Meu extraordinário encontro na Grécia

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Por André Luiz Lima

A magia está na permissão de viver os sonhos. Sei que não é uma coisa fácil, mas desde que comecei a dividir histórias, desses meus encontros pelo mundo, se realmente nos permitirmos, as coisas acontecem. Como sempre, vou frisar “a arte salva vidas“, me salvando diariamente, permitindo acesso a conhecimentos mais profundos, abrindo canais de percepção, olhares que quebram paradigmas, permitindo-nos a entrar no agora, conectarmos com deuses que encontramos no meio do caminho que nos ajudam na busca da saída do labirinto.

Lembram da lenda de Minotauro da mitologia grega? Nessa história, o herói Teseu foi enviado para a ilha de Creta como sacrifício ao Minotauro, guardião de um labirinto projetado de tal maneira que, quem se aventurasse por ele, não seria capaz de sair e, consequentemente, acabaria devorado por ele. Teseu recebeu a ajuda de Ariadne que, além de lhe dar uma espada para enfrentar o Minotauro, deu-lhe um fio de lã para que ele pudesse encontrar a saída do labirinto na qual ela estaria segurando a outra ponta deste carretel.

Esta é uma das histórias mais famosas da mitologia grega e Teseu, diante da situação em que se viu, pediu e recebeu a ajuda de Ariadne que soube apresentar a proposta do fio que conduziria o herói à saída do labirinto em que se encontrara.

Para falar da Grécia e tentar puxar esse meu fio de lã, vou ter que voltar à Suíça e, para quem não leu minha coluna “Meu extraordinário encontro na Suíça”, deixo aqui a sugestão, pois faz parte desse labirinto de histórias na arte dos encontros, onde juntos vamos buscando saídas. 

Quando morei em Lugano, fiquei amigo da mãe de uma amiga, que sempre me chamou atenção pela elegância na sua forma de viver a vida, aventureira, culta, independente e, no silêncio, conseguia dar requinte às coisas simples da vida, seu poder, para seguir o caminho. Lola Barchi faz parte das mulheres que me abriram portas de vários olhares, de uma cultura tão diversa, seu olhar de proteção me inspirou, me deu pistas para novas possibilidades, com olhos de força misteriosa.

Lola mora na cidade de Bellinzona, capital da Suíça Italiana. Seu primeiro casamento foi com um advogado e político suíço e com ele teve duas filhas, Carola e Petra. Depois da separação, seu segundo casamento foi com Aurelio Galfetti, um grande arquiteto, um homem de uma humanidade e simpatia enormes que tive a sorte de encontrar no meu caminho.

No meu último encontro com Aurélio em um jantar de Natal na sua casa, ele me contou de uma passagem de quando era criança, de uma vida simples, não muito diferentes das histórias que minha avó Eudóxia contava quando eu era criança.

Pois não é que esse menino se tornou brilhante, um dos maiores arquitetos suíços, que descobriu no Brasil um lugar de possibilidades e que, se tivesse na época 50 anos, ele moraria por essas terras. Lio Galfetti faleceu em 2021 e deixo por aqui meu olhar de agradecimento por fazer parte desse meu fio de lã para indicar o caminho dentro do Labirinto.

Voltando a Lola, ela sempre dizia que a vida foi feita para ser vivida, por sinal, a mesma frase da mãe de uma outra amiga do Equador María del Carmen Guarderas, que também já escrevi por aqui e peço que leiam novamente para seguirem as pistas, “Um encontro extraordinário na encantadora Quito”. Enfim, todos fazem parte desse fio. Calma que eu já chego na Grécia.

Aurélio construiu uma linda casa em Paros, uma ilha grega do Mar Egeu central, umas das maiores ilhas do arquipélago das Cíclades e está localizada entre Naxos e Antiparos, no centro da rota marítima, cerca de umas 5 horas desde do porto de Pireus, em Atenas.

A casa Galfetti ou Vila Galfetti em Paros fez parte de várias matérias sobre arquitetura e interiores e também das mais lindas casas na Grécia.

Eu estava em Torino, na Itália, dirigindo um projeto de uma companhia de teatro já fazia alguns meses e precisava voltar para casa. Quando comprei minha passagem, marquei a volta desde Atenas para me forçar a ir visitar Lola, pois já havia muito tempo do convite, a ampulheta se fez presente nessa contínua passagem do tempo e eu precisava correr para seguir as pistas do caminho do meu labirinto. Peguei um voo de Milão a Atenas, cheguei à noite, feliz demais por estar ali.

Atenas é muito fácil de se localizar, basta seguir as setas que você chega no seu destino. Meu hotel era perto da estação de metrô, fui bem recebido, deixei as malas no quarto e fui para o restaurante da cobertura.

Meu Deus, quando cheguei e olhei a vista, fui surpreendido pelo Partenon iluminado no alto da colina, a emoção que senti é a mesma que sinto agora, me vêm lágrimas de agradecimento por esse momento que, pra ser sincero, acho que tudo isso vem da coragem de viver minha própria história.

No outro dia, andei por Atenas e me senti em casa, mas precisava chegar em Paros. Saí do porto de Pireu em Atenas, às 16 horas pela Blue Star Ferries rumo a Paros com paradas em algumas ilhas, pessoas de vários lugares do mundo em um mar de azul espetacular. Assim chego eu, às 21 horas, recepcionado por Lola que me esperava com olhar curioso e feliz em um abraço de seja bem-vindo.

Cheguei na casa Galfetti com toda sua história e magia. Sentamos no pátio com vista para o mar, brindamos o encontro e lembrei da força do sentimento, do pensamento, da entrega e na coragem de simplesmente ser, seguindo seus sonhos, sendo fiel a você mesmo.

Casa Malfeti – Foto: Acervo Pessoal

Tive dias incríveis nos vários cantos, pessoas e sabores desse lugar, mas o que fui buscar na Grécia foi meu encontro com Lola onde ela generosamente me leva para um almoço em um restaurante beira mar, sem muitas pessoas, com polvos secando no varal. Um dia quente, mar azul com uma certa paz, ela me olha e, entre pausas, me oferece em troca um tesouro valioso que têm para retribuir e me fala a frase: “Temos que estar atentos com a vida, André, senão ela nos leva”. 

Penso nisso quase que diariamente: Tenho que estar sempre atento no significado desse tesouro que se encontra no centro do núcleo do nosso ser, incorporar no meu cotidiano, usando a meu favor, desses meus encontros, que na sua arte me indicam a saída do Labirinto. Afinal, todos queremos dominar nosso próprio “Minotauro”.

Galfetti e Lola conseguiram descobrir o caminho dentro dos seus labirintos e por isso tiveram o cuidado de poder indicar o meu. Lembram-se que eu disse que se localizar em Atenas é fácil? Basta apenas seguir as setas do seu coração.

André Luiz Lima

Londrinense, ator, diretor, professor, palestrante e produtor cultural

Fotos: Acervo Pessoal

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Respostas de 4

  1. Me arrepiei inteira lendo mais esse texto do André. Ele faz parte da meu percurso em relação a encontros e a magia dos mesmos
    Na arte dos nossos encontros o André me Salvou e me deu o novelo para percorrer meu Caminho. Sou muito Grata a ele e seu arsenal de inspiração. Somos atores . E sabemos o poder da arte de nos salvar do precipício
    Eu nunca disse isso para este irmão que a vida me emprestou mas posso dizer com certeza que o amo. Não porque me ajudou a sair do labirinto me dando a mão enquanto eu estava distraida cortando a lã ou desfazendo os nós do novelo na incessante vontade de encontrar o caminho mais relevante, mas Sim pq vc teve paciência na minha limitação e caminhou comigo e ainda caminhará incondicionalmente.
    Obrigada André por colorir nossos domingos com esses textos cheio de cultura, história e inspiração. Um forte abraço

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