Um encontro extraordinário na encantadora Quito

Por André Luiz Lima

O maravilhoso de ser brasileiro e de viver em um país de grande miscigenação e múltiplas diferenças é que abriu portas para a possibilidade de vários olhares sobre um mesmo tema. Comecei minhas viagens por culturas tão diversas muito jovem e, nesses caminhos, encontrei grandes mulheres com suas histórias, seus olhares de proteção, que me inspiraram e desmistificaram crenças, principalmente, que  não precisamos buscar longe ou em outro algo que está tão perto. Através das trocas e conversas, nossas diferenças são tão iguais. Passei, então, a ver com os olhos dessa força misteriosa, desse gênero feminino do Ser.

O encontro com Maria del Carmen, no Equador, centro da terra, tocou algo muito profundo em mim: uma explosão de alegria, que me chamava a celebrar a vida, algo mágico. Nesse encontro, ela me convidou para fazer a cerimônia da lua, e fui até a sua fazenda. Segundo o Xamanismo, a Lua cheia de agosto é a mais forte para atender os seus pedidos.

Cheguei à fazenda à noite.

 A casa é feita de argila e iluminada apenas por candelabros.

Ela me colocou um  poncho e fomos até o pátio.

Fazia frio!

Lá fora, a lua cheia iluminava com fios dourados  a Cordilheira dos Andes, e podia-se ver o fascinante vulcão Cotopaxi, a montanha de luz.

Eu  estava curioso e feliz para saber como seria a tão famosa Cerimônia.

Maria del Carmen pediu que olhasse a Lua, me abraçou em silêncio e disse a frase que ‘carrego’ até hoje, na minha mais doce memória:

– Viva a Vida, André!

Maria del Carmem foi de uma generosidade tão grande, dividindo a essência, a forma de vida ou mesmo a luta pela vida.

Esse mundo tão complexo de uma mulher, que agarra a vida com todas as suas possibilidades, com pulsão de vida para proteger a sua prole, que, às vezes, parece exagerada, mas é apenas o cuidado retribuído em agradecimento a Pacha Mama que lhe deu tanto e suas sementes seguem em solo fértil.

Falar do Equador é falar de sensações. Meu primeiro momento  na chegada à capital Quito foi cheio de surpresas com seus encantos e beleza, o povo acolhedor que me fez assentar com suas danças, em meios a muitos vulcões ativos, de natureza viva, pulsante, em movimento. 

A sábia cultura indígena, cultuando com o respeito sua exuberante e elegante natureza, explode em cores pelo campo e feiras.

Seus sabores se misturam ao ‘perfume’ das ervas e frutas e à mudança do clima quente e frio, de La mitad del mundo.

A atitude de respeito aos seus ancestrais e com a terra me deixa em silêncio, como quem escuta uma confissão.

Esses valores tão diferentes do meu cotidiano, país de respeito, abrigando o mágico, é algo que verdadeiramente me faz sentido.

Maria de Carmem, mulher equatoriana, dona de um espírito invejável, de uma energia transbordante, dons que lhe permitiram aceitar os desafios que a vida lhe colocou, e também graças ao seu caráter, ela invariavelmente cria uma inter-relação especial com as pessoas.

Como ela afirma: “a minha vida foi muito rica e quero escrever sobre as experiências que Deus me permitiu”. Os seus dias são entre o campo e a cidade, onde sempre encontra tempo para escrever, para assumir a vida e os seus acontecimentos que, por momentos, parecem incompreensíveis.

A arte dos encontros com Maria del Carmen permitiu-me  fazer conexões tão sensíveis: a poesia, que a vida vale a pena, a profundidade das palavras que se fundem  às belezas da alma, com sua luz e sombra. Essa é a minha tradução do Equador.

A lua cheia de agosto realizou meu pedido!!

Viva a Vida! 

André Luiz Lima

Londrinense, ator, diretor, professor, palestrante e produtor cultural