Estamos falando de Zona de Interesse, o novo filme de Jonathan Glazer, diretor de Under the Skin (2013), um dos melhores filmes que assisti na vida.
A filmografia de Glazer é marcada por sua constante busca por inovação e experimentação. Seus filmes desafiam as convenções narrativas e visuais, convidando o público a refletir sobre temas complexos e perturbadores. Glazer é um diretor único e visionário que continua a contribuir para o cinema com obras de grande impacto e, finalmente, está começando a ser reconhecido pela indústria cinematográfica.
A trama toda de Zona de Interesse se desenrola através de contrastes, apresentando uma atmosfera bucólica e de aparente ingenuidade, onde a família Höss desfruta do conforto de uma casa com jardim e piscina nos fundos, garantindo a alegria e a segurança das crianças. Mas, do outro lado do muro dos fundos dessa casa, está o campo de concentração de Auschwitz.
E é nesse cenário aparentemente confortável que Rudolf (Christian Friedel), um comandante do campo, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) lutam para construir um lar para os filhos, sem se incomodarem com o fato de que do outro lado do muro torturam e matam seres humanos diariamente.
Zona de Interesse: denso e, às vezes, sufocante
A direção contemplativa e distanciada de Jonathan Glazer mimetiza o alheamento da família com o campo de concentração. De lá, do outro lado do muro, só temos acesso através dos sons, e mais uma vez o contraste entre o canto dos passarinhos e os tiros da SS ali ao lado mostra como podemos ser indiferentes ao sofrimento alheio, somos capazes de qualquer coisa para não sair do conforto.
A fotografia, assim como alguns capítulos da nossa história hominal, tem um colorido acinzentado, reforçando a banalização da violência da qual somos capazes.
A produção concorre a cinco Oscars: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Mixagem de Som.
Mas aqui fica um alerta: Zona de Interesse é denso, difícil e muitas vezes sufocante. Vi três casais de namoradinhos saírem do cinema durante a exibição. Geralmente gostamos de não pensar, raciocinar, prestar atenção, está no nosso DNA, e, em Zona de Interesse, a direção não faz questão de facilitar para os espectadores. Assista se você gosta de filmes densos e cerebrais.
Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas. Me siga no Instagram: @marcelo_minka e @m_minka_jewelry
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Fotos: Divulgação
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