Por Marcelo Minka
“Motel Destino”, a mais recente obra de Karim Aïnouz, que representou o Brasil na competição de Cannes, chega aos cinemas prometendo uma experiência cinematográfica intensa e provocativa. O filme, que se define como um “noir equatorial”, imerge o espectador em um universo sensual e violento, onde as paixões se entrelaçam com a brutalidade, enquanto a beleza se confronta com a decadência.
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A trama gira em torno de Heraldo, um jovem que se refugia em um motel no Ceará após um crime. Lá, ele se envolve com Dayana, uma mulher misteriosa e fatal, e Elias, o dono do estabelecimento, um homem marcado pela violência. A partir desse encontro, uma série de eventos desencadeia uma espiral de desejo, traição e morte.
O diretor Aïnouz, que também dirigiu os geniais Praia do Futuro (2014) e A Vida Invisível (2019), constrói um universo visual exuberante, marcado pelas cores vibrantes do Nordeste brasileiro e pela sensualidade dos corpos em movimento. A fotografia, assinada por Lula Carvalho, captura a beleza decadente do motel e a intensidade dos personagens. A trilha sonora, com uma mistura de ritmos regionais e experimentais, intensifica a atmosfera sensual e tensa do filme.
As atuações são marcantes. Iago Xavier, no papel de Heraldo, demonstra uma vulnerabilidade e uma intensidade que o tornam um protagonista cativante. Nataly Rocha, como Dayana, é magnética e enigmática, transmitindo uma sensualidade selvagem e imprevisível. Fábio Assunção, no papel de Elias, entrega uma performance visceral e complexa, interpretando um personagem atormentado pelo passado.
Motel Destino é um filme que divide opiniões
Alguns elogiam a ousadia e a beleza visual, enquanto outros criticam a violência explícita e a falta de profundidade dos personagens. É inegável que o filme é provocativo e desafia o espectador a confrontar seus próprios tabus. As cenas de sexo, embora explícitas, não são gratuitas e servem para explorar a complexidade das relações entre os personagens.
A violência, por sua vez, é um elemento central da narrativa e reflete a brutalidade da realidade brasileira. Aïnouz não poupa os espectadores, mostrando a violência em sua forma mais crua e visceral. Essa escolha estética pode incomodar alguns, mas é fundamental para a compreensão da história. Não vamos tapar o sol com a peneira, diria minha avó.
O filme também levanta questões importantes sobre a sexualidade, a violência e a identidade. Os personagens são complexos e ambíguos, e suas ações são motivadas por desejos contraditórios. A ausência de julgamentos morais permite que o espectador se conecte com os personagens de forma mais profunda e explore suas próprias questões.
“Motel Destino” é um filme que exige do espectador uma certa abertura para experimentar novas sensações e confrontar seus próprios limites. É um filme que divide opiniões e que certamente gerará debates. Mas, independentemente de suas opiniões, é inegável que “Motel Destino” é uma obra cinematográfica ousada e original, que marca um novo momento no cinema brasileiro.
Fotos: Divulgação/Pandora Filmes
Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas. Me siga no Instagram: @marcelo_minka e @m_minka_jewelry
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