Por Telma Elorza
“Você vai arder no fogo do inferno com esta coluna nojenta, por estimular a putaria e as perversões. Deus há de castigá-la eternamente por ajudar estes transviados e dar apoio à outras putas como você, que só pensam em prazer. Nada daqui é normal. As famílias cristãs estão sendo afrontadas por essa página vulgar e abjeta. O que puder fazer para tirar esta página do ar, vou fazer”.
Esse é só um trechinho de um e-mail que recebi esta semana (corrigi o português porque, né, ninguém merece ler tanta baboseira escrita errada). Felizmente, e-mails deste tipo são raros e eu dou risada. A menos que este ser tão corajoso que nem se identificou faça alguma coisa de concreto para tirar a coluna Tia Telma Responde do ar, nem esquento. Se vier com pedras, com pedras será respondido, via judicial. Por enquanto, vou rir porque é melhor que chorar ao ver que tem gente tão pobre de intelecto e de espírito.
Eu acho um saco quando religiões – qualquer que ela seja – se metem nas vidas pessoais dos seus fiéis. E não há nada mais pessoal que sexo. Por que uma religião tem que se meter numa coisa tão mundana quanto o prazer sexual? Isso só diz respeito à pessoa e seu parceiro (ou parceiros). Vão estimular o (bom) caráter, as boas ações, o amor ao próximo, a caridade e a fraternidade do que se meter onde ninguém quer. Que vão lutar contra o racismo, a pobreza, a desigualdade de oportunidades. Que sejam como Jesus, de boas.
Mas não, tem sempre um fanático querendo controlar como o outro vive, como se relaciona, como interage no mundo.
Será que estes seres não pensam que Deus pode querer nos ver felizes, seja de que maneira for?
Clitóris: única função é dar prazer
Afinal, foi Deus que nos deu o prazer sexual. E digo mais. Deus queria que as mulheres fossem ainda mais felizes e tivesse altos orgasmos, às vezes múltiplos. Ele nos presenteou com um órgão que tem a exclusiva função de nos dar prazer, o clitóris. O clitóris não serve para mais nada, não tem outra função orgânica e é, por baixo, 10 vezes mais sensível que o pênis. Aliás, o pênis tem como uma das funções principais fazer o homem eliminar a urina. Ele pode brochar sempre, mas vai continuar urinando por ali (a menos, claro, que tenha alguma doença). E, se o ser que escreveu esse e-mail não sabe, eu digo: as mulheres mijam por outro buraco, chamado uretra. A vagina não se mistura com xixi. E o clitóris segue lá, glorioso, sem mais nada para fazer além de nos dar orgasmos.
Se Deus quisesse que abdicássemos do prazer, porque Ele nos daria este presente tão maravilhoso? Era mais fácil criar o corpo humano sem o clitóris ou sem pênis. Reprodução poderia ser assexuada assim como acontece com alguns protozoários (o ser humano se dividiria e criaria uma cópia de si mesmo) ou como as plantas e flores, através de esporos e pólens, por exemplo. Ou até como peixes, que lançam seus gametas na água. Mas não.
Deus quis que fizessemos sexo. SEXO. S-E-X-O. Que homem e mulher (ou homem e homem e mulher com mulher) se juntassem pelados numa cama, sofá, chão, piscina, dentro de um carro, na praia, no campo ou numa casinha de sapé.
“Ai, mas Deus é contra abominações como homossexualidade!”. Quem disse? ELE apareceu pessoalmente para você e disse isso na sua cara? Não, né? A Bíblia foi escrita por homens e, só por esse fato, já me faz ter certeza que andaram mudando algumas coisinhas por ali, nos ensinamentos Dele. Além disso, se Deus fosse realmente contra a homossexualidade, por que existem animais que transam com outros do mesmo sexo? Estudos científicos já apontaram mais 1500 espécies com comportamento homossexual, desde insetos até mamiferos. Quem corrompeu os animais na natureza?
Enfim, chega. Eu tenho mais o que fazer e acredito que o autor do e-mail não. Ele só deve ter prazer cuidando da vida do outro.
Tem dúvidas sobre sexo? Mande sua pergunta para telma@olondrinense.com.br
Quem é Tia Telma?
Jornalista, divorciada, xereta por natureza e que sempre se interessou muito por sexo. Com a vida, aprendeu várias coisas, mas a principal é que sexo é uma coisa natural e deve ser sempre prazeroso.
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